Ni no Kuni II: Revenant Kingdom – Análise
Lembro como se fosse hoje quando o primeiro Ni No Kuni foi anunciado. Era um ambicioso projeto da Level-5 em conjunto com o famoso Studio Ghibli, estúdio que está por trás de filmes clássicos de animação japonesa como Princesa Mononoke e Viagem de Chihiro. Vindo da Level-5 também já imaginava que seria um RPG e não deu outra, os fãs do gênero ficaram loucos só com a ideia, eu incluso.
Em 2013 é lançado no ocidente Ni No Kuni: Wrath of the White Witch e o jogo foi um sucesso. Os gráficos faziam jus aos trabalhos Studio Ghibli, a história era envolvente e a trilha sonora assinada por Joe Hisaishi fez com que os jogadores ficassem com a música tema tocando na cabeça durante dias. Joguei ele somente em 2014 e logo vi os motivos pelo qual foi considerado um grande RPG, porém algo inesperado aconteceu… Eu não gostei muito. Acho que o jogo acertou em muitos pontos, no entanto os sistemas eram confusos, o combate era lento demais e não conseguia me empolgar. Larguei o game pela metade.
Evidente que isso é a apenas minha opinião, só que isso influenciou diretamente na minha expectativa para com essa sequência. Evitei ver trailers e gameplays por puro desinteresse, coisa que raramente acontece, ainda mais se tratando do meu gênero favorito.
Eis que tenho a oportunidade de fazer a análise de Ni No Kuni II: Revenant Kingdom e mergulhei no jogo sem saber o que esperar. Agora vou trazer um pouco dessa aventura para vocês nessa análise!
HISTÓRIA
O jogo começa de uma maneira bem peculiar com um dos personagens principais, Roland, dentro de um carro em direção a cidade e ela sendo bombardeada por mísseis. Eis que ele é transportado magicamente para um castelo em outro mundo e sem motivo aparente acaba se tornando anos mais jovem. Sem saber direito o que está acontecendo ele logo se encontra com Evan, um jovem rei que foi vítima de um golpe de estado.
Roland se apresenta como presidente de um país em outro mundo para Evan e resolve ajudá-lo. Ambos não tiveram muita escolha e acabam se juntando para tentar sair desse castelo que está repleto de soldados. Após uma série de eventos eles conseguem sair do castelo e Evan decide criar um novo reino para que ele possa governar e fazer todos serem felizes para sempre. Roland vê a determinação de seu novo amigo e explica pra ele que mesmo não sendo um rei, ele é um presidente e pode lhe ensinar muitas coisas.
Por mais que a história pareça bobinha ou mesmo infantil, ela é emocionante e faz você querer acreditar em Evan. O jogo tem um ritmo excelente de um jeito que a muito tempo não via, com acontecimentos desenrolando de forma rápida e os eventos nunca costumam se prolongar demais, fazendo com que ele seja um excelente jogo para quem está querendo se aventurar no gênero pela primeira vez.
Aventura que, por sinal, é extremamente divertida, cativante e viciante. Ni No Kuni II: Revenant Kingdom é um jogo que é praticamente impossível enjoar. A exploração é uma das melhores partes com direito até a segmentos de plataforma como pular sobre um precipício.
Não pense também que a aventura nas dungeons e demais mapas vão se resumir a alguns pulinhos e combates, nada disso. Também contamos com puzzles. O primeiro que aparecerá é o do desafio do Kingmaker e já tem uma dificuldade considerável, ainda mais se tiver interesse em pegar todos os itens bônus. Os puzzles que aparecerão são mais elaborados e vou falar bem a real, estava com uma imensa saudade desse elemento em RPGs. Hoje em dia temos cada vez menos e em Ni no Kuni II não só tem em boa quantidade como eles também trazem um pouco da história desse universo nesses puzzles, muito bem sacado.
UM REINO PRA CHAMAR DE SEU
O subtítulo desse jogo, Revenant Kingdom (ou Reino Soberano), não está lá só de enfeite, ele serve também para ditar uma nova mecânica ou melhor, elemento de jogo que a Level-5 implementou para essa sequência. Evan tem o objetivo de criar um reino e para isso ele precisa estabelecer esse reino em algum pedaço de terra desocupado. Eis que nas primeiras horas já temos acesso a essa terra (depois de algumas lutas, claro) e já poderemos usá-la em prol desse objetivo.
