SaGa Frontier 2: Remastered
Se você é fã de SaGa, este é um momento especial. A equipe liderada por Kawazu conseguiu transformar o sucesso de alguns remasters ousados em algo ainda maior — com um novo jogo inédito e um remake completo(Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven, um dos melhores jogos de 2024 na minha opinião. que ajudaram a consolidar SaGa como uma das armas secretas da Square Enix.
Nesse contexto, o lançamento repentino de SaGa Frontier 2: Remastered pareceu uma jogada perfeita para testar a recepção da comunidade RPG. E, sinceramente, espero que funcione. Um novo SaGa já é motivo de alegria por si só, e este remaster é uma bela prova de como é possível preservar e ao mesmo tempo aprimorar um clássico.
Lançado originalmente para o PlayStation em 1999, SaGa Frontier 2 é uma mudança marcante em relação ao primeiro SaGa Frontier, que era um pouco mais “convencional” — pelo menos para os padrões da série. A fórmula típica de SaGa envolve múltiplos protagonistas, narrativa não-linear e sistemas profundos de desenvolvimento de personagens que recompensam a exploração e os riscos. Já Frontier 2 se parece mais com um livro de história interativo: os capítulos são apresentados em ordem cronológica, mas você pode avançar ou voltar se quiser. Cada episódio é listado em um menu, com títulos e datas que se encaixam num registro histórico maior. Embora você possa deixar passar algumas informações, a narrativa em si não muda com base nas suas escolhas ou descobertas.
A história principal de Frontier 2 acompanha dois protagonistas em jornadas paralelas que se desenrolam por décadas e eventualmente se cruzam. Gustave é um herdeiro ao trono que é exilado ao descobrirem que ele não possui habilidades mágicas. Do outro lado, temos Wil, um “Digger” que viaja o mundo em busca de relíquias mágicas chamadas Quells, e que acaba encontrando um artefato envolto em tragédias por onde passa. A ascensão de Gustave mostra o quão frágeis são as estruturas de poder humanas, enquanto a história de Wil é uma aventura mais fantástica que lida com conflitos entre família e dever.
Essas duas histórias funcionam como lados opostos da mesma moeda. A narrativa de Gustave é mais linear e foca no enredo, com menos batalhas. Já a de Wil é mais próxima daquilo que os fãs de SaGa conhecem e amam: cavernas misteriosas, esqueletos e a alegria de ver os números subirem nas estatísticas. Gustave traz mecânicas de combate mais restritas, personagens que entram e saem do grupo sem aviso, e até mesmo a durabilidade das armas é usada como elemento narrativo. Com Wil, o progresso é mais cumulativo, e você sente que está construindo algo ao longo da jornada.
Confesso que me atrapalhei um pouco no começo, visto que não lembrava muito bem do original. Mas a narrativa de Gustave, cheia de reviravoltas e desfechos emocionantes, acabou me conquistando de forma inesperada. Já a parte de Wil foi mais difícil no início, mas as novidades do remaster — como o sistema de herança de atributos e o bom e velho grind — tornaram a experiência bem mais fluida. Os visuais ajudam muito: sprites de personagens cheios de estilo combinam lindamente com os fundos pintados à mão, com um toque aquarelado que continua deslumbrante mesmo com o upscaling (dica: desligue o filtro, por favor!).
Estava quase colocando esse título no topo da minha lista pessoal, mas alguns elementos herdados do jogo original atrapalham a experiência, sendo mais incômodos do que nostálgicos.
Vamos começar pelas boas mudanças. Um problema comum no jogo original era que, ao apresentar novos personagens, eles não vinham com os atributos ajustados ao seu progresso — e o equipamento dos personagens que saíam do grupo ia embora junto. Isso gerava situações frustrantes, como ficar preso em uma masmorra sem itens ou personagens fortes. A solução no remaster é o Parameter Inheritance, que permite conectar dois personagens e compartilhar o crescimento de atributos.
Também foram incluídas versões do minigame do PocketStation, antes exclusivo do Japão, que agora roda em segundo plano e gera equipamentos. Isso ajuda a suavizar a curva de dificuldade, corrigindo o que parece ser mais uma falha de design do que um desafio intencional. Ver a Square Enix resgatar minigames perdidos do tempo é uma das decisões mais criativas e simpáticas desse remaster.
Agora, o ponto fraco: o sistema de duelos. A ideia aqui é trazer algo diferente do combate por turnos tradicional, mas a execução deixa a desejar. O jogo força lutas um contra um em que você escolhe ações com base no equipamento e habilidades do personagem, supostamente para criar novas técnicas. Na prática, parece que o jogo reduz a chance de descobrir habilidades no combate normal para te obrigar a usar os duelos.
E, como se não bastasse, seu personagem vira um modelo 3D borrado e estranho, em contraste gritante com os belíssimos sprites do restante do jogo. Duels não são apenas feios — são confusos, desnecessários e simplesmente atrapalham. Detestei. Deviam ter aprendido alguma coisa com Suikoden.
Alguns trechos da campanha trazem minigames de estratégia em grade, representando batalhas épicas em forma de puzzle. Em geral, são divertidos e leves — até que não são mais. Em determinado ponto, o jogo apresenta uma missão impossível, na qual você precisa resistir até a chegada de reforços. O problema é que a única solução viável exige conhecimento prévio e uma boa dose de sorte com o RNG. A frustração de repetir essa batalha, especialmente depois de entender o caminho certo, quase arruinou o clímax da história. E o pior: os desafios anteriores não te preparam em nada para esse momento.
VEREDITO
Quando tudo se encaixa e as jornadas de Gustave e Wil chegam ao fim, SaGa Frontier 2: Remastered se destaca por sua narrativa envolvente e abordagem única. É um jogo que oferece sistemas recompensadores e rejeita convenções, como todo SaGa que se preze. Mas os sistemas irritantes — especialmente os duelos — me fizeram hesitar em começar um New Game+.
Ainda assim, o remaster cumpre seu papel com louvor: melhora o que precisava, mantém a essência intacta e corrige problemas sem apagar suas marcas. Talvez não entre no topo do meu ranking da série, mas sem dúvida é uma adição digna a uma das franquias de RPG mais cultuadas da história.
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