Sempre que um jogo ganha um remake ou remasterização fiel, parte de mim se preocupa em descobrir que um jogo que eu amo não se sustenta mais. É louvável não mudar a visão dos desenvolvedores originais, mas e se essa visão não funcionar tão bem em 2024 quanto quando o jogo foi lançado? Enfim, isso que veremos nessa análise.
Essa preocupação estava no topo da minha mente quando eu inicializei Dead Rising Deluxe Remaster da Capcom, que na verdade é mais um remake do jogo experimental de zumbis de 2006 da empresa. Dead Rising brincou com muitas ideias únicas, como um relógio de 72 horas que marca o tempo toda vez que os jogadores entram em uma nova área do shopping. Há um certo número de sobreviventes para salvar, psicopatas para lutar e objetivos da história principal para completar — e os jogadores têm tempo mínimo para fazer isso.
Fiquei imaginando se isso seria tão envolvente em 2024 quanto foi em 2006. Felizmente, é. Dead Rising Deluxe Remaster é uma delícia de jogar todos esses anos depois. É fiel ao original, apresenta uma narrativa que parece mais relevante do que nunca e ainda distribui momentos tensos por meio de seu sistema de cronômetro. Se você nunca jogou um jogo Dead Rising antes, este é o lugar para começar.
Dead Rising acompanha um fotojornalista chamado Frank West que se esgueira para a cidade de Willamette, no Colorado, que os militares estão começando a bloquear. Acontece que há um surto de zumbis nesta pequena cidade, e Frank tem que sobreviver por 72 horas em um shopping infestado de zumbis enquanto tenta obter informações sobre o que aconteceu aqui. Ele acaba se envolvendo em uma conspiração do governo envolvendo zumbis e deve lutar com unhas e dentes para escapar. Ao longo do caminho, ele também luta contra psicopatas que perderam a cabeça e atacam aqueles que encontram no shopping. Além disso, Frank também está escoltando os sobreviventes que encontra de volta ao seu esconderijo seguro. Há muito o que fazer.
Mesmo 16 anos após seu lançamento original, a sátira de Dead Rising ainda tem força. Frank começa como um jornalista dissimulado e tem que aprender a se importar com as pessoas impactadas pelos erros do governo dos Estados Unidos. A origem de seu vírus zumbi está conectada ao consumismo americano, seguindo uma tradição de ficção satírica de zumbis ambientada em shoppings. Os psicopatas que Frank luta têm, em grande parte, histórias de fundo trágicas; eles são americanos de cidades pequenas surtando após um evento traumático, como um soldado com TEPT(Transtorno de Estresse Pós-Traumático) ou uma família ou um pai usando isso como uma oportunidade para forçar seus filhos a caçar qualquer um que eles vejam.
Embora não seja o melhor em lidar com a saúde mental e muitas vezes seja mais uma humor negro do que uma narrativa de terror, Dead Rising Deluxe Remaster ainda faz um ótimo trabalho em dar aos jogadores espaço para ter empatia ou se sentir mal pela maioria dos personagens que Frank encontra. Como as melhores histórias de zumbis, isso é mais sobre os sistemas que criaram tal surto e como isso afeta os indivíduos, não apenas os zumbis em si.
Jogando Dead Rising Deluxe Remaster, lembrei-me de quão bom esse jogo é em criar momentos memoráveis e emergentes. Pense em Dragon’s Dogma 2, mas com zumbis em vez de dragões. O limite de tempo de 72 horas significa que cada ação que os jogadores tomam deve ser intencional, mas Frank sempre precisa juntar algum tipo de arma com o que ele encontra no shopping. Às vezes, é pegar uma caixa registradora em uma loja e jogá-la em zumbis; outras vezes, é pegar uma pistola depois de matar um policial zumbi do shopping.
No começo, Dead Rising força os jogadores a se familiarizarem intimamente com o shopping e com os tipos de armas ou itens de cura que cada loja pode fornecer. Então, ele deixa os jogadores livres para usar tudo isso como acharem melhor enquanto completam o objetivo principal da história e tentam salvar o máximo de sobreviventes possível.