Poxa, ter o nosso próprio reino é um conceito que sempre achei legal e desde o saudoso Suikoden não havia experimentado um RPG com essa mecânica. O legal disso tudo é que os personagens que podemos recrutar e as benfeitorias realizadas dão um charme único para essa etapa do jogo, mesmo quem não curte esse tipo de simulação vai acabar curtindo em Ni no Kuni II.
Jogabilidade
Indo da água pro vinho, irei falar um pouco do novo sistema de batalhas. Esqueça aquela coisa tediosa do original que fez muita gente, como eu, desistir do jogo. Aqui temos um combate mais parecido com a série Star Ocean onde controlamos diretamente um personagem e os demais são controlados pela IA, que por sinal faz um trabalho satisfatório.
Existe um ataque normal e um forte, permitindo combinações simples de ataques. Cada personagem tem um tipo de arma de curta distância e uma de longa distância, permitindo que possamos atacar até inimigos que estão voando e esses temos aos montes! Além dos ataques normais nós contamos com habilidades especiais que gastam MP. Vale ressaltar que os ataques de longa distância também gastam um pouco de MP, fazendo valer estratégia para administrar esses pontos.
Essas habilidades especiais são bem variadas, indo de golpes físicos em área até magias elementais. Parece bem básico, porém há uma pegada diferente aqui. Durante as lutas podemos escolher 3 armas distintas e cada uma delas tem um medidor que vai do 0% até o 100%, essa porcentagem é o que chamam de Zing e ela aumenta conforme vamos desferindo ataques. Ao atingir 100% podemos usar as tais habilidades especiais (Skills) em seu nível máximo, sendo que algumas podem até mudar de nome. Exemplo, Roland começa com uma habilidade onde ele desfere um ataque horizontal em área, atingindo inimigos próximos; quando a barra Zing está em 100% o ataque muda e ele desfere um ataque consecutivo na vertical dando muito mais dano. Isso implica na necessidade de alternar entre as 3 armas pressionando L2 para encher a barra de Zing de cada uma, possibilitando que possamos sempre estar desferindo os ataques principais, existem alguns outros tipos de Skills como o de roubar itens da Tani onde não é afetada pela porcentagem de Zing.
O game também não tem combates aleatórios. Nas dungeons ao avistar os inimigos já podemos partir para cima deles e travar luta ali mesmo, independente de onde for. No carismático mapa-mundi encontramos os monstros andando alegremente pelos campos e no contato com eles entramos em uma arena genérica. Fique atento que todos os itens que são deixados pelos inimigos ficam na arena para coletar, mas caso não consiga antes do jogo forçar você a voltar pro mapa não se preocupe, os itens remanescentes vão aparecer depois, o motivo da equipe ter feito dessa forma eu não faço ideia.
O desafio infelizmente é bem baixo, muito por culpa do sistema de batalha viciante que dificilmente os jogadores vão querer evitar, aí se torna impossível mesmo ficar em nível baixo. Uma pena que não existe seletor de dificuldade já que veteranos no gênero vão passear pelas lutas. Só os chefes opcionais que estão envoltos de uma aura roxa irão fazer você suar pelas mãos. Além disso podemos configurar as lutas para se adequarem a alguns critérios, o Tactics Turner. Nele podemos configurar a equipe para ficar mais forte contra um inimigo gelatinoso, porém mais fraco contra um inimigo de planta, por exemplo.
E se você achou que era só isso de novidade no sistema de batalha, enganou-se! Ao longo do jogo vamos coletando uns familiares que têm funções diversas nas lutas. Eles são elementais e podemos sempre estar equipado com 4 deles. Digamos que essa é a parte que mais remete ao jogo original, mas ainda sim seria forçar bastante a comparação.
Evan é um rei e um rei precisa de um exército, certo? Outra grande novidade aqui são as lutas de campo que são chamadas de Skirmishes e elas funcionam como um jogo de estratégia em tempo-real simplificado. Essas lutas são mais divertidas do que imaginava e existe um sistema super robusto por trás, onde podemos recrutar guerreiros com habilidades distintas para proteger seu rei. No geral elas são bem fáceis e se você prestar atenção nas explicações não terá problema algum. Falando nisso o jogo conta com um tutorial excelente que deixará o jogador a par de tudo, caso fique com alguma dúvida basta acessar o Help dentro do menu de Status, mais eficiente impossível.
Algo que não tenho como deixar de mencionar são os fast travels pelos portais que liberamos na aventura. Em praticamente qualquer momento podemos voltar para lugares específicos com o apertar de botões, fazendo com que simplesmente só exista backtracking(termo usado quando o jogo pede que você retorne a locais previamente visitados) se o jogador desejar. Isso faz com que a experiência fique muito mais fluída e dinâmica, mas ao mesmo tempo minimiza a sensação de aventura visto que dificilmente alguém vai deixar de usar esse recurso.
