Análises

Resident Evil: Village

8.5
Mais um ótimo capítulo para a franquia

Resident Evil Village não supera seu antecessor, mas entrega uma experiência intrigante e divertida

É fato que a franquia Resident Evil já passou por vários altos e baixos. Por mais que a grande maioria dos jogos estejam nos corações dos fãs por serem muito marcantes, alguns outros são de certa forma bem esquecíveis e não representam a experiência que um game da saga pode proporcionar aos jogadores.  

E o ponto mais baixo da franquia foi o lançamento de Resident Evil 6, lá em 2012. Depois daquela grande decepção, ficaram muitas dúvidas sobre como que a saga se ergueria novamente, e a resposta veio com Resident Evil 7, que conseguiu trazer novamente o survival horror dos games clássicos, agradando boa parte dos jogadores. 

E com o sucesso do sétimo game da franquia era óbvio que a história receberia uma continuação, e Resident Evil Village chega com esse objetivo. O oitavo game da saga possui a árdua missão de continuar a jornada de Ethan após os eventos do último game, mas será que ele consegue ser tão bom quanto Resident Evil 7? É isso que vamos descobrir hoje. 

Uma nova vida… ou não 

Após os terríveis acontecimentos em Louisiana, Ethan e Mia decidem recomeçar seu relacionamento em um local mais afastado, um país pacato da Europa. Alguns anos se passaram e suas vidas estavam melhores do que nunca, já que o casal teve uma filhinha chamada Rose. Contudo o ocorrido na residência Baker ainda atormentava os pensamentos de Ethan, que queria dar um basta nessas memórias. 

Porém a vida do protagonista vira do avesso quando Chris Redfield invade sua casa, assassina Mia e sequestra a filha do casal, tudo isso sem nenhum motivo aparente. Após o ocorrido, Ethan acorda em uma vila isolada, sem saber exatamente como chegou ali, mas sabendo exatamente o que fazer: descobrir a razão por trás dos horríveis atos de Chris e encontrar Rose

Se acostume com a vila, pois você passará um bom tempo nela!

É inegável que as tramas dos games da franquia são conhecidas por acontecimentos marcantes e “diferentões”, mas Resident Evil Village leva esse conceito a outro nível. Não direi muitos outros detalhes da trama para evitar possíveis spoilers, mas o desenrolar da história vai tomando proporções ainda mais inesperadas do que outros games da saga, algo que o diferenciou bem dos outros jogos.

Esse desenrolar também traz alguns momentos que irão explodir as cabeças dos fãs da saga e tornarão a trama ainda mais intrigante, momentos que, ao analisarmos com mais calma, fazem sentido naquele universo diferenciado de Resident Evil, por mais malucos que possam parecer. São esses os acontecimentos que fazem com que a saga seja marcante por si só, e os mesmos estão mais do que presentes aqui. 

Outro ponto que agrega e muito a narrativa de Village são os personagens, mas principalmente os vilões do game. Aquela pacata região possui alguns “lordes”, seres mais poderosos que os outros habitantes da vila, e que de certa forma são os líderes do lugar. Cada lorde, como a Lady Dimitrescu e o Heisenberg, é único e se diferencia bem dos outros, fazendo com que todos possuam características próprias e agreguem ainda mais aos momentos em que cada um é aprofundado na trama. 

Dimitrescu vai te dar trabalho, ein!

Contudo não são apenas os vilões que possuem personalidades marcantes, mas Ethan também consegue agregar e muito para a narrativa. Em Resident Evil 7, o mesmo era um personagem completamente esquecível e ficava desfocado quando comparado com a família Baker. Mas aqui o mesmo recebe um destaque maior e consegue ser muito mais carismático do que no game antecessor.  

Há muito tempo os fãs já vinham pedindo para que a Capcom dublasse os games da franquia, e agora os nossos pedidos finalmente foram ouvidos, com Resident Evil Village chegando totalmente dublado. E a dublagem é excepcional, cada voz combina muito bem com os personagens, trazendo de maneira espetacular as emoções que cada um sente durante o desenrolar da trama. 

