O que faz um protagonista de videogame ser considerado o mocinho, normalmente são os valores representados por suas atitudes ao longo do jogo. Resgate a princesa, derrote o vilão e salve o vilarejo são maneiras seguras de se garantir que esse personagem está no caminho do bem.O que dizer então de um personagem que não somente ignora essas regras e não se preocupa com o próximo, mas ainda faz uso de suas habilidades para se aproveitar deles, roubando dos ricos, pobres e todo o resto, para dar a si mesmo?
Esse é Garret, o ladrão mestre e protagonista de Thief, novo jogo da Eidos Montreal e publicado pela Square-Enix para os consoles da geração atual e da próxima.
História
Thief coloca o jogador na pele de Garret, um ladino experiente e egoísta que se preocupa somente consigo.
Infelizmente esse egoísmo não demora a dar uma dura lição em Garret, que perde sua parceira e fica cego de um olho, numa tentativa frustrada de roubar um artefato, que acabou jogando-os de surpresa em meio a um ritual mágico, logo na missão de introdução do jogo.
O desenrolar da história se dá 1 ano após essa missão, onde Garret acorda sem memórias do acontecido, tentando juntar as as peças do quebra cabeça e buscar respostas, enquanto continua roubando casas, pessoas e evitando a guarda da cidade. Enquanto isso, a cidade que não possui nome, é oprimida pelo barão, onde os moradores vivem em toque de recolher, os ricos continuam a viver em isolamento e os pobres estão formando inúmeros grupos contra as autoridades. Obviamente Garrett não tem intenção de ajudar ninguém, mas aproveita para usar a situação volátil ao seu favor.
Como é possível perceber, a temática de Thief é mais adulta que a dos jogos tradicionais. Tirando GTA e seus clones, não me recordo de outro título onde o jogador assume o papel de um personagem que pode fazer o mal deliberadamente. A cidade é ampla e Garret pode invadir casas, roubar jóias e documentos, assassinar pessoas e fazer tudo isso buscando apenas o proveito próprio, pois o dinheiro dos itens roubados serve somente para evoluir o personagem.
Jogabilidade
A primeira impressão é de que Thief é um jogo estranho. Isso não é necessariamente ruim, mas é difícil categorizar o título. Estamos diante de um jogo com visão em primeira pessoa, com traços de FPS, mas com controles totalmente diferenciados e próprios, que não privilegia o combate e encarar inimigos, mas sim usar a furtividade e agilidade para evitá-los e fugir deles. A cidade é dividida em algumas áreas, que proporcionam um mundo aberto para Garret explorar durante suas investidas noturnas. Ao mesmo tempo a cidade serve como um portal para outras áreas onde vão acontecer as missões.
O interessante é que Thief permite ao jogador escolher a forma como ele quer abordar as missões e quando quer fazê-lo. Você pode explorar a cidade indefinidamente, ou simplesmente partir direto pra ação, o que vai agradar tanto jogadores que preferem jogos abertos, quanto os que querem focar na história.
Apesar de ser inteiro stealth, a campanha trás bastante diversidade, mudando o foco da furtividade e de quem você está fugindo totalmente e alguns momentos. Sendo bastante fiel a temática da classe de ladino, jogadores de Dungeons & Dragons vão identificar de cara as opções de furtar bolsos, esconder-se nas sombras, mover-se em silêncio, detectar e desarmar armadilhas, ouvir passos e outros barulhos, entre outras.
Nos controles, Thief funciona mais ou menos como um FPS tradicional, com a diferença de que Garret não tem em seu arsenal muitas armas ou itens a disposição para o combate. Você possui um arco, com flechas especiais de diversos tipos para várias situações (fogo, água, corda, e outras), uma espécie de bordão que utilizará para nocautear os oponentes, bombas de luz para fugas e garrafas e objetos que pode jogar para distrair seus inimigos enquanto tenta evitá-los.
Ainda que seja possível encarar um ou outro inimigo, o jogo não incentiva o combate e o jogador vai se encontrar em maus lençóis ao tentar enfrentar 2 ou mais oponentes ao mesmo tempo. Normalmente a saída é fugir e o arsenal de Garret proporciona soluções melhores para correr do que para lutar. Por isso, a função mais utilizada do jogo será a do botão corrida, que também serve como um botão padrão de ação para escalar locais, pular nas beiradas e esquivar de oponentes numa combinação com o botão de esquiva, quando estiverem perseguindo você.
