Análise – Ryse: Son of Rome
A história do desenvolvimento de Ryse: Son of Rome começa em 2011. Na E3 daquele ano, a Microsoft anunciou que o jogo estava sendo desenvolvido exclusivamente para o Xbox 360 usando o motor gráfico CryEngine 3, da alemã Crytek. Naquele mesmo ano, Crysis 2, desenvolvido com o mesmo motor, era aclamado como um dos melhores gráficos entre PCs e consoles, o que serviu para animar os donos do Xbox 360.
O título pareceu promissor, mas o que trouxe preocupação para a cabeça dos jogadores hardcore, é que ele estava sendo desenvolvido para ser focado no uso do Kinect. Com o tempo novas informações começaram a ser divulgadas, sempre sem muitos detalhes, mas o que aparentava era que o Kinect cada vez menos era o foco. Por fim, com o anúncio do Xbox One, o jogo foi anunciado como jogo de lançamento e exclusivo do console. O Kinect também não faria mais parte dos combates e teria um papel secundário na experiência, o que trouxe novo ânimo os jogadores hardcore.
História
Ryse conta a história de Mário (no original, Marius), um general Romano que ao mesmo tempo em que luta por Roma, busca vingança contra as pessoas que lhe trouxeram grandes perdas pessoais. Alternando entre tempo atual e flashbacks, Mário é levado a uma boa variedade de lugares e situações durante os VIII capítulos que compõem o jogo.
A história cumpre o papel de justificar a jornada do protagonista, mas não traz nenhum momento especialmente marcante. Alguns personagens são carismáticos, mas o contato com eles é tão rápido e limitado que é dificil se importar de verdade com qualquer um deles.
O enredo faz uso de personagens reais como o controverso imperador Nero, mas não tenta em nenhum momento ser fiel a fatos históricos, o que é uma pena, já que a ambientação está bastante interessante. Soa como um oportunidade perdida.
Gráficos
Analisando puramente o primeiro impacto visual, Ryse é impressionante e é tudo que você poderia esperar de um jogo de lançamento para um console de nova geração. É verdade que algumas texturas específicas, como as da pele e cabelo dos personagens, chamam a atenção negativamente, mas essas são as exceções. Como regra, Ryse tem as texturas mais bonitas de um jogo de console, e briga em pé de igualdade com as tops de jogos de PC. Se juntarmos isso aos ótimos efeitos de luz, névoa, chuva e animação facial, temos um dos jogos mais bonitos já feitos, mas alguns aspectos técnicos e de design prejudicam a experiência visual final do jogo.
O primeiro ponto negativo são os inimigos. Eles são dividos em classes, mas dentro destas classes, todo são idênticos entre si. No caso de soldados aliados, as armaduras e capacetes ajudam a disfarçar a limitação, mas os inimigos lutam geralmente com o corpo e rosto descobertos, tornando comum batalhas contra gêmeos e trigêmeos durante todo o jogo. Acredite, é mais estranho do que parece no papel, e não tem como não pensar que houve preguiça dos desenvolvedores neste aspecto.
A interatividade do cenário também é quase zero. Em todo o jogo eu só encontrei vasos como objetos quebráveis, e mesmo assim nem todos. São raríssimos os momentos em que é possível subir em algum lugar, entrar em alguma porta ou que algum elemento do cenário reaja à sua passagem ou presença. A sensação que o jogo passa é que tudo ali é uma exposição de museu, com artigos belíssimos, mas que devem sempre ser olhados a uma distância segura.
Mesmo com estas limitações e não tendo uma resolução nativa de 1080p (a resolução nativa é de 900p) o jogo não consegue manter uma taxa de frame compatível com a nova geração. Ryse roda em boa parte do tempo a 30 frames por segundo e ainda sofre com quedas em momentos de maior movimentação na tela.
Bom, mas essa taxa de frames é bastante comum hoje em dia, então porque eu estou dando tanta ênfase a isso? O motivo é simples: estamos entrando em uma nova geração, e com ela é preciso haver uma mudança de paradigma. Com exceção das belas texturas, Ryse não traz nenhuma mudança visual que tenha cara de nova geração. Para efeito de comparação, Battlefield 4, um jogo com cenários totalmente destrutíveis, com mapas enormes com livre navegação e com texturas muito semelhantes às de Ryse em qualidade, roda na maior parte do tempo a 60fps no Xbox One, chegando no pior caso a 40fps. E como ambos são jogos de lançamento do mesmo console então é justo cobrar um pouco a mais de Ryse nesse aspecto.
