Trails in the Sky 1st Chapter
Anunciado de maneira inesperada durante uma Nintendo Direct de 2024, Trails in the Sky 1st Chapter é um remake completo de um dos melhores RPGs já criados. Eiyuu Densetsu VI: Sora no Kiseki FC, lançado exclusivamente no Japão em 2004, marcou um novo começo para a franquia Eiyuu Densetsu (conhecida como The Legend of Heroes no Ocidente) e foi um grande sucesso.
Creio que nem mesmo a FALCOM, criadora da série, previu que ele alcançaria tanta fama. Hoje em dia, é a franquia mais relevante para a empresa, ultrapassando significativamente outras séries como Ys e Xanadu. Desde aquele momento, tivemos 13 títulos e, surpreendentemente, todos os jogos se passam no mesmo universo, seguindo uma linha do tempo contínua. Veja:

Trata-se de algo inédito no universo dos videogames e, embora possa parecer incrível, o custo de entrada é excessivamente alto. Ao longo de 11 anos, joguei todos esses jogos. Em 2014, terminei Trails in the Sky FC em um PC muito fraco e, em 5 horas, já era fã. Esse ano mesmo terminei o Trails through Daybreak II(confira o review aqui) e agora estou com mais um nas mãos, porém dessa vez a pegada é diferente.

Chegou o melhor momento para você ingressar no mundo de Zemuria e, se já for fã, reviver as aventuras de Estelle e Joshua em um dos melhores remakes da indústria dos videogames. Então, vamos lá!
HISTÓRIA
Começo essa análise justamente com o ponto mais importante da série que é a sua história. Trails in the Sky 1st Chapter inicia de forma bem desprentenciosa, com a protagonista Estelle Bright e seu irmão Joshua Bright dando os primeiros passos a se tornarem Bracers. Explicando de forma resumida, os Bracers são especialistas em investigação e combate, cuja função é proteger civis e manter a estabilidade de suas respectivas regiões. Eles ajudam a comunidade de várias maneiras, como exterminando monstros, prevenindo crimes, encontrando itens perdidos e fazendo escoltas de pessoas e mercadorias. A Guilda dos Bracers(Bracer Guild), que estabeleceu filiais em todo o continente, gerencia os assuntos dos bracers em cada região. A Guilda também recruta indivíduos capazes para trabalhar como recepcionistas em suas filiais, embora não tenham necessariamente as habilidades necessárias para participar de trabalhos de campo ativos.

O pai dos irmãos, Cassius Bright, também é um Bracer. Logo no início, ele some para resolver problemas maiores, deixando a dupla aprender a andar com as próprias pernas. O grande atrativo dessa aventura é o desenvolvimento do mundo, pois grande parte dos eventos se desenrola de forma lenta. Entretanto, isso não significa necessariamente algo chato. Estelle e Joshua conhecerão praticamente todas as regiões principais de Liberl (país onde se passa o jogo), e em cada uma delas haverá uma série de missões obrigatórias e opcionais para cumprir. Cada pedacinho desse lugar está repleto de personagens marcantes e localidades que você dificilmente esquecerá.

Posso afirmar sem exageros que, mesmo mais de dez anos após ter finalizado a versão original, ainda me lembro de cada localidade com detalhes, de tão marcante que foi a minha passagem por elas. Isso não é porque tenho uma memória excelente, mas porque a Falcom quis criar um mundo extremamente crível, com a sensação de que realmente existe vida nesses lugares. Isso deixa ainda mais clara a existência dos NPCs mais bem desenvolvidos dessa indústria. Você pode pensar que estou exagerando, mas garanto que cada um dos centenas de NPCs espalhados pelo jogo são meticulosamente bem escritos, com personalidades distintas, e vivem suas vidas independentemente de Estelle fazer parte delas ou não.

Esse é um aspecto sobre o qual falo em todas as minhas análises da série Trails, e novamente reforço que você estará se fazendo um desserviço se deixar de conversar com os populares em cada um dos lugares. Embora possa se tornar um esforço considerável, visto que, a cada evento, todos mudam suas falas ou se deslocam para outras partes das cidades, é talvez o maior charme dessa linda série de RPGs. Quanto à trama central, você pode esperar uma história bem elaborada, personagens inesquecíveis e uma conclusão que vai deixá-lo de queixo caído.
GAMEPLAY
De que adiantaria ter uma superhistória se, de fato, jogar esse RPG não fosse bacana? Certíssimo. Aqui temos Trails em sua melhor forma. O sistema de combate é híbrido: é possível lutar como em um RPG de ação no estilo Ys ou em turnos, como a série sempre foi desde sua concepção. Esse sistema não é exatamente novo; ele foi introduzido em Trails Through Daybreak (2024), e aqui foi aprimorado. Embora seja possível derrotar os inimigos comuns apenas atacando e se esquivando dos golpes, a ideia central é que o jogador nocauteie o adversário primeiro e, depois, entre no combate por turnos com vantagem.

