Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles
Por mais que eu possa amar uma franquia, nem sempre uma mudança de gênero é garantia de que eu vá me encantar de imediato. Um gênero que costuma me deixar dividido é o de jogos táticos, um tipo de experiência que, mesmo com alguns contatos ao longo dos anos, sempre me intimidou um pouco.
Confesso que sempre tive certa hesitação em relação ao Final Fantasy Tactics. Apesar de ser um spin-off extremamente respeitado há anos, conhecido tanto pela sua jogabilidade quanto pela narrativa, nunca consegui realmente me envolver, tentei tanto a versão original quanto o War of the Lions no PSP, mas o momento nunca parecia adequado. Agora, com o lançamento de Final Fantasy Tactics – The Ivalice Chronicles, finalmente se apresentou a oportunidade ideal.

Essa nova edição oferece uma releitura moderna do clássico, além de uma versão revisada que atualiza a experiência para os padrões atuais. Ao revisitar Ivalice, ficou claro para mim o motivo pelo qual tantos fãs demonstram uma admiração quase incondicional por esse capítulo da franquia Final Fantasy. Ainda assim, vale mencionar que nem todas as decisões de design aqui impressionam de forma totalmente positiva.
História e Ambientação
A trama se passa no reino de Ivalice, cenário já conhecido de outros títulos como Final Fantasy XII e Vagrant Story. Em The Ivalice Chronicles, a morte de um rei desencadeia uma disputa pelo trono entre dois duques — Goltanna, o Leão Negro, e Larg, o Leão Branco. Esse conflito dá início à famosa Guerra dos Leões, marcada por intrigas políticas, lutas de classes e batalhas estratégicas.

No centro de tudo estão dois personagens aparentemente opostos: Ramza Beoulve, um jovem nobre idealista, e Delita Heiral, um plebeu que cresceu próximo à nobreza e desenvolveu uma visão única sobre poder e justiça. No fim das contas, porém, essa não é apenas uma história de reinos e guerras — é um retrato sobre como e por que as pessoas pensam e agem da forma que agem.
É difícil falar muito sobre o enredo sem esbarrar em spoilers, já que até mesmo os primeiros capítulos têm peso narrativo considerável. Dizer que o jogo me prendeu do início ao fim seria pouco: mesmo com algumas decisões de roteiro que não me agradaram totalmente, há uma intensidade emocional bruta que atravessa toda a narrativa.

As mensagens e temas de Tactics são apresentados de forma direta, o que resulta em uma experiência narrativa bastante impactante. O jogo expressa claramente tanto sua intensidade quanto sua melancolia, oferecendo uma história coesa e assertiva em seus propósitos. A evolução de Ramza é marcante: ele começa como um jovem inexperiente e inseguro, mas gradualmente se transforma em alguém capaz de questionar e desafiar as estruturas do próprio mundo, o que torna seu desenvolvimento especialmente interessante de acompanhar.
Vale destacar também a qualidade do trabalho de voz em inglês, que está entre os melhores já vistos no gênero RPG. Embora alguns personagens secundários tenham desempenhos um pouco irregulares, o elenco principal apresenta um nível de excelência notável.
Interações e Construção de Elenco
Ainda assim, há uma certa falta de interação entre os personagens. Conforme novos aliados entram para a equipe, seja de forma fixa ou temporária, percebe-se que eles interagem pouco fora dos eventos principais. Embora haja alguns diálogos ocasionais, eles não são suficientes para criar um senso de grupo mais coeso, já que o foco está claramente em Ramza.

Esse distanciamento faz sentido dentro do escopo político e temático da narrativa — quase como se estivéssemos vendo as peças de um tabuleiro de xadrez se movendo. Mas, pessoalmente, senti falta de mais diálogos e vínculos entre os personagens, o que deixaria os riscos e as perdas ainda mais impactantes. É importante que o jogador entenda que essa é uma história muito mais ideológica do que interpessoal.
Gameplay e Sistema de Combate
Entre os momentos intensos da história e os diálogos cheios de significado, admito que entrei com um certo receio no sistema tático — afinal, eu não tinha muita experiência com esse tipo de obra. As batalhas acontecem em mapas 3D, com unidades posicionadas em terrenos diferentes. Normalmente, o objetivo é eliminar todos os inimigos, mas algumas missões exigem derrotar alvos específicos. O tipo de terreno, as classes e o comportamento dos personagens influenciam o resultado.

