Ruiner é um game de ação em visão isométrica com a temática cyberpunk desenvolvido pela Reikon Games e distribuído pela gloriosa Devolver Digital, disponível para PC, PS4 e Xbox One.
Não é a primeira vez que faço a análise de um game de ação desenfreada em visão isométrica. Geralmente games assim não me agradam muito, mas não é o caso de Ruiner que é um jogo que com certeza vou comentar na roda com os amigos eventualmente.
Fui preparado para uma premissa simples, um game sem enredo, nenhum personagem… Fiquei feliz de estar enganado. Seu irmão está raptado, seu cérebro foi hackeado e a cidade está infestada de gente querendo te matar. Uma mulher misteriosa vai te guiar na cidade de Rengkok em 2091 para descobrir o que aconteceu e como juntos vocês podem salvar seu irmão.
O jogo não tem um enredo simplista e não economiza personagens e linhas de diálogos interessantes, o que para o gênero é uma grata surpresa ter algo tão bem estabelecido e ambientado. Os personagens são todos muito bem caracterizados, com aparência, modo de falar e importância, tudo muito próprio e original. A temática cyberpunk não é saturada e dá vasão a muita criatividade e Ruiner tem isso de sobra.
O jogo poderia se contentar e parar ai que estaria de bom tamanho com personagens, a cidade e as linhas de diálogos sendo suficientes para te prender. Mas Ruiner ainda te da opções de interação ao escolher como responder. Sendo simples e direto ou sarcástico? Vai concordar ou mandar o cara ir a merda? O impacto disso não é inexistente, mas não espere um game que seja movido a isso ou tenha duzentos finais. É mais uma perfumaria interessante do que um guia de gameplay, mas é bastante divertido.
O gameplay ocorre de mesmo modo e a primeira vista parece simples e direto mas ao decorrer da jogada percebemos mecânicas muito bem implementadas e pensadas. Você bate com armas corpo a corpo, atira com armas de longa distância, dá um dash para esquivar dos projéteis e alcançar os inimigos que estão mais longe, tem uma gama de habilidades especiais que vão desde ataques poderosos a escudos protetores, tudo isso regado a muita violência visual e uma dificuldade elevada.
O game funciona em cenários, cada um com um objetivo bem claro. Nesse cenários hordas de inimigos virão com seu arsenal próprio e uma apresentação maravilhosa de quem eles são e o que fazem. Após isso é pancadaria sem limites. O personagem possui uma barra de vida e uma barra de energia e as duas são extremamente escassas mas facilmente recuperadas. Os inimigos deixam barras para enche-las e espalhados pelo cenário você encontra locais para se recuperar. Mas não se engane, enquanto você estiver enfrentando uma horda, será difícil encher tanto a vida quanto a energia. Como você irá administrar isso, gastar seus dashs, seu escudo, a munição das armas que você coletar dos inimigos, é crucial pois o jogo é extremamente punitivo com quem gosta só de sair apertando qualquer botão igual um louco.
O combate é dinâmico, incentiva kills consecutivos, extremamente punitivo e muito divertido. Pense num Hotline Miami estilão cyberpunk. O game vai te forçar a usar suas habilidades variando-as, pois ficar na mesma estratégia não vai funcionar com todos os inimigos. Alguns irão vir de arma de fogo e o dash é a melhor opção, outros virão de ataques corpo a corpo talvez você queira enfrentar com armas de fogo ou bombas. São necessários reflexos rápidos e as hordas de inimigo exigem que você gaste tudo que tem. Ruiner vai te punir legal se você não aprender e aproveitar as mecânicas e tudo que tem. Sofri mesmo na dificuldade normal do game, morrendo diversas vezes nos trechos iniciais.
Outro ponto extremamente positivo é a ambientação com uma cidade tão viva, pessoas jogadas na sarjeta, as brigas no meio da rua, os bares e boates lotadas e tudo com uma personalidade cativante. Em alguns momentos me senti em uma cidade clássica de Bladerunner, outros vi conceitos novos interessantes que lembram Shadowrun. Os desenvolvedores deram importância para algo orgânico que aparente estar ali independente de você e a trilha sonora ajuda muito nesse quesito, seja na hora de explorar o mundo ou nos combates. Iremos fazer isso com os ritmos intensos de Sidewalks & Skeletons, Zamilska, Antigone & Francois X, DJ Alina e o magnifico compositor de anime Susumu Hirasawa (Paprika, Millennium Actress).
Até agora tudo perfeito, enredo interessantes, personagens ótimos, ambientação incrível, trilha sonora marcante, vale apontar que o game está inteiro localizado em português, que é mais um ponto extremamente positivo. Mas e ai? Nada de ruim no game?
O maior ponto negativo aqui, e o que pode afetar a experiência de gamers que dão importância para isso são os gráficos. Não há nada de errado com as texturas, as telas e a cidade tem luzes coloridas bem bonitas, uma construção interessante e bem pensada do universo. De bom gosto são também as artes conceituais que aparecessem quando os personagens estão falando, extremamente bem desenhadas e coloridas. Mas a modelagem dos personagens é horrível, seja em cutscenes (que parecem de duas gerações anteriores) ou até mesmo in-game. É de mal gosto, tudo muito genérico e sem vida, sem expressão e personalidade. Toda a personalidade dos personagens é transmitida através das falas e artes conceituais mas quando isso é passado para o gameplay pela modelagem, morre completamente. É algo que sei que muitas pessoas levam em conta e por isso deve ser citado. Se você é graficista talvez se incomode em diversos pontos do game.
Com um gameplay divertido, surpreendente e punitivo, enredo e ambientação incríveis, trilha sonora fantástica e gráficos medianos com bons cenários mas modelos ruins, Ruiner me agradou. É um game que eu não sabia que queria e me divertiu por horas e horas.
Pontos Positivos
- Temática e ambientação interessante
- Enredo e diálogos caprichados
- Jogabilidade punitiva mas divertida
- Localizado em português
Pontos Negativos
- Modelos de personagens deixam a desejar
- Cutscenes fracas pesam contra a apresentação