Som
Ryse, como a maioria dos jogos da Microsoft, é totalmente localizado para o mercado brasileiro. A dublagem em português é competente e você irá reconhecer muitas vozes dos programas brasileiros de TV. A grande desvantagem do jogo em português, é que se perde uma das melhores coisas do jogo que é a sincronização labial, que está impecável. Caso o jogador queira alterar o idioma das vozes para conhecer o trabalho de dublagem original, basta alterar o idioma do console.
As músicas também são competentes e conseguem trazer o clima certo na hora certa, apesar de nenhuma delas ser especialmente marcante. É muito improvável que depois de terminar o jogo você comece a procurar pela trilha sonora para ouvir em algum outro lugar, mas enquanto joga, ela deve atender às suas expectativas.
Jogabilidade
O combate de Ryse lembra o de jogos como Assassin´s Creed: os inimigos, mesmo que em grande número, costumam atacar em um ou no máximo dois por vez, enquanto os outros observam. Não é o mais realista possível, mas quem assiste filme de ação já deve estar acostumado.
O botão X é usado para o ataque tradicional, Y para um ataque que busca abrir a defesa do adversário, B é esquiva e A é usado para bloqueio. Os ataques com X e Y também podem ser carregados para golpes mais fortes que dificultam a defesa e causam mais dano. Além dos ataques tradicionais, o jogo possui um sistema de finalizações, um dos principais atrativos do combate. Quando o adversário sofre dano suficiente, uma caveira aparece sobre sua cabeça e ao pressionar RT a finalização é iniciada.
As finalizações não passam de QTEs (quick time events), onde você deve apertar os botões que o jogo indica no momento certo, mas conta com uma novidade interessante que ajuda muito a criar interesse pela técnica: a cada finalização, vc pode escolher entre 4 atributos: Vida, XP, Dano e Foco. Quanto mais perfeita a finalização, mais o atributo é melhorado. O Foco é um recurso ativado quando o botão RB é pressionado e, quando em uso, aumenta a sua velocidade e diminui a dos inimigos. Os demais atributos são autoexplicativos.
Durante alguns momentos do jogo, você deve dar comandos a membros do seu exército. São comandos simples que ordenam um ataque ou pedem cobertura. Estes comandos podem ser dados por voz ou pelo botão LB. Mesmo que não goste de ficar gritando enquanto joga, o provável aqui é que você use o comando de voz, já que é necessário segurar o botão por alguns segundos para ter o mesmo efeito.
Embora sofra pela repetição e a quase nula variedade de armas, o sistema de combate consegue ser divertido e traz um certo desafio (pelo menos na dificuldade mais alta), mas a diversão do jogo é altamente prejudicada pelo design das fases. O jogo é extremamente linear e divido em pequenas seções que, uma vez lá, se torna impossível voltar. Além de o jogo te limitar a todo tempo, é difícil saber onde estão estes limites, já que paredes invisíveis são bem comuns.
Um elemento cada vez mais comum nos jogos do gênero, e que ajuda a quebrar a repetição estimulando o raciocínio entre algumas horas de combate, são os puzzles. Em Ryse, o mais perto que você vai chegar de um puzzle, é quando encontrar uma caixa piscando em amarelo. Nesse momento você vai se aproximar da caixa, apertar o botão Y (amarelo) e… é basicamente isso ai.
Ryse também conta com um modo arena, onde o jogador enfrenta hordas de inimigos e pode personalizar equipamentos. O modo pode ser jogado online de modo cooperativo. Embora o combate e os desafios sejam os mesmos do single player, o trabalho em equipe traz um fôlego adicional ao jogo.
Conclusão
Ótimos gráficos e um combate competente, embora simples, motivam o jogador a seguir até o final, mas algumas limitações técnicas e de design impedem Ryse: Son of Rome de ser a verdadeira experiência de nova geração que os donos de Xbox One estavam esperando.
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