Análises

The Legend of Heroes: Trails Through Daybreak

9.5
A falcom atingiu um novo patamar com essa obra-prima dos RPGS

Nem posso me dar ao luxo de dizer que me surpreendi positivamente com Daybreak porque isso tem sido uma constante, praticamente todo ano temos um novo Trails pra jogar e esse novo lançamento da FALCOM tem grandes chances de ser o jogo do ano na minha humilde opinião.

Lançado originalmente em 2021 no Japão(chamado de Eiyuu Densetsu: Kuro no Kiseki), finalmente chegou ao ocidente o décimo-primeiro jogo da lendária saga Trails. Esse jogo marca o começo de um novo arco, trazendo mudanças drásticas em relação aos demais.

Para quem está chegando de paraquedas nessa série, irei brevemente explicar onde The Legend of Heroes: Trails Through Daybreak(que nome!) se encaixa. Primeiramente confira a imagem abaixo:

Lista por data(Créditos da imagem: RPGfan.com)

  • The Legend of Heroes: Trails in the Sky (2004 no Japão, 2011 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails in the Sky SC (2006 no Japão, 2015 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails in the Sky the 3rd (2007 no Japão, 2017 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel (2013 no Japão, 2015 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel II (2014 no Japão, 2016 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III (2017 no Japão, 2019 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV (2018 no Japão, 2020 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails from Zero (2010 no Japão, 2022 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails to Azure (2011 no Japão, 2023 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails into Reverie (2020 no Japão, 2023 no Ocidente)
  • The Legend of Heroes: Trails Through Daybreak (2021 no Japão, 2024 no Ocidente)

Daybreak se passa no ano de 1208 de acordo com o calendário de Zemuria(nome do continente onde se passam todos os jogos) e como você deve ter percebido, a série Trails possui acontecimentos muito próximos um dos outros, e em alguns casos até se passando simultaneamente como é o caso de Zero/Azure com Cold Steel. Diante disso, é impossível dizer que você vai ter um aproveitamento de 100% ao começar sua jornada com Daybreak, porém ele é sim um excelente ponto inicial para aqueles que não possuem mais de 800 horas livres(sem exageros) pra terminar todos os jogos anteriores, palavra de quem jogou todos eles.

Agora vem comigo que vou mostrar pra vocês nesse review super especial os motivos para embarcarem nessa incrível jornada.

HISTÓRIA

Não tem como iniciar um review de um RPG de forma diferente, ainda mais a série Trails. Todo o prestígio que essa franquia da FALCOM recebeu ao longo dos anos muito foi por conta de sua história e lore. Temos aqui em Daybreak o peso de 10 jogos anteriores nas costas e essa construção de mundo fica extremamente evidente até pra quem tá jogando Trails pela primeira vez. Nesse novo arco temos um novo protagonista chamado de Van Arkride, também conhecido como Spriggan(motivo disso não importa agora), dono de um escritório chamado simplesmente de Arkride Solutions.

Feri, Agnès e Van de boa na capital de Calvard, Edith.

De forma semelhante aos Bracers, que são especialistas em investigação e combate para proteger os civis, a linha de trabalho de Van é totalmente voltado ao dinheiro que os trabalhos possam proporcionar, sejam eles morais ou imorais. Dito isso é evidente logo de cara que nosso protagonista não é aquele cara “perfeitão” que nem os demais da série eram e isso acaba dando um frescor pra narrativa. Van é um dos personagens mais incríveis que já vi em um jogo, sendo bem imprevisível e tendo um passado digamos que, complicado. Claro que ele não está sozinho nessa aventura, diversos outras pessoas entram no grupo e simplesmente todos são bem construídos, infelizmente não tenho como descrever todos de forma detalhada senão o review ficaria gigante.

A história começa de fato quando Agnès, uma estudante, chega no escritório de Van com um pedido inusitado. Após relutar bastante ele acaba aceitando a proposta e com isso acaba se metendo num rolo inimaginável. Não vem ao caso detalhar o enredo pra vocês aqui, mas já digo que temos algo bem especial nesse jogo, apesar de ainda ter muita coisa pra processar, eu coloco Daybreak no topo da série nesse quesito. Só que Trails não se resume apenas em contar uma história linear sob o ponto de vista de um protagonista, o lance aqui é que o mundo funciona independentemente das tuas ações.

