Assassin’s Creed Shadows
Quando a Ubisoft lançou o primeiro Assassin’s Creed, em 2007, eu jamais imaginaria que a série fosse chegar tão longe — de lá para cá foram 13 jogos da série principal, contando com Assassin’s Creed Shadows e mais uma infinidade de spin-offs!
Sua popularidade foi o motivo para que a série tivesse tantas sequências, mesmo que muitos dos jogos não tenham sido exatamente bem avaliados. A base de fãs da franquia se manteve fiel e sempre acreditando em seu potencial. Eu, honestamente, nunca me interessei por ela de verdade, porém, isso mudou quando tive a oportunidade de avaliar o primeiro Assassin’s Creed com uma pegada mais RPG, o Origins.
Por gostar muito de RPG e também pelo fato da Ubisoft ter fornecido o código (valeu, Ubi!), eu decidi analisar o título ao invés de atribuir a missão para algum de nossos colaboradores. Logo nas primeiras horas, já percebi que havia tomado a decisão correta, pois estava me divertindo muito mais do que imaginava — as aventuras de Bayek de Siuá me conquistaram quase que imediatamente. Foram incontáveis horas de jogo explorando um dos cenários mais vastos e bonitos dos games naquela época e, desde então, passei a olhar a série com outros olhos.
Como a maioria de nossos leitores sabe, eu gosto de deixar bem clara qual é a minha experiência com as séries que analiso (caso aplicável) e o quanto essa experiência pode impactar a análise propriamente dita, então tenha em mente que sou um apreciador de Assassin’s Creed dessa geração pra cá (2018-2025), ok?
A Longa Sombra de Oda Nobunaga
A história de Assassin’s Creed Shadows se passa em 1579, no Japão, e o país avança por um caminho implacável rumo à unificação, guiado pela determinação do daimyo (título dado aos poderosos senhores feudais do Japão entre os séculos X e XIX) Oda Nobunaga. A tensão aumenta com o surgimento de novas alianças e a crescente influência de estrangeiros corruptos.
No meio dessa turbulenta situação, uma jovem chamada Naoe sofre a perda de seu pai, assassinado por um grupo liderado por Nobunaga, e decide ir atrás da “boa” e velha vingança, enquanto do outro lado temos Yasuke, samurai africano que serviu a Nobunaga no século XVI. Ele chegou ao Japão por volta de 1579, como servo do jesuíta Alessandro Valignano, um missionário encarregado de supervisionar as atividades jesuíticas no país. Naoe e Yasuke são os protagonistas dessa história no turbulento período Sengoku e, apesar de terem vidas completamente diferentes, seu destino se entrelaça de formas inimagináveis e que dão um charme especial à trama.
Algo que não gostaria de deixar de mencionar nessa análise é o quanto, ultimamente, a indústria dos videogames tem trazido o Japão antigo como pano de fundo para as suas histórias. Em 2020, tivemos Ghost of Tsushima, que se passa em 1274 (séc. XIII), e, ano passado, o Rise of the Ronin, que nos contou sua história em um período muito mais contemporâneo, em 1853 (séc. XIX). Agora com Shadows voltamos ao Japão, só que meio que entre esses dois títulos de certo modo tão parecidos, inclusive em design. Evidentemente que nem tudo é precisamente histórico, porém, foram aulas desse tema que infelizmente não tive na escola — e hoje estou aprendendo mais sobre esse país através dessas obras interativas, o que me deixa muito feliz e realizado!
Shadows não apenas traz uma trama muito emotiva, com cenas memoráveis, mas também um verdadeiro mergulho nessa cultura milenar. O Codex é constantemente atualizado com informações sobre cada região percorrida e todos os lugares existem ou existiram historicamente. Eles fazem parte das antigas províncias do Japão, que eram divisões administrativas antes da modernização do país no século XIX. Sei que muitas pessoas talvez não deem a devida importância a isso, mas para aqueles que puderem reconhecer o cuidado dos desenvolvedores, será fascinante perceber o nível de dedicação envolvido.
