Análises

Metaphor: ReFantazio

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A FANTASIA CONTINUA VIVA

Metaphor: ReFantazio não é apenas um jogo de JRPG clássico com mecânicas familiares; é uma experiência imersiva que mistura fantasia com estratégias modernas e um mundo incrivelmente detalhado. Se você é fã do gênero, este jogo é um título imperdível. Com sua história envolvente, personagens cativantes, sistema de combate refinado e um mundo tão vasto quanto misterioso, ele se destaca como um dos grandes lançamentos de 2024.

2024 é o ano da Atlus para JRPGs: Persona 3: Reload, Shin Megami Tensei V: Vengeance e agora Metaphor: ReFantazio. Isso forma uma trindade sagrada de lançamentos em um único ano.

E se há algo a ser dito, é que esse último título enfrentou a tarefa mais difícil, já que teve que seguir dois dos maiores lançamentos do ano, ao mesmo tempo em que precisava provar que podia se destacar entre eles. Eu ousaria dizer que é o melhor dos três, de fato fiquei muito impressionado com este jogo. O Studio Zero, um braço criativo liderado por ex-devs de jogos como Persona 5, mostrou que ainda tem o toque mágico, e tudo o que posso dizer é: Bravo!

Grand Trad é a primeira cidade que você irá visitar.

Fui afortunado o suficiente para receber um código de Metaphor: ReFantazio para PlayStation 5. Quero agradecer à SEGA por fornecê-lo. Como muitos de vocês já sabem, o jogo foi lançado para Xbox, PlayStation e PC, então não perca a oportunidade de jogar. E digo isso porque, desde o momento da instalação, não consegui me afastar dele. Esses são os lançamentos pelos quais esperamos. Esses são os que fazem toda a paciência valer a pena. Digo logo de cara: Metaphor: ReFantazio vale cada centavo. É um JRPG obrigatório de 2024 e, muito provavelmente, estará em várias listas de Top 10 no final do ano, incluindo a minha. Nesta análise, vou te contar exatamente por que ele merece tantos elogios.

Metaphor: ReFantazio se passa no Reino Unido de Euchronia, um território em caos após o assassinato do rei, sem um herdeiro para assumir o trono. Assim, o novo rei será escolhido pelo povo, e vários candidatos saem em uma jornada para ganhar a aclamaçãod a população, incluindo nosso protagonista. Não quero entrar muito nos detalhes da história, já que você só pode vivê-la uma vez(meio exagerado, né?), mas posso dizer que gostei muito. A mensagem é clara, explorada de várias maneiras, com a política interna e os conflitos bem definidos. Tudo flui muito bem para o meu gosto, sem grandes problemas nesse aspecto.

O escopo de alguma das localidades impressiona, a cidade de Grand Trad parece gigante vista de cima.

Eu também preciso destacar a construção do mundo. Para mim, é aí que o jogo supera seus contemporâneos. Se você me desse a escolha entre a Tóquio moderna, a Tóquio apocalíptica ou o Reino Unido de Euchronia, eu escolheria Euchronia nove em cada dez vezes. Não é só porque compartilha meu gosto pelo Reino Unido, mas também porque é refrescante jogar em um cenário de fantasia medieval real, especialmente um tão bem elaborado quanto este. O jogo possui um extenso compêndio de termos que se atualiza gradualmente, com locais muito bem realizados, e tudo isso é unido por uma direção de arte soberba, tanto nas cutscenes dentro do jogo quanto nas animadas. Ele usa o mesmo motor gráfico de Persona 5, que pode parecer um pouco ultrapassado agora, admito, mas não há dúvida de que Metaphor captura o sentimento fantástico. Você verá efeitos de partículas mágicos nos ambientes, e as próprias localidades parecem de outro mundo.

O jogo está recheado de cenas em anime.

Uma das coisas mais legais do jogo é o Gauntlet Runner que é basicamente seu transporte de uma área para outra, mas a intriga está no fato de que você não simplesmente viaja rápido de um ponto ao outro. Você pode fazer uma viagem rápida, mas apenas para as cidades principais que já visitou antes. Para sua primeira visita, você deve fazer a jornada no Gauntlet Runner. Isso pode levar de um a quatro dias, e você simplesmente passa esse tempo fazendo outras coisas enquanto espera chegar ao seu destino. Eu estava apreensivo quando ouvi falar sobre isso pela primeira vez, mas é uma mecânica bem realizada. Não só dá a você tempo de inatividade para melhorar os parâmetros do seu personagem, divididos em cinco áreas diferentes no jogo, mas também lhe dá tempo para preparar itens de comida, aprofundar laços com seguidores e assim por diante. Sem dúvida, minha parte favorita foi observar a paisagem mudando gradualmente de um dia para o outro.