Durante as lutas por turnos, você continua podendo mover o personagem pelo cenário, mas com uma limitação imposta pelo seu atributo de movimento. Afinal, o posicionamento é fundamental para obter os melhores resultados. Muitos golpes e magias especiais (Crafts e Arts, respectivamente) possuem uma área de atuação, portanto é necessário prestar bastante atenção ao que vai fazer. Por exemplo, as Arts necessitam de um tempo de ativação para serem desferidas. Se você mirar uma Art, como Aerial, em um inimigo e ele se deslocar durante o turno, quando a magia for sair, o jogo dirá que não há alvos disponíveis. Portanto, não adianta querer atacar coisas ao acaso, principalmente em dificuldades como Hard e Nightmare.
Existem tantas variações nesse sistema de batalha que o considero um dos melhores da atualidade. Ele é muito divertido e agrada até aqueles que acham as batalhas por turno tediosas, resolvendo um “problema” que assola esse tipo de jogo. Fora das batalhas, temos a já clássica exploração de masmorras com alguns quebra-cabeças leves (nem dá para considerá-los, mas enfim) e algumas missões sem relação direta com combates, como as de um certo “Ladrão Fantasma”, já característico da franquia. O controle também é absolutamente perfeito; dá para se divertir só de andar para lá e para cá com Estelle e sua trupe. Trails in the Sky 1st Chapter é, sem sombra de dúvidas, uma aula de como fazer um RPG focado totalmente na diversão, sem burocracia.
GRÁFICOS E SOM
Com certeza, a parte que mais chama atenção em um remake é a parte visual, e a Falcom simplesmente fez um milagre aqui. Originalmente, Trails in the Sky era um jogo com cenários 3D e visão superior, no maior estilo Grandia e Xenogears. Era muito charmoso, e esse estilo gráfico perdurou até o lançamento de Trails of Cold Steel, que adotou uma engine totalmente em 3D. Honestamente, a série nunca impressionou graficamente, e evidentemente isso nunca foi a maior preocupação do estúdio. Entretanto, a parte artística compensava um pouco as limitações.

Com esse jogo, as coisas mudaram um pouco, pois aqui temos gráficos 3D no estilo anime belíssimos, que rivalizam com jogos de alta produção, como Tales of Arise, por exemplo, sendo até melhores em alguns momentos. Poderia dizer que Genshin Impact seria uma comparação mais válida com Trails, e olha que Genshin é um jogo que arrecada uma fortuna absurda. A Falcom decidiu implementar uma espécie de shader que dá um aspecto sombreado muito bonito aos personagens. Pelas fotos que estou colocando nesta análise, já é possível perceber bem esse nível de detalhe. Os modelos 3D não são apenas impecáveis, com animações maravilhosas, mas os cenários também receberam um capricho ímpar.
Há uma grande variação de texturas, efeitos de iluminação em tempo real, reflexos usando screen-space reflection (SSR) até em objetos pequenos, como as ombreiras de Estelle e Joshua, e magias com partículas bem elaboradas, e tudo isso rodando até 120 FPS! Sim, mesmo sendo um dos jogos de RPG mais bonitos dos últimos tempos, consegui setar o jogo em 120 FPS no PS5 base (o console utilizado neste review), pois tenho uma televisão com essa tecnologia. A Falcom impressionou.

A parte sonora também é um acerto. As músicas clássicas da série voltaram com um novo e excelente arranjo, mas, se você for mais purista, pode optar pelas faixas originais ou pelas da versão Evolution, que foi uma espécie de remasterização exclusiva para o PS VITA no Japão. Todas são perfeitas. Falar das músicas de Trails sempre me enche de alegria, pois, ao escrever, músicas como “A Cat Relaxing in the Sun” e “Sofisticated Fight“, tema de batalha, começam a tocar na minha cabeça e me animam. Você vai se arrepiar quando ouvir a versão desse remake de “Silver Will“. A dublagem em inglês é muito boa, e fiquei feliz por terem resgatado dubladores de títulos anteriores para emprestarem suas vozes a este jogo, em especial o dublador de Olivier, que está impecável.
VEREDITO
Nunca houve um momento melhor para conhecer essa maravilhosa franquia de RPGs do que agora. A Falcom acertou muito bem o timing do lançamento, e o trabalho no próprio remake mostra que a empresa pode, sim, bater de frente com os gigantes da indústria. Trails in the Sky 1st Chapter é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores jogos do ano, e, se tudo der certo, será o grande momento da franquia para sair do seu nicho e conquistar novos fãs. Não perca tempo: jogue a demo, que contém todo o prólogo, e veja que o que está escrito aqui não tem absolutamente nada de exagerado.
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