Foi catártico quando descobri um carro e comecei a atropelar muitos zumbis com ele. Fiquei estressado quando escoltei um grupo de três sobreviventes por uma horda de zumbis sem muitos itens ou armas comigo. E Dead Rising Deluxe Remaster é engraçado em alguns momentos também, como aquele em que acidentalmente matei um sobrevivente ao acertá-lo com uma marreta destinada ao zumbi ao lado dele.
Momentos como esse são o motivo pelo qual os jogadores se apaixonaram pelo Dead Rising original , e o Deluxe Remaster não faz nada para estragar isso. Sim, as lutas contra chefes do Psychopath não têm o floreio visual dos jogos modernos, e é possível ficar preso em alguns loops de bloqueio de atordoamento se você não tomar cuidado. Mas isso faz parte do charme do jogo e pode criar momentos que parecem únicos para sua jogada.
O Dead Rising original estava à frente de seu tempo em muitos aspectos; seu estilo de gameplay emergente é mais prevalente em 2024 do que em 2006. A disposição do jogo em deixar os jogadores reiniciarem a aventura a qualquer momento com as estatísticas de Frank como elas estão o torna uma espécie de pseudo-roguelike. Dead Rising Deluxe Remaster entende e respeita tudo isso, então, para um remake, ele só toca o cerne do jogo de algumas maneiras.
Primeiro, houve uma reformulação gráfica de toda a experiência. Dead Rising já tinha uma direção de arte fantástica, então Deluxe Remaster aprimora as cores vibrantes e grandes hordas de zumbis que tornaram o original impressionante em uma fidelidade mais alta e taxa de quadros estável. Não espere uma reformulação como o remake de Dead Space de 2023 , mas Deluxe Remaster geralmente parece bom para um jogo AAA de 2024, além de alguma sincronização labial ruim.
O novo design e dublador de Frank provaram ser divisivos, mas estou bem com eles. Jas Patrick faz um ótimo trabalho capturando o espírito do personagem, e o novo visual dá a ele uma vantagem mais rude. Mais importante, Deluxe Remaster faz duas grandes melhorias de jogabilidade: salvamento automático e capacidade de se mover enquanto atira. Alguns podem argumentar que o primeiro quebra o quão punitiva é a restrição de tempo na aventura, mas para mim, seu maior uso foi reaparecer no início de uma luta com psicopatas em vez de ter que caminhar até eles novamente. Você também pode avançar o tempo no esconderijo de Frank, o que corta alguns dos tempos de inatividade se você quiser apenas ver a história principal.
Ser capaz de se mover e atirar é melhor do que não ser capaz de fazer isso. Deluxe Remaster ainda é bem difícil, então não há necessidade de se preocupar com esses sistemas tornando o jogo mais fácil. Na verdade, Deluxe Remaster não se arrisca muito. Eu adoraria ver algumas cutscenes adicionais ou contexto para dar corpo a alguns de seus momentos narrativos mais desajeitados. A apresentação de suas lutas de psicopatas poderia ter sido mais enfeitada, pois elas não têm o talento ou o maior valor de produção que espero de jogos em 2024.
Algo que não posso deixar de mencionar é a fantástica localização do jogo para o pt-BR onde temos não somente textos em português como também uma dublagem sensacional que de certo modo coloca o jogador dentro de um jogo com todas as vibes de um filme no maior estilo “Sessão da Tarde“. A equipe de localização fez um trabalho excelente, digo isso pelo que vi no original onde joguei em inglês.
VEREDITO
Há imperfeições para criticar, mas Dead Rising Deluxe Remaster é um remake respeitoso de um dos jogos mais únicos da Capcom. Se você nunca jogou antes, este é um ponto de partida fantástico. Ele dá à experiência uma nova repaginada gráfica e faz alguns ajustes úteis na jogabilidade junto com ela. Se você já jogou o original, esta é sua chance de mostrar à Capcom que você ainda se importa com esta série e quer vê-la e seu design de jogo experimental retornarem. Deluxe Remaster removeu qualquer dúvida em minha mente de que o Dead Rising original é um clássico.
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