Garret ainda possui um medidor especial de Focus, onde usa um poder de percepção extra para ter acesso a mais informações sobre o cenário, oponentes e objetos de interesse, algo bastante parecido como o modo detetive da série Batman Arkham.
Som
Por sua natureza furtiva, Thief desempenha um bom papel no departamento sonoro, criando a atmosfera de uma noite na cidade onde o jogador não quer ser detectado. Por isso, é fácil entender a escolha de uma abordagem mais silenciosa, oferecendo músicas principalmente quando o jogador está em situações de ação como combate, fugas, etc…, mas mantendo-se em silêncio no resto do tempo.
No entanto os sons de passos, barulhos, movimentos e sons da cidade, estão bem representados e vão ajudar os ouvidos mais apurados que poderão utilizá-los para saber melhor a posição de seus os inimigos e como evitá-los.
Gráficos
Ainda que seja um título next-gen, Thief sofre do mal dos títulos “entre-gerações”, saindo para os consoles da geração passada Xbox 360 e PlayStation 3, o que limitou o desenvolvimento no departamento gráfico. Não que Thief seja um jogo feio, e longe disso. Os cenários e a atmosfera da cidade proporcionam ao jogador das versões next-gen o clima ideal de um local sombrio, não seguro, com uma ambientação pesada e de poucos amigos.
Porém os modelos de personagens infelizmente não acompanham e acabam tirando um pouco da beleza do jogo. Quando colocado de frente a alguns prédios, o nível de detalhes, sombras, neblina e outros vão passar a impressão de que são construções reais. Mas logo um guarda vai passar pra te lembrar que você está dentro de um videogame.
É verdade que os personagens principais como Garret e outros que você vai interagir sofrem menos desse problema e foram modelados com mais detalhes e esmero, felizmente. Vale ressaltar a armadura de couro e equipamentos do personagem principal, totalmente fiéis ao que você espera de um ladino. Ainda assim o jogo todo poderia ser mais caprichado nesse departamento. Mas esses defeitos são contornáveis e logo você se acostuma com o nível de detalhe dos oponentes.
O que você não vai se acostumar e é o maior problema com os gráficos de Thief, é que o jogo é realmente escuro. Estamos falando de escuridão que nos impediu com que o jogo fosse jogado durante o dia ou com a luz da sala acesa, mesmo após recalibrar o gamma e o brilho na TV especificamente para esse jogo. Não me recordo de um título tão escuro e em alguns cenários fechados, passei por momentos em que me encontrava caminhando contra a parede, sem enxergar para onde ia e simplesmente esbarrando, na esperança de encontrar uma saída.
Como ladino, você tem opção de apagar as velas de algumas salas para abraçar a escuridão e evitar inimigos, mas em diversos momentos evitamos fazer isso, simplesmente com o intuito de enxergar melhor. Infelizmente clarear o jogo ao máximo não resolve e além de tudo mata a atmosfera, pois as cores pretas ficam cinzas e distorcem completamente o cenário do jogo. Por isso, até o momento, esse é um problema sem solução. Proposital ou não, a impossibilidade de enxergar a tela vai contra a base do VIDEO game e Thief se passa inteiro em missões noturnas o que não ajuda a resolver a situação.
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Assista o gameplay completo de Thief para o Xbox One em nosso canal do Youtube.
Finalizando
Apesar de alguns problemas, Thief é uma experiência diferente do FPS tradicional e um jogo bastante único. A temática medieval e a abordagem diferenciada ao interpretar um ladino, dão ao jogo um aspecto mais maduro, e sustentam a aventura para os fãs de jogos stealth. Garret é provavelmente o melhor ladino do mundo dos games, mas não é nem de perto tão versátil como guerreiro e infelizmente por ser muito focado nas habilidades de um ladrão, Thief vai afastar jogadores que não queiram se esconder nas sombras e prefiram uma abordagem mais agressiva.
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