Análise – Need for Speed
Minha primeira experiência com Need for Speed foi uma de frustração. Nas três tentativas iniciais, o jogo ficou preso na tela de load. Em seguida, o deletei, instalei novamente e só então conseguir começar a jogar. Logo de cara já deu para saber o que me aguardava no resto do jogo.
Mas vamos começar do início. Need for Speed é um reboot da famosa franquia de corrida. Porém ao longo dos anos, a série veio mudando bastante sua abordagem de jogo em jogo. Agora a desenvolvedora Ghost Games veio para começar do zero e dar um ar de novidade. Claramente existindo uma inspiração em Underground 2, mas também tentando traçar seu próprio caminho.
Uma das formas que isto acontece é através da tentativa de criar uma narrativa. Eu digo tentativa porque não existe muito uma história para se seguir ou se investir. Basicamente, seu personagem já começa o jogo sendo integrado em um grupo de corredores de rua relativamente desconhecidos e cada um deles quer chamar a atenção de personalidades famosas.
O que isso resulta é em várias linhas de missões onde o jogador e um dos membros do grupo estão participando de corridas cada vez mais desafiadoras para conseguir conhecer seus respectivos famosos.
A história é contada através de cutscenes FMV, que conceitualmente são uma alternativa interessante, mas sua execução é pobre devida a atuação fraca e uma narrativa rasa. Os personagens em si também são pouco desenvolvidos, cada um se encaixando em um estereótipo. A Amy é quem mexe com motores para tirar o melhor desempenho do carro, o Manu que só se importa em fazer drifts, o Spike é viciado em velocidade, etc.
O que é conveniente, porque as personalidades destes e suas missões se encaixam perfeitamente com as cinco competências que Need for Speed recompensa o jogador: Build, Speed, Drift, Crew e Outlaw. Basicamente, existe um nível geral de reputação que é alimentado por estas cinco competências. Se o jogador conseguir executar ações de cada uma delas em um espaço curto de tempo, o multiplicador de reputação vai aumentando. É um sistema inteligente que deixa que todos tenham um progresso constante ao jogar, mas que recompensa motoristas habilidosos também.
Os eventos em si não têm muita variedade. Existem corridas de ponto a ponto, algumas contra o relógio e outras contra outros adversários, e eventos de drift onde o jogador deve acumular uma quantidade definida de pontos sozinhos ou participando de um “trem” com outros corredores. O clássico Drag Race de Underground 2 não retorna, o que é uma pena. Existe também intervenção da polícia em corridas, assim como no mundo aberto, mas estes são extremamente passivos.
A não ser que o jogador ativamente tente iniciar uma perseguição, ele não será perturbado. Adicionalmente, após conseguir chamar a atenção dos policiais, escapar ainda nos primeiros minutos é trivial, então é necessário um esforço enorme por parte do jogador para conseguir completar os desafios de Outlaw. A inteligência artificial deles também não é das melhores, como pode-se ver no vídeo abaixo.
A direção de Need for Speed por outro lado, é um dos pontos onde a desenvolvedora claramente teve maior carinho. Cada um dos carros tem uma performance diferente e o nível de calibragem do veículo é extensa, deixando os aficionados por automotores se divertirem mudando as configurações da forma que desejarem. Por outro lado, novatos que não entendem que peça exerce qual função ficará um pouco perdido, embora o jogo ofereça uma calibragem geral variando entre Drift e Grip.
A seleção de carros não é tão grande quanto a de outros jogos, tendo apenas 50 veículos para se selecionar. Entretanto, as maiores marcas (Ferrari, McLaren, Porsche, BMW, Lamborghini, Lotus, etc.) estão todas presentes com pelo menos um de seus carros. Para fãs de automotores, certamente tem algum carro que lhe apeteça.
Gráficamente, o jogo não é nenhum espetáculo também. Embora os efeitos de chuva sejam bem feitos, em vários momentos durante as corridas era notável que o jogo travava por alguns frames enquanto tentava processar situações mais caóticas e com muitos carros. A passagem de dia e noite também é estranha, uma vez que a cidade vai de noite para sol nascente, para depois retornar direto a noite novamente.
Need for Speed, apesar das falhas citadas anteriores, tem três problemas maiores que são difíceis de ignorar e realmente comprometem a experiência como um todo. O primeiro deles é o fato do jogo necessitar uma conexão constante a internet para conseguir jogar. No tempo em que este review foi feito, houve vários problemas de conexão, resultando em corridas sendo abandonadas no meio e progresso sendo perdido.
Além disso, os tutoriais do jogo se apresentam como popups no meio da tela e, devido à natureza online do jogo, isto não pausa o que está acontecendo no fundo, resultando em situações onde eu pulava as dicas que me eram dadas porque estava em alta velocidade e não queria bater o carro.
O segundo se encontra nos adversários controlados pela máquina. Para manter a competitividade, jogos de corridas normalmente implementam um efeito onde carros atrás do primeiro colocado ganham uma vantagem de velocidade. Porém em NFS, este efeito é absurdamente exagerado, chegando ao mesmo nível visto em The Crew. É uma simulação de dificuldade que resulta na grande maioria das vezes em frustração.
Finalmente, o terceiro e principal problema: a performance. O jogo foi testado em um Xbox One e os resultados foram muito fracos. Jogos de corrida normalmente possuem um FPS de 60, mas Need for Speed é travado em 30, o que por si só já é decepcionante, mas durante o tempo de avaliação, várias vezes foi necessário reiniciar o jogo porque o mapa nunca terminava de carregar, ou havia um crash no meio de uma corrida.
Problemas assim acabam com a experiência, tornando algo que era para ser divertido em uma constante fonte de frustração. Talvez alguns destes sejam resolvidos com atualizações futuras, mas até lá, a situação atual é predominantemente negativa.
Need for Speed é um jogo que mostrava ter muito potencial, mas no final a Ghost Games não conseguiu capturar a magia que levou a franquia a fama como em Underground 2, Most Wanted e Hot Pursuit. Se você é aficionado por carros e se encontra com sede de corridas, talvez ache o que aproveitar. Caso contrário, deixe esse carro na garagem.
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