Kingdom Hearts III – Análise
Quando iniciei Kingdom Hearts III eu mal acreditava no que estava por acontecer. Uma longa espera que não parecia ter fim chegava a sua conclusão com o tão esperado desfecho da saga de Xehanort e o triste adeus a personagens incríveis. Eis que finalmente o estúdio de Osaka da Square Enix entrega sua obra-prima, não somente um jogo, mas um marco nos jogos de RPG de ação.
Em um jogo tão focado nos “finalmentes”, ele começa de uma forma que faz os fãs da série voltarem para aquele longínquo 2002 quando o Kingdom Hearts original foi lançado para PlayStation 2. Em seu vídeo de abertura somos contemplados com passagens dos jogos anteriores, ao som de uma música fantástica e toda energia necessária para mais uma vez estar com Sora, Donald e Pateta lado a lado. Quem imaginou que unir os universos e personagens da Disney e de Final Fantasy iria resultar em uma das maiores franquias de RPG da atualidade? Foram quase 6 anos de espera e será que valeu a pena? Vamos conferir!
COMEÇOU COM UMA CARTA
Os acontecimentos desse jogo se passam logo depois das aventuras de Sora e Riku em Kingdom Hearts: Dream Drop Distance, onde eles foram submetidos ao Mark of Mastery, um teste para avaliar quem está apto a se tornar um mestre da Keyblade.
Sora, aliado ao cavaleiro Pateta e mago Donald, embarcam em uma nova missão proposta por Yen Sid para recuperar a força perdida de Sora, visto que ele enfraqueceu muito ao sucumbir nos planos de Xehanort em Dream Drop Distance. O trio então parte para o Olimpo em busca em Hércules, um herói já conhecido de outros carnavais pela turma e que supostamente poderia dar uma ajuda a Sora. Evidentemente que o deus do mundo das trevas, Hades, não deixaria a coisa fácil para eles. Com planos de conquistar o cosmos, Hades invoca os quatro Titans para fazer o trabalho sujo e para piorar, Malévola e Bafo-de-Onça aparecem em busca de um artefato chamado Black Box, algo que vindo deles não pode ser coisa boa.
Esse é o ponto de partida da história mais emocionante de todos os jogos da série. Como de praxe, nossos heróis viajam até mundos da Disney, conhecem os personagens a eles pertencentes e nesses mundos acontecem diversos eventos relacionados ao material original ou mesmo algo único.
Só sei que no final da jornada eu tive muita vontade de assistir algumas animações que deixei passar por desinteresse no momento, como Enrolados ou Operação Big Hero (Tangled e Big Hero 6 respectivamente). Kingdom Hearts III conta as histórias de forma tão bem feita que dá vontade de que ele nunca acabe, a química entre os personagens é absolutamente fenomenal e não é à toa que, como Yen Sid falou, Sora é o elo que une à todos, seu positivismo e inocência faz com que o jogador acredite piamente no que é dito por ele, você torce com ele e vibra quando tudo dá certo.
De fato, o que vocês realmente precisam saber é que a história desse jogo é divertidíssima, emocionante e que encerra a saga Xehanort com chave de ouro, quase que literalmente! Nem preciso falar também que é obrigatório conhecimento prévio dos anteriores, caso não tenha jogado algum dos outros jogos ou mesmo este sendo seu primeiro, a Square Enix colocou no menu principal uma opção de ver a toda a história até o presente momento, de uma forma bem resumida, mas muito bem feita.
DE MÃOS DADAS
Então, Kingdom Hearts é basicamente: Você vai para os mundos da Disney, se junta com alguns caras da Disney e bate na cabeça dos bandidos com sua coleção cada vez maior de chaves gigantes. A fórmula básica não mudou desde Kingdom Hearts original. Você ficará feliz em saber, no entanto, que existem algumas outras coisas que foram alteradas. Porque se literalmente nada tivesse mudado desde Kingdom Hearts 1 … então este jogo seria… outro jogo e não é isso que queremos, certo?
Antes de mais nada lhes digo, este jogo tem o melhor combate da série. Há provavelmente alguns puristas que vão jogar este jogo e então torcer o nariz porque o combate não é exatamente como Kingdom Hearts II, só que ele não é para ser. O que eu realmente gostei no combate do game é que ele manteve todas as coisas que foram ótimas dos jogos anteriores (Form Change de Birth by Sleep e Flowmotion de Dream Drop Distance), se livrou das coisas que eram um pouco chatas (Dream Eaters, alguém?) e adicionou suas próprias coisas novas e legais à mistura, como os movimentos de finalização da Disney World, os Attractions. Fala sério, quem não sonhava em matar monstros com um gigante carrossel ou mesmo um navio pirata?
Outra novidade incrível é a capacidade de atualizar cada uma das suas Keyblades. Em todos os jogos anteriores, praticamente todas as Keyblades do início do jogo rapidamente se tornaram inviáveis para uso em batalha, mas agora com esse novo recurso, a maioria das Keyblades estão em pé de igualdade entre si. E isso é particularmente adorável porque cada uma das armas em Kingdom Hearts III agora se sente muito distinta uma da outra. Cada um tem propriedades únicas, mudanças de forma e movimentos de finalização que o diferenciam de todos os outros, e trocar seus Keyblades em movimento faz Sora parecer o Dante de Devil May Cry.