Algumas masmorras são incríveis, mas a maioria é bem genérica.

Por exemplo, você começa em uma floresta, mas eventualmente acaba em pântanos antes de chegar a um porto mais ao sul. Isso dá vida ao mundo, e ainda melhor é que, às vezes, você pode sair do Runner para admirar uma das muitas vistas espetaculares da terra. Você não pode realmente entrar nelas; é basicamente uma imagem pré-renderizada e nada mais, mas elas têm algo mágico, um sentimento que eu não consigo descrever em palavras. São pequenos momentos como esses que permitem que o mundo de Metaphor ReFantazio ganhe vida. A importância é dada à construção do mundo tanto quanto à história e à jogabilidade. É realmente bom. O mesmo pode ser dito sobre os personagens também – um ótimo elenco no geral.

Uma coisa que realmente me impressionou foi a química entre o grupo. Houve esforços reais para fazê-los parecer uma equipe, e o diálogo é forte em relação a isso. Eu não diria que eles caem em clichês, mas eles têm características claras que são exploradas conforme a história avança. As histórias desses personagens são contadas por meio de arcos específicos ligados a cada um deles, relacionados ao nível de vínculo com o seguidor. Assim como em Persona, você pode conversar com os personagens para aumentar seu vínculo, e quanto mais você aumentar, melhores serão as recompensas. Por exemplo, alguns permitirão que você cozinhe refeições sem consumir tempo, enquanto outros fornecerão descontos nas lojas ou bônus para recompensas de caça. Se nada mais, eles certamente valem a pena perseguir pelos Arquétipos que desbloqueiam mais tarde.

Algumas das cutscenes do jogo rola com gráficos em tempo real.

Agora, os Arquétipos são a manifestação da força dos espíritos heroicos que os personagens podem invocar para exercer sua vontade. Eles são divididos em várias classes e todos aprendem uma gama de habilidades conforme sobem de nível. Este é mais um paralelo com Shin Megami Tensei ou Persona, sem dúvida. Qualquer pessoa que já jogou um jogo da série Megaten verá a familiaridade. Cada Arquétipo tem fraquezas elementais, você pode invocar uma ampla gama deles, e todos eles herdam habilidades. Mesmo assim, este é um daqueles casos em que Metaphor ReFantazio tem raízes na familiaridade, mas ao mesmo tempo se mantém firme por si só.

Um dos grandes atrativos deste jogo é que todo personagem pode usar qualquer Arquétipo. O único limite para este sistema é a imaginação do jogador. Isso dá a você um verdadeiro sandbox de personalização para construir cada personagem da forma que desejar. A única concessão é que você não pode escolher os pontos de habilidade dos seguidores, apenas do protagonista. Mas, fora isso, você tem controle total, e é maravilhoso. Periodicamente, você receberá missões que apontarão para um Arquétipo específico, ou receberá dicas dizendo quais Arquétipos seriam mais úteis em uma masmorra particular. Claro, você não precisa seguir isso; pode fazer as coisas do jeito que quiser, mas ter um equilíbrio de Arquétipos que se complementam e enriquecê-los com uma série de habilidades herdadas de outros Arquétipos só faz a jogabilidade fluir. Especialmente quando você tem que considerar o equilíbrio da equipe como um todo.

Até a tela de Level Up é estilosa.

Nem tudo é bom, claro. Eu diria que trocar de Arquétipos pode ser um incômodo. Você tem que entrar em um dos submenus para fazer isso. Eu gostaria de algo mais ágil considerando quantas vezes você vai fazer isso, mas é apenas uma pequena concessão. Nesse mesmo sentido, também direi que equipar itens pode ser uma tarefa chata. Por exemplo, um acessório em sua mochila dirá quantos você tem e quantos estão equipados em outros personagens, mas não informa quem está usando a menos que você tente removê-lo. Apenas ter os retratos dos personagens ao lado do item seria um benefício visual para tornar isso mais fácil de gerenciar. Mas, novamente, é uma pequena concessão e você se acostuma com isso.

Agora, voltando à jogabilidade, a estrutura de Metaphor claramente emprestou de Persona. Na verdade, essa é uma das razões pelas quais demorei um pouco para me apegar a este jogo. Eu posso estar elogiando-o agora, mas não foi tanto nas primeiras cinco horas ou algo assim. Parecia muito familiar. Ele opera em um sistema de calendário, e você geralmente tem um número limitado de dias para completar sua tarefa principal. Isso normalmente envolve entrar em algum tipo de masmorra para avançar na trama, mas, antes disso, você tem tempo para fazer missões secundárias, conversar com seguidores e estocar itens. Cada dia tem uma estrutura onde você pode fazer algo de dia e algo à noite antes que o calendário avance. E total liberdade é dada ao jogador para escolher o que deseja perseguir.