Algo que me incomodou um pouco em Resident Evil 7 foi a jogabilidade. Muitas pessoas não gostaram da mudança de câmera para primeira pessoa, mas isso não me incomodou muito, já que gosto muito dessa perspectiva diferente. O que me incomodou foi o fato da câmera mais atrapalhar do que ajudar, já que a mesma não é muito precisa. Porém aqui os controles são muito mais fluídos e colaboram mais na jogatina, demonstrando uma evolução em relação ao último game. 

Essa evolução também é perceptível em outros aspectos, como na velocidade de Ethan, que está mais rápido aqui, e na possibilidade de empurrar inimigos logo após defender ataques dos mesmos. O mais bacana é perceber que existe uma explicação lógica para que isso tenha acontecido, já que após o trauma em Louisiana, Ethan acabou fazendo um treinamento militar para se prevenir de qualquer imprevisto. 

Ethan está muito mais ágil em Village.

Outro ponto em que Resident Evil Village supera seu antecessor são nos puzzles. Os enigmas do sétimo game eram muito simples e não agregavam em nada a jogatina, já que a grande maioria era baseada em uma mecânica de criar sombras que ficava repetitiva bem rapidamente. Já em Village todos os puzzles possuem suas características próprias, sejam os mais simples, que você resolve naquela área específica, ou os mais complexos, que exigem um pouco mais de exploração pelos cenários para serem resolvidos. 

Acredite, esses puzzles mais complexos trazem uma variação muito bacana para a jogatina e aquela mesma sensação que os games clássicos passavam. Mas não se preocupe, caso esses quebra-cabeças não sejam o seu forte você não passará por muitos perrengues, já que por mais complexos que alguns possam ser, é apenas questão de tempo e de pensar um pouquinho para chegar na resolução dos mesmos. 

As referências e inspirações em outros games da série são facilmente perceptíveis aqui, mas especialmente as de Resident Evil 4. Os próprios cenários lembram muito a ambientação do quarto game da série, principalmente por conta da vila e do castelo, mas não apenas isso, o “mercador” também está de volta. Aqui ele se chama Duque, e oferece diversas melhorias e itens que ajudarão o jogador a progredir na campanha. Além de colaborar com sua progressão, o Duque consegue ainda ser tão icônico quanto o mercador do quarto game, trazendo uma sensação de mistério e dúvidas em volta do mesmo. 

As comparações com Resident Evil 4 são inegáveis.

Algo que deve ser destacado também é a variação de inimigos, que traz uma diversidade muito boa para a jogatina. É claro que os que mais se destacam são os lycans (aqueles inimigos muito similares a lobisomens), que darão um bom trabalho para os jogadores por conta de sua resistência. Mas não são apenas eles que darão as caras durante a jornada de Ethan, já que algumas regiões do mapa também possuem inimigos próprios, que inclusive possuem diferentes características, indo desde suas movimentações até os seus ataques. As boss fights do game também fazem jus ao que a série sempre se propôs a entregar, mas no geral aqui a Capcom se arriscou um pouquinho mais nas formas que as mesmas são apresentadas. Não darei muitos detalhes das mesma, mas pode esperar pelos “chefões” mais diferentões da saga.

Falando em regiões do mapa, o mesmo é um ponto a ser destacado no game. Por mais que não seja tão amplo quanto alguns estavam esperando, o mapa de Resident Evil Village consegue ser vasto o suficiente para oferecer boas possibilidades de exploração ao jogador, deixando o mesmo até perdido em certos momentos (algo que colabora para o clima que o jogo tenta passar). Tanto a vila quanto o castelo se destacam dentre todas as regiões, justamente por possuírem mais cenários e deixarem o jogador explorar muito mais os ambientes. 

É inegável que a sonoplastia da franquia é algo que sempre acaba recebendo um grande destaque em cada game, e em Village não é diferente. É incrível como os efeitos sonoros conseguem dar medo ao jogador mesmo nos momentos em que não há inimigo algum por perto, e como as músicas também passam exatamente a sensação que o game procura transmitir em cada momento, seja de adrenalina nos momentos mais tensos, ou o de calma, quando chegamos nas benditas safe rooms. 

A sonoplastia desse game é incrível!