O jogo possui uma estrutura não linear em sua progressão da história (vou me aprofundar melhor nisso mais para frente), o que pode gerar um certo descontentamento por parte dos jogadores que não se interessam muito por conteúdos opcionais. Nada fica desconexo, contudo, quem quer ver só a história principal talvez perceba isso como uma barreira (e, honestamente, não me recordo de algo similar em outros jogos da série). Definitivamente não é um problema, visto que ainda existe a possibilidade de ter uma experiência mais guiada, caso o jogador não tenha paciência para algumas atividades mais investigativas.
Apesar de ter gostado bastante das histórias dos demais jogos da série, nenhum chegou aos pés do que senti aqui. Naoe e Yasuke são personagens memoráveis, que já entraram para minha lista dos melhores que já vi em um jogo. Suas motivações são reais, suas personalidades tão distintas brilham e o elenco de suporte é igualmente fantástico. Junjiro e Yaya são apenas dois exemplos de personagens super bem trabalhados e que fazem total diferença! Ah, logicamente que o Animus está presente e, ao longo da jornada, vários retalhos de informação jogam na cara do jogador que nossos “heróis” não estão mais vivos, o que, mesmo sendo óbvio, me deixa triste de tanto que me apeguei a eles.
Pise Levemente
Não adiantaria ter uma super história se jogar Assassin’s Creed Shadows não fosse prazeroso, certo? O que esse jogo tem de complexo, tem de divertido — e vou deixar bem mastigadinho para vocês. Em Shadows temos um mapa colossal que, apesar de não ter absoluta certeza, é possivelmente um dos maiores da história da franquia (talvez de toda a indústria). Logo no começo, temos acesso à região de Settsu, onde cidades como Osaka e Amagasaki estão, ambas bem populosas e com inúmeras construções, fora outros diversos distritos e tudo mais. Então, essa região é apenas uma das NOVE a que temos acesso nesse jogo — quando fui dando zoom out no mapa eu quase caí da cadeira.
E não se trata apenas de um vasto território vazio, existem muitas atividades para realizar e side-quests diversas para consumir seu tempo, desde as divertidas até umas bem complicadas, exigindo muito do jogador. Uma das novidades mais legais para mim foi a parte do Hideout, que funciona como se fosse um simulator de cidade, com construção de ambientes e até paisagismo, sendo extremamente útil para o progresso no jogo. Os materiais usados nessa parte são encontrados em diversos lugares do mundo, normalmente em ambientes controlados por soldados ou bandidos, portanto, você não terá dificuldades para expandir seu pequeno vilarejo!
Evidentemente que há necessidade de gente para cuidar de tudo enquanto você estiver perambulando pelo Japão, e é aí que entra o recurso de recrutamento no maior estilo Suikoden. Várias pessoas estão dispostas a ajudar você nessa causa, e o mais legal é que ainda existem várias pequenas sub-histórias com cada uma lá no Hideout — são pequenos detalhes como esses que fazem o jogador se importar com seus aliados.
O combate também tem uma grande importância em Shadows, e ele ficou bem divertido, porém, longe de estar perfeito. Tanto Naoe quanto Yasuke possuem uma gama variada de armas com suas respectivas árvores de evolução, e só isso já dá ao jogo uma variedade enorme de opções, sejam elas mais furtivas ou não. Para tirar o elefante branco da sala logo, o maior problema do combate de Shadows se dá no comportamento do personagem diante do cenário em si, tentarei explicar melhor através de uma situação que ocorreu comigo. Eu estava explorando um castelo com Naoe quando comecei a me irritar com um inimigo posicionado no topo de uma casa, disparando flechas ou tiros de rifle, não me lembro ao certo. Aí após derrotar um inimigo no mano-a-mano, decidi subir para acabar com a vida desse “franco-atirador” do jeito mais rápido possível, só que havia uma espécie de degrau entre a Naoe e o inimigo, fazendo com que eu tivesse que parar forçadamente na beirada, pois o jogo interpretou esse “degrau” como a beirada de um lugar qualquer — isso realmente ocorre normalmente, não tem como você cair de algum lugar sem que use o botão de ação (de movimento), o X no PlayStation 5, versão na qual analisei Shadows, por sinal.