Com certeza esse é um dos RPGs mais macabros que joguei na vida.

Na superfície, parece o mesmo, mas quando comecei a me aprofundar no que o jogo realmente oferecia, ele se destacou por conta própria, e quanto mais eu jogava, mais eu me apaixonava. Metaphor ReFantazio é um jogo que se orgulha de preparação e previsão. Um dos mecânicas mais importantes neste jogo é o Informante. À medida que você descobre novas terras ao redor do centro principal, o Informante vende informações sobre os inimigos que você pode enfrentar em uma masmorra ou itens especiais que só podem ser encontrados em uma região. Os chefes, em particular, são um destaque, pois as informações dadas podem dizer, por exemplo, para matar os inimigos ao mesmo tempo ou eles reaparecerão naturalmente. Você pode ir às cegas, se realmente quiser, mas a opção está lá se preferir ter esse conhecimento antecipadamente.

Olha só a fadinha descansando no ombro do personagem principal!

Outra mecânica interessante é o clima. Há meteorologistas nas cidades principais que te dirão como estará o clima até três dias no futuro. O clima é importante porque define quão fortes serão os inimigos. Em chuva ou tempestade, eles serão mais fortes e você não poderá usar o Press Turn. Em tempo seco ou ensolarado, eles operam normalmente. Assim, se quiser um tempo mais fácil, planeje em torno do bom tempo, mas, se quiser um desafio e ganhar mais experiência, siga pelo outro caminho – risco e recompensa em sua essência.

Não é só isso, certos dias têm itens em promoção, então esse é um bom momento para estocar itens, comprar equipamentos e assim por diante. É tudo muito bom na preparação para as seções de exploração de masmorra. Quando você finalmente decidir enfrentar uma masmorra, será confrontado com uma abordagem de combate híbrida. Você tem um modo focado em ação, onde pode esquivar e bater nos inimigos até quebrar sua postura, e então entrar no modo de equipe, que é seu tradicional combate por turnos. O modo por turnos claramente compõe a maior parte da jogabilidade, mas como um pacote, é fantástico e nunca me entediei durante toda a minha jogada.

O estilo de combate Press Turn se foca em fraquezas, e você ganha outra chance de atacar. Você já deve ter visto isso antes se jogou um jogo da série Megaten. Dito isso, inimigos podem acabar com você se não estiver preparado, de novo, como em qualquer outro jogo da série, mas quem se importa? Esse estilo de combate é fantástico, sempre foi. É rápido, depende muito da destreza do jogador e nunca envelhece, não importa quantas horas você jogue. Ainda assim, Metaphor ReFantazio tem uma mecânica própria muito legal, que são as habilidades de síntese. Isso ocorre quando dois Arquétipos se unem para liberar uma habilidade única. Embora sejam poderosas, não podem ser usadas à toa, pois não só consomem dois turnos, mas também o MP de ambos os personagens envolvidos. Portanto, você deve usar com moderação ou pode se encontrar em desvantagem nas fases posteriores.

Os personagens não param de falar nem quando você tá controlando o personagem.

As habilidades de síntese são realmente legais, pois cada Arquétipo terá sua própria lista de opções, mas só podem ser usadas quando combinadas com uma certa linhagem. Por exemplo, os cavaleiros só podem usar sua habilidade de perfuração de alto dano quando há um guerreiro na equipe com eles. Isso reforça ainda mais a ideia de personalização e liberdade. Como eu disse, nunca me cansei disso, e também ajuda o fato de que a música é de primeira. Shoji Meguro é simplesmente um mago; ele fez de novo. Se você gostou dos trabalhos anteriores dele, provavelmente vai gostar da trilha sonora deste também.

Assim como os demais jogos da SEGA/ATLUS lançados recentemente, Metaphor: ReFantazio conta com uma excelente localização para o português brasileiro, provavelmente a melhor que vi até agora. Não deixe de conferir mais um RPG em nosso idioma!

VEREDITO

Metaphor: ReFantazio não é apenas um jogo de JRPG clássico com mecânicas familiares; é uma experiência imersiva que mistura fantasia com estratégias modernas e um mundo incrivelmente detalhado. Se você é fã do gênero, este jogo é um título imperdível. Com sua história envolvente, personagens cativantes, sistema de combate refinado e um mundo tão vasto quanto misterioso, ele se destaca como um dos grandes lançamentos de 2024.

David Signorelli