Análises

Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club

9
Sorriso Colgate

Dizer mais alguma coisa sobre Emio seria prestar um desserviço a todos vocês, pois é um mistério sinuoso e tortuoso que é melhor ser apreciado sem ser revelado. Se você jogou os remakes dos dois primeiros títulos do Famicom Detective Club, terá mais do mesmo aqui, mas com padrões modernos de escrita. Isso, por si só, já torna a experiência muito mais forte, pois a narrativa desse jogo é incrível.

A Nintendo deve ter gostado da recepção que seu remake dos dois primeiros títulos Detective Club obteve quando os lançou no Switch há alguns anos. Agora, décadas depois de esses jogos terem sido lançados pela primeira vez no Famicom, finalmente temos uma nova entrada na série: Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club.

Desde o início, o jogo estabelece seu mistério sombrio. Parece que há um serial killer à solta. Ele (supomos) matou várias meninas há 18 anos, o que deu origem à lenda urbana do “homem sorridente” – ele usa um saco de papel no rosto e se aproxima das meninas que estão chorando. Em seguida, ele as mata e coloca um saco de papel sorridente sobre suas cabeças, levemente macabro, né?

Hoje, um menino foi morto e também teve sua cabeça enfiada em um saco de papel. Mas será que é o mesmo assassino? Caso seja, por que ele mudou seu gosto por matar para longe das meninas? E por que os sacos de papel? Há muito mistério aqui.

Então, para aqueles que não tiveram o privilégio de ler seu trabalho, Edogawa Ranpo, escritor desse jogo, foi fortemente inspirado pelo trabalho de mistério de Edgar Allan Poe (“Edogawa Ranpo” é um pseudônimo e um derivado japonês de Edgar Allan Poe). Muito de seu trabalho se concentra no uso da dedução para resolver um crime aparentemente impossível e pode ser comparado, de certa forma, à versão ocidental de Arthur Conan Doyle, embora o trabalho de Ranpo tenda a ter um tom mais sobrenatural.

Todas essas qualidades narrativas e temáticas desempenham um papel importante em Emio. Enquanto isso, a “jogabilidade” fica fora do caminho para permitir que você aproveite a narrativa em seus pontos fortes. Todo o jogo se concentra em seguir uma trilha de “migalhas de pão”, escolhendo as coisas certas para dizer, fazendo observações e deduções. Isso é feito por meio de uma interface de menu, que oferece opções como “falar”, “olhar”, “usar o telefone” e assim por diante. É um jogo de aventura point and click bem ao estilo retrô.

Infelizmente, isso significa que há momentos em que você terá que ficar chutando, simplesmente selecionando todas as opções do menu e esperando para ver qual delas fará a narrativa progredir. Os desenvolvedores incluíram uma opção “pensar”, que fará com que o protagonista reflita sobre o caso e lhe dê uma pista sobre o que fazer em seguida. Há também um caderno de anotações com os fatos do caso que vai sendo preenchido com o tempo. Entre esses dois recursos, você ficará preso com menos frequência do que nos jogos anteriores do Famicom Detective Club. Mas isso ainda acontecerá com certa frequência e, graças a deus, trata-se de um visual novel, pois há pouca consequência em simplesmente adivinhar o caminho na base do chute.

A grande vantagem de se tratar de uma nova produção, em vez de um remake de dois títulos de décadas atrás, é que a narrativa avançou significativamente ao longo dos anos e, consequentemente, Emio oferece uma narrativa muito mais profunda e rica. O jogo leva o tempo necessário para refletir sobre a psicologia do assassino, os personagens são mais completos e construídos, e a escrita é mais emocionante do que eficiente.

Essa é uma narrativa muito madura – não é explícita da mesma forma que os títulos de mistério de terror muito adultos como Spirit Hunter (Death Mark & Ng), mas o jogo também não é brusco ao descrever a violência extrema e a psicopatia de um assassino em série. No início, a narrativa sombria parece entrar em conflito com a estética de anime, mas, à medida que o jogo avança, esse contraste começa a funcionar, pois cria uma dissonância visual e temática que ajuda a criar desconforto nos eventos que você está testemunhando.

Esses valores de produção também são excepcionais, com personagens maravilhosamente desenhados, fundos ricamente detalhados e uma quantidade surpreendentemente significativa de animação que ajuda a dar vida ao que é, resumidamente, uma experiência visual novel muito tradicional com muita leitura. O gênero VN raramente recebe esforços de grande orçamento – os jogos da Idea Factory, por exemplo, são lindos, mas estáticos demais e dependem do talento de artistas em vez do orçamento para criar um jogo mais complexo. A Experience Inc faz um trabalho excepcional com Death Mark, mas tem dificuldades financeiras. A Nintendo, por sua vez, tem os recursos para fazer algo dessa série, e a apresentação reflete totalmente as capacidades da empresa.

VEREDITO

Dizer mais alguma coisa sobre Emio seria prestar um desserviço a todos vocês, pois é um mistério sinuoso e tortuoso que é melhor ser apreciado sem ser revelado. Se você jogou os remakes dos dois primeiros títulos do Famicom Detective Club, terá mais do mesmo aqui, mas com padrões modernos de escrita. Isso, por si só, já torna a experiência muito mais forte, pois a narrativa desse jogo é incrível.

David Signorelli
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