Explorar a cidade durante a noite pode trazer surpresas interessantes.

Pra você ter uma ideia, todos os NPCs conversáveis(existem alguns não-interativos, servindo mais pra enriquecer os ambientes) tem nome próprio, possuem personalidade e seguem sua vida sem servir apenas como um totem de informações, algo comum em grande parte dos RPGs. A cada evento que ocorre em Daybreak, os NPCs mudam suas falas e normalmente mudam até de local, sendo encontrados em lugares totalmente diferentes do que estavam antes. O detalhismo é tão grande que chega a assustar, nem sei como eles se organizaram pra não se perder nessa montanha de informação, ainda mais considerando o tamanho que é a FALCOM.

E gente, isso é completamente opcional, você pode simplesmente ignorar todo mundo e focar no objetivo… bem, fazer isso implica em ter uma experiência bem menos imersiva, fazendo uma comparação bem aleatória eu diria que seria como você terminar um Grand Theft Auto sem sequer entrar em um veículo, usando eles somente quando o jogo obriga. Eu sei que terminando esse review você vai pelo menos querer experimentar a demo generosa que a NIS America disponibilizou e por favor, dê uma chance a esses carinhas que povoam as cidades, você vai se surpreender.

GAMEPLAY

Dá pra dizer que até a existência de Daybreak os jogos da série Trails eram 100% RPGs baseados em turnos, porém a FALCOM decidiu mudar bastante o sistema de batalha e dar uma cara nova. Agora temos um sistema híbrido de combate em tempo real com turnos, e como isso funciona na prática? Então, quando estamos explorando algum território que conta com inimigos como dungeons nós podemos atacar eles diretamente como se fosse um jogo de ação, podendo também se esquivar com direito até a um Perfect Dodge caso você o faça no momento certo. A ideia é que você tente atordoar o inimigo antes de entrar no combate de turno estratégico, permitindo várias vantagens, entretanto se quiser o jogador também pode simplesmente derrotar os monstros apenas batendo e esquivando, algo que eu fazia sempre quando estava querendo me livrar de inimigos fracos.

As lutas são simplesmente viciantes.

Algo bem interessante desse sistema de ação é que o personagem que você está controlando pode ou não desferir mais danos, dependendo da fraqueza dos inimigos. Há monstros que são fracos contra ataques físicos e outros fracos contra ataques mágicos por exemplo, meio que obrigando o jogador a explorar os demais membros da equipe. Apesar de ter bastante importância, esse método de batalha mais de ação não substitui o clássico sistema de turnos já conhecido da galera e é nele que realmente nos aprofundamos, visto que as batalhas de chefes serão sempre abordadas dessa forma. Os combates por turno são extremamente divertidos, há uma variedade gigantesca de possibilidades e elementos estratégios que farão você sentir que cada combate é único.

Ao iniciar um turno podemos controlar livremente o personagem e isso não é simples perfumaria, há diversos ataques especiais que possuem vantagem se você o desferir em uma posição específica, o primeiro Craft de Van por exemplo dá mais dano caso você consiga atingir o inimigo de lado e o melhor é que há uma indicação de que você está na posição correta(aparece escrito “side” nesse caso), minimizando a chance de erro. As Arts ou magias também estão de volta e cheias de novas possibilidades, o jogo realmente pede que você não só preste atenção nas fraquezas elementais como também nas fraquezas de status, como por exemplo o status Burn que, como o nome diz, queima o inimigo constantemente. Temos aqui um dos mais divertidos sistemas de combates da atualidade e com certeza o mais divertido que a FALCOM já criou, quando tu pensa que os caras já fizeram de tudo, chega um Daybreak e revoluciona.

Que tal explorar uma caverninha?

Claro que não só de combate vive o jogo, você terá diversas cidades pra explorar, side-quests das mais variadas(uma mais fantástica que a outra) e também poder passar um tempo mais íntimo(não pense besteira) com seus amigos durante à noite. Em Daybreak foi introduzido um sistema chamado LGC Alignment, à medida que você avança na história e nas missões secundárias, suas escolhas farão com que os três valores de alinhamento de Van, LAW, GRAY e CHAOS, flutuem. Esses valores não afetam apenas algumas das estatísticas de combate de Van, mas também alguns pontos posteriores da trama, as forças aliadas que a Arkride Solutions pode convocar e quais inimigos estão contra eles, portanto pense bem nas suas atitudes!