A ambientação e os gráficos de Resident Evil Village também são fenomenais. As diferentes regiões possuem características próprias, passando aquela sensação de que estamos realmente avançando no game. Os visuais também são espetaculares, joguei em um Xbox One S e mesmo sendo uma versão de geração passada, sem ray tracing ou demais melhorias, os gráficos me impressionaram bastante e conseguiram superar os últimos games feitos na RE Engine

Um modo de jogo que retorna aqui em Village é o “Modo Mercenários”, que está no coração de muitos fãs da franquia. Por mais que a variação nesse game não seja a mais icônica e divertida, consegue saciar muito bem a vontade de jogar esse modo novamente, agora inclusive nessa nova perspectiva em primeira pessoa. O mesmo pode ser desbloqueado após a campanha principal ser finalizada. 

O fator replay também se faz presente em Resident Evil Village, algo que consegue trazer ainda mais horas de jogatina. Após finalizar o game, você poderá adquirir diversos itens, como munição infinita para as diversas armas que Ethan adquire durante a gameplay. É possível também jogar em quatro dificuldades diferentes, sendo que a última (a mais difícil), traz diversas alterações na jogatina, fazendo com que o fator surpresa seja alto ao jogar.

Porém algumas coisas me incomodaram enquanto eu estava jogando. Por mais que os games da franquia não sejam conhecidos por terem longas durações, a de Village acabou me decepcionando bastante. Finalizei o jogo com oito horas e quarenta minutos de jogatina, um tempo menor do que o seu antecessor, por exemplo. É claro que eu não completei tudo o que o mapa tinha a oferecer, mas sempre procurava explorar tudo que eu conseguia, e esse tempo acabou sendo muito mais rápido do que eu esperava, ainda mais pelo fato do game possui um mapa “semi-aberto”.

A duração do game acaba sendo curta até demais.

Por mais que os visuais sejam excelentes, percebi alguns problemas com certas texturas do game na versão de antiga geração. Em vários momentos era perceptível uma longa demora para que as mesmas carregassem, e em outros elas simplesmente estavam em baixíssima resolução, se diferenciando muito do restante do cenário. É claro que esses problemas não interferem na jogatina, mas é impossível passar e não perceber isso.

Mas o que definitivamente mais pode incomodar os jogadores no geral, principalmente os fãs, é a ação presente no game. Esqueça aquele survival horror de Resident Evil 7, aqui em Village você não sente aquela necessidade enorme de administrar seus recursos, já que munições e itens de cura se fazem muito presentes pelos cenários. Consequentemente, a tensão é muito menor no game, é claro que existem momentos em que o jogador ficará tenso e tomará alguns sustos orgânicos durante a jogatina, mas são poucos. No geral essa ação não me incomoda muito, mas devo admitir que certos momentos ultrapassaram os limites que eu estava esperando para o game, e nesses momentos a única coisa que eu conseguia pensar era: “Isso aqui realmente é Resident Evil?” de tão forçados que eram até mesmo para a saga, e acabavam deixando a jogatina nessas partes específicas um tanto quanto maçante.

Veredito

Resident Evil Village é uma montanha-russa de emoções, indo desde momentos tensos até outros cheios de adrenalina. A trama também foge um pouquinho da proposta da franquia, indo para um lado mais folclórico e medieval, mas que traz várias reviravoltas durante o seu desenrolar. As inspirações em games mais antigos da saga também foi um grande acerto, trazendo aquela ótima sensação de reviver momentos muito bons.

Por mais que o mesmo não seja superior ao seu antecessor, Village consegue ser tão divertido quanto, ainda mais pela volta do querido Modo Mercenários, proporcionando uma experiência muito bacana e sendo mais um ótimo capítulo dessa franquia tão querida. Resident Evil Village está disponível para Xbox One, Xbox Series S|X, PlayStation 4, PlayStation 5, PC e Google Stadia.

Pros

  • Trama intrigante e cheia de surpresas
  • Sonoplastia e gráficos de primeira
  • Jogabilidade mais fluída
  • Vilões memoráveis
  • Volta do Modo Mercenários
  • Dublagem espetacular

Contras

  • Curta duração da campanha
  • Problemas nas texturas (versão de antiga geração)
  • Excesso de ação pode incomodar várias pessoas

Lucas Nunes
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