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Little Nightmares III

A série Little Nightmares sempre soube como transformar o medo em algo fascinante. Inspirando-se em jogos como Limbo e combinando aventura e exploração com tons sombrios e cenários opressivos, a franquia deu voz a protagonistas improváveis enquanto os jogadores enfrentavam momentos de tensão genuína, explorando o desejo humano de superar obstáculos, por mais assustadores que fossem. Little Nightmares II parecia o fechamento perfeito para a série, uma forma de brincar com a percepção do jogador sobre a história e questionar cada ação anterior. Agora, com a Tarsier se despedindo desse universo, a Supermassive Games assume a construção desse mundo, tentando manter viva a essência da franquia.

A versão dessa análise é a de Switch 2 que foi cedida para nós pela publicadora.

Do ponto de vista visual, Little Nightmares III é uma evolução natural desse universo sombrio. A Supermassive adicionou seu próprio toque, mas em alguns momentos parece segurar a experiência, o que limita o impacto do jogo como um todo.

Os personagens tem um visual muito marcante, mesmo de costas!

O jogo começa apresentando dois amigos, Low e Alone. O jogador pode escolher qual controlar. Low utiliza arco e flecha, enquanto Alone carrega uma chave inglesa. Essas ferramentas se mostram úteis ao longo da aventura, mas sua inclusão representa uma mudança significativa para a série. Apesar de parecerem instrumentos de combate, sua função principal está na resolução de enigmas. Curiosamente, em certos momentos, chega a ser fácil esquecer da chave inglesa, levantando dúvidas sobre sua real importância. Para algo tão destacado, poderia ter sido melhor aproveitado. Na maior parte do tempo, você usará a chave para destruir obstáculos e o arco e flecha para acertar alvos evidentes.

Os efeitos de chuva são bem bacanas e ajudam a criar uma atmosfera sombria.

A relação entre Low e Alone tem potencial para ser mais profunda do que inicialmente parece, mas há poucos momentos que realmente exploram isso. Havia espaço para cenas mais silenciosas, como eles sentados em um banco, brincando, observando papéis espalhados ou até mesmo colorindo juntos. A maior parte da conexão entre os personagens é mostrada por meio de flashbacks, o que representa uma oportunidade perdida, principalmente considerando a importância que a relação teve em Little Nightmares II.

A história coloca os personagens em uma realidade estranha chamada The Nowhere, existente atrás de espelhos. As regras desse mundo não são totalmente explicadas, e há pouca diferença entre o mundo real dos protagonistas e o pesadelo de The Nowhere. É fácil imaginar algo na linha de James e o Pêssego Gigante, e por isso certos furos de roteiro acabam passando despercebidos. Apesar do potencial, a conclusão não é tão impactante quanto poderia ser. Em determinado ponto, após terminar uma fase e atravessar uma porta, a tela escurece, e de repente você se vê enfrentando o chefe final. Após cerca de seis a oito horas de jogo, os créditos rolam, e descobre-se que dois capítulos adicionais estão bloqueados atrás de um Expansion Pass. Não que esses capítulos resolvessem todos os problemas da história, mas o final abrupto deixa a sensação de que o jogo poderia ter sido maior, e essa “parte extra” tem custo adicional.

Quando você perceber a estátua de pato no fundo, fica difícil tirar os olhos.

Embora essa crítica possa parecer severa, ela reflete a maneira como o mundo foi construído. Os jogos anteriores terminavam naturalmente, deixando espaço para que uma nova equipe definisse os próximos passos. Little Nightmares III tinha a oportunidade perfeita de explorar novas formas de narrativa, sistemas e expectativas para o futuro. No entanto, o jogo se apoia em elementos já consolidados da série, e algumas ideias novas acabam sendo ofuscadas pelo design já brilhante dos mundos anteriores.

A experiência visual é cinematográfica. Cada área parece feita à mão, convidando o jogador a explorar cada canto e interagir com os elementos do cenário. Infelizmente, muitas dessas interações foram simplificadas. Um exemplo é uma sala com um gangorra, que poderia ter sido um momento opcional de conexão entre os personagens, mas permanece estática. É frustrante ver ambientes tão detalhados sem a possibilidade de interagir plenamente com eles.

Um pouco de luz sempre é bom.

Por outro lado, os elementos de horror se destacam nos momentos de stealth e nos enigmas. A Supermassive entende como criar tensão. Algumas sequências são hipnotizantes, como se você estivesse assistindo a um pesadelo perfeitamente coreografado, apenas para morrer e voltar à realidade. A iluminação e o uso de sombras são impressionantes, principalmente nas cenas com a lanterna, reforçando a atmosfera assustadora. O design de som acompanha tudo, criando tensão quase em nível ASMR, aumentando a imersão. O único ponto que quebra a sensação é quando o jogador fica preso tentando descobrir como avançar.

Os enigmas são bem estruturados e raramente permitem experimentação. Muitas vezes, surge a sensação de que o jogo poderia permitir pensar “e se eu tentasse de outra forma?”, mas geralmente há apenas uma solução clara. O multiplayer poderia ter sido uma forma de flexibilizar essa rigidez, incentivando os jogadores a se separarem e experimentarem, mas isso quase nunca acontece. É recomendado jogar inicialmente sozinho, já que o tom do jogo atinge seu máximo efeito quando se está só, tornando a experiência mais intensa e o ritmo mais equilibrado.

Trocando uma ideia.

O resultado final deixa sensações conflitantes. Little Nightmares III consegue recriar o que tornou a série atraente: design assustador, tom sombrio e curiosidade opressiva, mas tem dificuldades para definir sua própria identidade. Cada elemento parece à beira da grandiosidade, mas sem alcançá-la completamente. Há beleza na contenção, mas também frustração, principalmente porque o mundo merece ir mais além. A Supermassive demonstrou que consegue lidar com o tom e a apresentação de Little Nightmares, mas parece ainda guardar algo para o futuro.

Veredito

Little Nightmares III oferece uma experiência visualmente impressionante e rica em atmosfera, fiel às raízes sombrias da franquia. Apesar disso, luta para construir uma identidade própria marcante. A Supermassive Games captura o tom assustador e os ambientes cuidadosamente elaborados, mas o jogo tropeça em ritmo, profundidade emocional e clareza narrativa. Apesar de seu potencial, a jornada por The Nowhere se mostra limitada, deixando os jogadores ao mesmo tempo intrigados e levemente frustrados ao final.

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