GRÁFICOS

Em Trails into Reverie, a FALCOM extraiu ao máximo tudo que aquela engine cansada dos jogos anteriores podia oferecer e no finalzinho do jogo aparece uma cena bem curta, porém com um visual bem diferente do visto até então. Aquilo lá nada mais era do que uma prévia da nova engine que a empresa passou a usar em Daybreak e vou te dizer, a coisa aqui ficou bem legal. Lógico que não se trata dos melhores gráficos do mundo e muito menos a par do que a tecnologia atual pode proporcionar, porém o trabalho de arte ficou tão bom que às vezes até parecia um jogo AAA de uma produtora grande. As cidades agora possuem muito mais detalhe, você pode entrar nos estabelecimentos sem loading e até pode ver dentro deles por fora através das janelas. Os efeitos de luz agora são bem mais realistas, por consequência as sombras também ficaram bem detalhadinhas, sejam elas causadas pelo cenário ou mesmo pelos próprios personagens.

Olha que legal esse reflexo dos personagens na lataria do carro.

Outra melhoria gigante ficou nos modelos poligonais dos personagens, eles estão simplesmente lindos e isso se deve muito a qualidade dos materiais como tecidos e couro, achei bem bacana. Algo bem aleatório que gosto de fazer em jogos é observar a skybox, em Daybreak temos um céu tão bonito que passei um bom tempo só tentando adivinhar as formas das nuvens, lembrando que não tem nada demais tecnicamente, não vá achar que o céu tem qualidade de um Flight Simulator, mas mesmo assim o trabalho dos artistas foi primoroso.

Quem jogou os demais jogos da série vai lembrar do qual “travadão” a animação dos personagens era e felizmente aqui temos uma evolução gigantesca. Com certeza foi usado motion capture pela primeira vez, fazendo um bem danado para a imersão das cenas eletrizantes que a história de Daybreak nos mostra, essa engine realmente veio pra ficar e agora só resta torcer para que a FALCOM continue melhorando ainda mais ela. Eu joguei o jogo inteiramente no PlayStation 5 e senti algumas quedas somente em certos S-Crafts como o do Aaron, porém de resto temos 60 FPS cravadinhos e deliciosos o tempo todo.

SOM

Se você me perguntasse agora, “David, o que tá tocando na sua cabeça agora?”, eu responderia “trilha sonora de Daybreak“. Desde que comecei a jogar esse jogo eu tenho estado com a sua trilha em loop na minha cabeça e os motivos são bons e ruins ao mesmo tempo. É sabido que nem toda música que gruda na nossa cabeça é necessariamente boa, afinal seria muito bom ter um controle desses, né? Então, as músicas de Daybreak são em sua maioria boas, existem algumas excelentes e outras bem fraquinhas, como esse assunto é algo muito pessoal é até difícil explicar, mas vou tentar da melhor forma.

Van com certeza falou alguma besteira.

Felizmente as faixas que mais tocam como as das cidades, de batalha e alguns eventos costumam ser de boa qualidade, entretanto “boa qualidade” ainda é pouco se tratando do nível que a série tem apresentado ao longo dos anos. A FALCOM é uma das empresas que mais valoriza esse aspecto em seus jogos e infelizmente Daybreak fica bem atrás de outros jogos dela, dá pra dizer que é acima da média se colocar todos os jogos do gênero no mesmo balaio, mas comparando com seu legado se torna lamentável. Resta agora torcer para que as coisas melhorem nos jogos futuros!

Já a dublagem só tenho elogios, joguei em inglês e fiquei super feliz com o resultados, os atores realmente deram tudo de si, sendo consideravelmente superior ao que foi visto na série até então.

VEREDITO

Nem posso me dar ao luxo de dizer que me surpreendi positivamente com Daybreak porque isso tem sido uma constante, praticamente todo ano temos um novo Trails pra jogar e esse novo lançamento da FALCOM tem grandes chances de ser o jogo do ano na minha humilde opinião. Uma trama bem bolada, personagens carismáticos, sistema de batalha inovador e desafio na medida faz com que Trails Through Daybreak te prenda no sofá por 80 horas das quais você nem irá sentir, esse é o novo rei dos RPGs!

David Signorelli