Eis que acabei morrendo por culpa disso e tudo devido a uma falha muito simples que espero que seja corrigida em eventuais patches futuros. Quanto a bugs/glitches, eu praticamente não encontrei um sequer que me prejudicou, só uns engraçados que fiz questão de fazer pequenos vídeos para dar risada no futuro. Tirando isso, foi uma experiência bem sólida que me surpreendeu, pois muita gente fala que os jogos da Ubisoft são problemáticos, então de duas uma: ou Shadows está super bem polido ou eu tenho muita sorte.
Os controles são bem precisos logo de cara. Apesar de ter diversas opções de acessibilidade, eu não precisei mudar praticamente nada para ficar do jeitinho que gosto, seja em relação à câmera ou mesmo velocidade de mira, essas coisas. A precisão dos controles é necessária visto que precisamos ficar super atentos aos ataques dos inimigos, O já tradicional parry se encontra presente e, honestamente, vai ser difícil encarar os adversários mais poderosos sem dominar essa técnica que benefecia o jogador mais ousado — por sorte a janela de parry é bem grande, mas fique ligado! Ainda falando dos combates, havia um certo ponto em que eu estava meio viciado em ficar matando gente por aí, porque os encontros eram super divertidos, tanto com a Naoe quanto Yasuke, e por sorte existem tantos cenários de batalha que dificilmente ficaremos sem ter adversários do nosso nível.
Uma novidade implementada em Shadows é a mecânica de mudança de estações. De tempos em tempos, as estações mudam e os cenários são impactados diretamente por essas mudanças. O legal é que não são simplesmente as quatro estações e deu, existem níveis delas, como um inverno mais ou menos rigoroso, por exemplo. Essa ideia foi bem legal, apesar de que é uma coisa mais visual do que realmente impactar a jogabilidade — só não dê bobeira de enfrentar inimigos no meio da neve, pois terá problemas em se deslocar!
Quem gostou dos Assassin’s Creed atuais estará super feliz com Shadows, pois é basicamente tudo que havia nos demais jogos com uma ambientação diferenciada e muito, mas muito conteúdo. Eu joguei aproximadamente 40 horas e, sendo honesto, mal toquei nos opcionais, já que seria praticamente impossível entregar essa análise a tempo. Sem exagero algum, o que a Ubisoft entregou é um jogo colossal que, quem quiser fazer 100%, vai levar umas 300 horas pelo menos, ainda mais se não jogar no modo guiado. Quer comprar um jogo que fará valer seu rico dinherinho? Shadows é jogo para uma vida!
Muralhas do Castelo e Flores de Cerejeira
O jogo foi desenvolvido pela primeira vez com a geração atual em mente e, novamente, temos a Anvil Engine sendo usada. Confesso que, quando vi o logo dessa engine pela primeira vez, fiquei meio receoso quanto ao upgrade gráfico que, teoricamente, a série teria, mas bastaram alguns minutos para que meu receio desaparecesse. Shadows é, provavelmente, o jogo mais bonito que já vi na vida, pelo menos em consoles.
Os cenários são magníficos, com detalhes a perder de vista, e tudo isso com a possibilidade de jogar a 60 FPS no modo Performance, o modo que sempre escolho independentemente do jogo. Mesmo sem Ray-Tracing (apenas parcial), presente no modo Fidelity, os visuais vão te deixar boquiaberto o tempo todo. Maldito seja o Photo Mode que me fez perder HORAS tirando fotos dos mais incríveis ângulos, algumas delas você já está vendo nessa análise, inclusive, e ainda pretendo voltar para o jogo só para poder tirar mais e mais lindas fotos dessa obra de arte que a Ubisoft desenvolveu. E se Shadows é lindo parado, imagine em movimento! Eu não cansava de olhar a dança das folhas mortas no chão enquanto eu fazia um golpe de espada no ar ou mesmo observar o céu e todo seu resplendor enquanto as nuvens formavam verdadeiras pinturas… Pode parecer que eu estou romantizando demais isso, mas nunca vi um jogo que me fizesse sentir tão imerso desse jeito.