A outra grande novidade em Kingdom Hearts III é o Gummiphone. Funciona como a nova versão do Jiminy’s Journal dos jogos anteriores, mantendo o controle todo seu progresso. Além disso, também lhe dá a capacidade de tirar fotos … e selfies. Eu realmente me diverti com esse recurso. Eu acho que é porque Sora é tão puro que sua motivação para tirar selfies é desprovida da natureza superficial e egoísta que mancha a mídia social moderna. Sora não se importa com os gostos e segue, ele só quer tirar uma foto com seus meninos Woody e Buzz Lightyear. As fotos também tem outras utilidades como missões dadas por Moogle onde temos que tirar foto da estátua do Hércules, por exemplo.
E gente, os mundos da Disney neste jogo são incríveis. Claro que estou evitando spoilers, então não vou mencionar detalhes, mas os mundos são gigantescos, detalhados e divertidos de se explorar. É uma atualização técnica grande em relação ao segundo jogo da série. É também o único jogo desta série que não tem um único mundo que eu não goste (Ariel, é contigo mesmo). Claro, alguns são melhores que outros, mas é assim que tudo é. Eu diria que cerca de metade dos mundos neste jogo poderia ser facilmente colocado em uma lista dos melhores e mais memoráveis mundos da série.
Para a infelicidade de alguns, o Gummi Ship está de volta e tenho uma notícia para dar para vocês… é MUITO divertido dessa vez! Sem exagero, teve vezes que ficava com preguiça de entrar em um dos mundos para ficar simplesmente explorando o espaço. Agora o Gummi Ship tem movimentos livres e podemos ir para onde quiser, respeitando os limites do cenário e as batalhas são travadas como se fossem RPGs de turno. Quando avistamos um objeto com um símbolo de “Lv” é porque ali tem uma batalha a ser travada e boa parte delas são opcionais, mas são tão divertidas que não vejo porque ignorá-las, fora que é uma boa fonte de itens. A customização da nave continua como nos anteriores, ou seja, dá para brincar de LEGO novamente.
Infelizmente cheguei no ponto que preciso citar o maior defeito do jogo, a sua dificuldade. Joguei ele até o fim no Proud, a dificuldade mais alta disponível, e achei fácil demais. Não consigo nem imaginar como são as outras dificuldades e não é porque sou “experiente” na série. Eu não sou melhor que ninguém e nem de longe sou expert em jogos RPG de ação, agora fico realmente na expectativa que um modo Critical seja adicionado nem que seja por DLC.
Defeitos menores como falta de um mapa geral(está disponível apenas o mini-mapa) e alguns loadings grandes ao reiniciar mini-games estão presentes, coisas que me incomodaram. Espere pelo menos umas 30 horas para terminar e mais umas 15 até conseguir fazer todas as atividades opcionais, por mais que pareça “pouco”, não é. O ritmo de jogo é bem intenso e a jornada tem um tamanho satisfatório que se encaixa bem no que esperado de um RPG.
A OUTRA PROMESSA
Parte técnica de Kingdom Hearts III é algo até complicado de falar, o jogo é muito bonito e com certeza um dos que melhor usa os recursos da Unreal Engine 4 nessa geração. A questão é a disparidade entre os mundos, uns são bem cartunescos como de Enrolados e outros já pegam mais pro lado realista total como Piratas do Caribe.
Independente de qual seja, todos são lindos e parece que finalmente chegamos próximo de estar jogando uma animação da Pixar. Lembro quando existia a discussão entre meus amigos de quando iriamos ter um “Toy Story” jogável, Kingdom Hearts III literalmente entregou isso de bandeja para nós.
Sendo um jogo da Square Enix é esperado que tenha muitas animações não-interativas e aqui não é diferente, são quase 9 horas de “filme” e curiosamente alguns deles são em CGI, algo que nos outros jogos tinham apenas na cena de abertura. Pode ter certeza que quando aparecer uma delas na sua frente irás ficar de queixo caído, a qualidade delas é fenomenal.
Não menos importante, a trilha sonora mantém o excelente nível da série com faixas inesquecíveis como Face My Fears da já conhecida Utada Hikaru, a nova versão de Dearly Beloved que está ainda mais linda, música do estágio de Enrolados e Toy Story. Na minha opiniãoela ainda perde para a trilha de Birth by Sleep e fica no nível da do segundo jogo, mas de qualquer maneira é incrível.
A dublagem conta com boa parte dos atores e atrizes originais de seus trabalhos como personagens do mundo Disney e o resto do elenco já conhecido retorna. O dublador de Sora, Haley Joel Osment (O Sexto Sentido, 1999), continua com um excelente trabalho apesar de ter envelhecido bastante, afinal o tempo não parou para nós mortais. Única dublagem que achei bem meia boca foi da Elizabeth Swan de Piratas do Caribe, pareceu bem sem empolgação, atuação esquisita que destoou dos demais.
ENFRENTE MEUS MEDOS
A espera valeu a pena? Sim e como. Jogos como Kingdom Hearts III me fazem lembrar do porquê eu amo tanto videogames. Ele faz você mergulhar em universos fantásticos e ter experiências que jamais serão esquecidas. A Square Enix conseguiu entregar talvez o melhor RPG de ação de todos os tempos e que estará para sempre nos corações dos jogadores.
Pros
- Quase um filme da Pixar jogável, um espetáculo visual
- Um dos melhores sistemas de combate já vistos num videogame
- Músicas perfeitas
Contras
- Loadings um pouco grandes
- Falta de um mapa geral
- Dificuldade muito baixa, subestimaram os jogadores
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