Uma pequena reclamação em relação à exploração são as paredes invisíveis, coisa que percebi pela primeira vez que entrei em Forest of Niall. Podemos subir nas árvores e explorar lugares altos, eis que pegamos o que tem que pegar nesses desvios da vida e uma hora tudo que sobe tem que descer, fui tentar saltar para o chão e bam! Bati em uma parede invisível que me obrigou a voltar todo o caminho! Uma pequena reclamação do que parece mais uma falha de design.
Jogo belo, jogo formoso
Realmente são poucos os pontos que a Level-5 pecou nesse grande RPG e se tem algo que ela raramente peca é na parte visual. O Ni no Kuni original já era um jogo deslumbrante, com um colorido que pouco se viu naquela geração e até hoje ele continua lindo. A sequência foi muito mais longe, ainda adota o mesmo estilo gráfico do original, porém com uma qualidade indiscutivelmente superior. Os cenários são maravilhosos, cheios de cores e criatividade; as cidades são lindas e as dungeons então nem se fala, logo no começo já encaramos um cânion com um tom alaranjado super forte que realça a escolha artística, mais pra frente chegamos na cidade das apostas ilegais, Goldpaw, que fascina o jogador com sua eterna noite, luzes fortes e uma arquitetura em estilo chinês toda construída na base de uma montanha.
Evan e seus amigos são praticamente um desenho animado e já não dá mais para ver que são modelos poligonais, chegamos praticamente na perfeição. Até os NPCs são únicos e não uma tropa de xerox muito mais feios que os protagonistas. A qualidade agora é constante. Quando jogar experimente olhar atentamente cada NPC que encontrar, lhe garanto que não vai encontrar um igual ou algum mal feito e falo com propriedade pois confesso que procurei!
Um jogo com essa qualidade deve ter uma performance restrita, certo? Necas, joguei ele inteirinho no PS4 base e a promessa de 60 quadros por segundo que a Level-5 fez foi cumprida com exatidão. É tão suave que faz alguns outros RPGs parecerem um show de slides, fora o excelente uso do motion blur que sempre dá aquele tchan. No mapa-mundi e nas Skirmishes a taxa de quadros cai pela metade, preciso confirmar se isso só ocorre no PS4 normal ou se no PRO ele mantém a taxa de quadros do jogo padrão.
A parte do áudio é com certeza a maior fraqueza desse título, infelizmente. O jogo tem sim uma dublagem boa, o problema é que são bem raros e durante grande parte dos diálogos temos apenas texto. Confesso que mentalmente já estava lendo tudo com o sotaque inglês de Evan, mas não é a mesma coisa.
Joe Hisaishi volta para compôr uma das trilhas sonoras mais esquecíveis dos últimos anos. Longe de mim querer parecer preconceituoso, mas compositor de filmes fazendo trilha sonora de um jogo, ainda mais um RPG onde as faixas são repetidas constantemente, não me parece uma boa escolha. O tema da série é usado o tempo todo, desde a tela de início, passando pelo mapa-mundi e até em alguns momentos como da base onde nosso reino será construído. No começo é legal e te coloca em um ambiente familiar, porém cansa e as demais faixas são bem padrão, não consigo nem lembrar do tema de batalha para ter uma ideia.
Um jogo desse naipe merecia um trabalho musical mais elaborado, espero que se houver um terceiro jogo eles decidam expandir o departamento sonoro e consequentemente ir na luta para fazer um jogo praticamente perfeito. Ni no Kuni II tem em média 40 horas de jogo e quem for atrás de extras pode até dobrar esse tempo, mas independente disso ainda tem um tamanho excelente e não dá para cansar dele.
Sem sombra de dúvidas é um RPG de qualidade e um dos melhores da geração. A aventura de Evan e seus amigos não será esquecida tão facilmente. É um excelente jogo para quem está começando no gênero e mesmo aqueles que nem curtem muito RPG ele é recomendado, o desafio é baixo e a história vale cada segundo investido em Ni No Kuni II.
Pontos Positivos
- História envolvente e personagens carismáticos
- Sistema de batalha viciante
- A aventura em si é incrível, dá gosto de explorar cada cantinho
Pontos Negativos
- Dificuldade baixa
- Músicas sem inspiração
- Dublagem em poucos momentos
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