Joguei no modo padrão (Knight), o que inicialmente pareceu um erro, já que eu não fazia ideia do que estava fazendo — além de grindar mais do que o necessário. No começo, o jogo guia bem o jogador, mas a partir do Capítulo 2, comecei a perceber o quanto Tactics se conecta aos pilares tradicionais de Final Fantasy. Cada personagem tem um Job (classe), com especializações únicas, e as ações realizadas durante o combate concedem pontos de experiência e JP (Job Points). O jogador pode usar esses pontos para aprender habilidades específicas dentro das classes disponíveis, e a limitação de espaços de habilidades torna as escolhas ainda mais estratégicas.

Há também sistemas complementares, como a compatibilidade entre Signos do Zodíaco, o recrutamento de monstros e o envio de unidades em missões secundárias para ganhar recompensas. São elementos adicionais que se tornam mais intuitivos à medida que o jogador se acostuma ao ciclo de batalhas.
É o tipo de jogo que se aprende jogando, e não apenas lendo tutoriais. O recurso de acelerar o tempo facilita o processo de grind e torna o aprendizado mais leve. Aos poucos, percebi que, assim como Ramza, minha indecisão nas estratégias só complicava minha própria jornada. Quando estabeleci metas claras para cada unidade, tudo começou a fluir. A curva de aprendizado é exigente, mas o momento em que tudo “encaixa” é extremamente recompensador — especialmente após as duras batalhas do Capítulo 3, quando finalmente senti que dominava o sistema.
Estratégia, Consequência e Recompensa
Em Tactics, cada decisão é importante. Se uma unidade morre em combate, não dá para revivê-la. Assim, cada turno é importante e tenso. Preparar antes de lutar é muito importante. Escolher os equipamentos e acessórios certos pode fazer toda a diferença entre vencer ou perder. Os status negativos são ruins, mas há acessórios que protegem contra eles. Isso me lembrou a série Trails of Cold Steel, onde prevenir status também era questão de sobrevivência.

Outro ponto interessante é o sistema de “Friendly Fire”, no qual magias em área também podem atingir aliados. Esse risco constante adiciona uma camada estratégica que, em vez de frustrar, deixa cada escolha mais significativa. Após a morte de uma unidade — aliada ou inimiga —, há a chance de ela deixar para trás baús de tesouro ou cristais, que podem conter itens raros ou até habilidades de Job. Isso me levou a permanecer nas batalhas o máximo possível para coletar recompensas. É um detalhe simples, mas que torna o grind viciantemente divertido.
The Ivalice Chronicles – O Novo e o Ausente
Agora, um dos pontos mais controversos de The Ivalice Chronicles é o conteúdo ausente em relação à versão War of the Lions (PSP). Para quem não sabe, a edição portátil adicionava novas classes — como Dark Knight e Onion Knight —, além de personagens convidados como Luso Clemens (Tactics A2) e Balthier (Final Fantasy XII). Nenhum desses conteúdos está presente aqui.

Essas ausências impedem que The Ivalice Chronicles seja considerada a versão definitiva do jogo. Ainda mais curioso é o fato de o Classic Mode (modo clássico) usar a tradução de War of the Lions, mesmo sem incluir seu conteúdo.
É estranho que a equipe tenha criado um modo que restaura fielmente o original, mas não um dedicado ao War of the Lions. Talvez o custo não tenha compensado — ou talvez o PSP não seja tão cultuado quanto imaginamos. Ainda assim, seria incrível ter tudo reunido aqui. Para quem nunca jogou Final Fantasy Tactics, essa ausência não chega a prejudicar a experiência. Mas para veteranos, a sensação é de algo incompleto.

Por outro lado, os recursos novos são muito bem-vindos: dublagem completa, auto-save, aceleração de batalha, além do excelente menu “State of the Realm”, inspirado em Final Fantasy XVI. Essa nova interface organiza eventos e registros, tornando a narrativa mais acessível e compreensível.
Veredito
O impacto histórico de um jogo lendário pode parecer exagero para quem o conhece só de ouvir falar. Mas quando se experimenta algo como Final Fantasy Tactics – The Ivalice Chronicles, fica fácil entender por que ele marcou gerações. A combinação entre narrativa política intensa, personagens memoráveis e sistemas de combate táticos complexos cria uma experiência ainda poderosa, mesmo décadas depois.
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