As cutscenes são outra maravilha, além de muito bem dirigidas, elas parecem um filme em muitas das vezes. As personagens principais foram modeladas com um cuidado ímpar, veja Naoe e seu cabelo que voa com o vento ou mesmo os detalhes mais minusciosos da pele de Yasuke, é muito capricho! O jogo exala uma produção altíssima. Não tenho informações de quanto ele custou, mas sentimos estar jogando algo realmente premium, onde tudo foi feito com muita dedicação e carinho. Acredito que os demais jogos da série sempre foram caros, entretanto esse, com toda certeza do mundo, foi mais do que os seus antecessores.
Para não dizer que nem tudo são flores, por alguma razão o jogo fixa os gráficos no modo Fidelity quando estamos no Hideout. Sinceramente, não entendi por que e achei meio chato, visto que, por opção, escolhi o Performance (mas isso eu imagino que vão corrigir futuramente). Por fim, digo que Shadows é impecável, do começo ao fim uma experiência visualmente marcante e que, finalmente, parece um jogo digno dessa geração de consoles!
Melodia na Brisa
Hora de falar do som e, antes de qualquer coisa, vale lembrar que eu joguei o jogo inteirinho no Immersive mode, que define a dublagem para o japonês padrão e, se tiver algum estrangeirismo (como português de Portugal no comecinho do jogo), se mantém no seu idioma original — recomendadíssimo usar esse modo! A atuação dos personagens é simplesmente incrível. É notável o peso das falas e até a linguagem corporal em muito dos momentos, especialmente no comecinho, quando o passado da Naoe é contado.
As músicas me surpreenderam também. Há diversas faixas cantadas (que, por sinal, não fazem parte da trilha oficial do jogo, estranho) com uma instrumentação mais atual, como guitarras elétricas e afins. Achei bem interessante a pegada, mas as demais que servem como música de fundo também têm qualidade e você ainda pode setar a frequência que elas tocam — eu obviamente deixei no alto. Quero, futuramente, me aprofundar melhor nessa trilha sonora, porque ainda teve muita coisa que eu ouvi que, devido ao barulho dos efeitos sonoros/gritaria, não consegui dar a devida atenção.
Aliás, falando nos efeitos sonoros, eles cumprem seu papel e possuem uma variedade bem impressionante. É, definitivamente, um jogo que vale muito a pena jogar com um headphone!
VEREDITO
Assassin’s Creed Shadows é um épico moderno que se assemelha a uma lenda. Ele não é apenas um jogo, mas, sim, uma experiência que proporciona ao jogador uma jornada inesquecível pelo Japão feudal. O jogo é repleto de emoção, ação e um nível de imersão que poucos títulos conseguem alcançar. Com uma história cativante, personagens memoráveis e um mundo vasto e vivo, ele redefine o que significa mergulhar de cabeça em uma narrativa interativa.
Desde as primeiras horas de jogo, é impossível não se deixar levar pelo espetáculo visual, pela trilha sonora impecável e pela jogabilidade refinada, que tornam cada combate, cada espreitada pelas sombras e cada descoberta uma pequena obra-prima. Naoe e Yasuke não são meros protagonistas, mas ícones que perdurarão na memória dos jogadores. Se você ama a franquia Assassin’s Creed, certamente se encantará! Aqueles que não se identificam com a franquia podem, ainda assim, se encantar com o jogo, que representa uma evolução significativa na série. Shadows é um salto gigantesco, um verdadeiro colosso que prova que a Ubisoft ainda tem muitas cartas na manga. Trata-se de um jogo que permite que o jogador se perca em suas horas de gameplay e que, acima de tudo, permanecerá na memória por muito tempo!
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