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15, mar 2018
Yakuza 6: The Song of Life – Análise
O auge da série Yakuza
Yakuza 6 é divertido, intrigante e vale cada centavo. São várias horas de diversão num mundo realista e com muita coisa pra fazer. Não consigo acreditar que a SEGA fez um jogo ainda melhor que Yakuza Zero, mas cá está a obra-prima da empresa.

É amigos, chegamos finalmente no último episódio da saga de Kazuma Kiryu com a chegada de Yakuza 6: The Song of Life. Foram 13 anos reais de jornada até esse momento e sua despedida será sentida pelos fãs que estiveram lado a lado com o Dragão de Dojima e seus amigos nessa versão fictícia de Tokyo e seu distrito da luz vermelha, Kamurocho.

A SEGA é uma empresa com um catálogo de títulos de dar inveja a qualquer outra, possui franquias fantásticas que deram vida a personagens inesquecíveis. Sou fã da SEGA desde que comecei a jogar videogame e sinceramente não imaginava que Yakuza fosse passar Shenmue, Phantasy Star ou mesmo Sonic the Hedgehog como a série de jogos da SEGA que mais amo.

Como deu para perceber, eu sou um fã dessa empresa e nunca deixei de ser e mesmo que muitos tenham considerado os últimos anos dela fracos eu vejo que existem alguns núcleos lá dentro que ainda brilham, como a equipe de Toshihiro Nagoshi, o criador da série Ryu Ga Gotoku ou como foi conhecido aqui no ocidente, simplesmente Yakuza. Mas chega de mais delongas e vamos lá!

Yakuza 6: The Song of Life traz Kiryu de volta à cena, agora com 48 anos de idade, já não dá para dizer que ainda é um homem “imortal” como outrora. Suas fraquezas psicológicas e físicas são evidentes e esse episódio mostra bem essa situação. Falando em Kiryu, desde o Yakuza 3 não tínhamos somente ele como personagem jogável e em Song of Life nós controlamos somente ele, do começo até o fim.

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KAMUROCHO NOVAMENTE

Após os acontecimentos em Yakuza 5, para que Haruka pudesse viver com as crianças do orfanato Sunshine, Kazuma Kiryu decidiu ficar “limpo”. Foram 3 anos na cadeia com objetivo de obter felicidade e essa compensação foi um mal necessário. Mas mal soubera que esse pequeno intervalo de tempo iria causar desordem em suas vidas.

Em 2016 Kiryu foi libertado da prisão e logo informado da dura realidade pelas crianças do orfanato. O desaparecimento de Haruka, que por medo de parecer uma má influência para as crianças, subitamente desapareceu.

Eis que nosso herói volta a Kamurocho e a cidade mudou bastante. A máfia chinesa está em constante guerra com a Yakuza, causando uma situação perigosa para os cidadãos desse pequeno distrito de Tokyo. Sem pistas, Kazuma vai atrás de seus amigos e por via deles descobre que Haruka foi atropelada e está em coma, não sendo o bastante também aparece o filho dela, Haruto, do qual Kazuma não tinha consentimento.

Kiryu se encontra numa situação complicada, o governo quer colocar Haruto em um orfanato pois Haruka não tem condições de criá-lo e Kazuma não é pai de sangue dela, portanto não tem direito da guarda da criança.

Sem maiores surpresas, Kiryu decide pegar Haruto e ir atrás do pai da criança atrás de respostas e a partir desse ponto o jogo começa de verdade. A motivação de Kiryu é forte e ele fará de tudo para descobrir o que aconteceu com Haruka nesses 3 anos, o desenrolar da trama vai te prender e os novos personagens são tão bons quanto os que apareceram nos jogos anteriores.

Para quem nunca jogou Yakuza e não está entendendo nada, fique tranquilo. Apesar de já ser o sétimo jogo da franquia principal (lembrando da existência de Yakuza 0 para fechar essa conta), cada jogo tem uma história única e mesmo os antigos personagens tendem a serem “reintroduzidos” de certa forma, gerando uma forma de familiaridade entre novos jogadores e o universo. É algo meio complicado de explicar.

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A história é definitivamente a melhor parte desse jogo, a trama é tão bem escrita que faz as 50 horas necessárias para fechar a história parecerem 10. Existe um foco maior aqui, pois como disse anteriormente só controlamos Kazuma, então não fica aquele sentimento de se perder na linha dos acontecimentos. Não somente a história principal é incrível, como os famosos side stories também, em comparação aos jogos mais recentes da série aqui temos em menor quantidade, porém agora todos tem um cuidado especial e o fato deles serem dublados traz um charme adicional.

A NOVA ENGINE

Talvez a maior mudança da série até agora seja a nova engine que Yakuza 6 trouxe. Apelidada simplesmente de Dragon Engine  (nome bem apropriado), ela deu vida nova para o pequeno mundo de Yakuza. A diferença gráfica entre Song of Life e os demais títulos de Yakuza é surreal. O trabalho de luz é impressionante e quase foto-realista com momentos que parece que estamos dentro de Tokyo, sem exageros!

Kamurocho está muito mais detalhada e agora não existem mais telas de carregamento para entrar nos lugares; você simplesmente abre a porta e está lá. Durante o dia é ainda mais legal pois ao entrar em algum lugar o jogo trabalha a luz como se nossos olhos estivessem se adaptando a uma luminosidade diferente, coisa que os jogos de corrida atuais usam muito ao entrar e sair de um túnel. O mesmo vale quando estamos do lado de dentro e vemos o mundo do lado de fora com uma luz mais forte, isso tudo com pedestres passeando e carros circulando pelas ruas da cidade.

Agora existem alguns lugares internos para explorar que não tem bem uma função específica, mas permitem que você ande por eles. Certa vez entrei num prédio aleatório e fui subindo lances de escada até encontrar uma sala para alugar com uma janela que dava para a rua, fui até a janela e de lá fiquei observando o movimento. Pequenos detalhes como esse que faz você se sentir vivendo um pouco daquela realidade.

Eu poderia ficar horas descrevendo momentos como esse e acho que desde Shenmue II eu não tinha tido um nível de imersão como tive em Yakuza 6. Realmente valeu a pena o investimento nessa nova engine. Nem preciso dizer que o nível de detalhes dos personagens é incrível, certo? Não adiantaria eles terem feito cenários fantásticos com NPCs que não condizem com a qualidade geral e felizmente isso não aconteceu. Outros objetos como carros agora andam vagarosamente pelas ruas, não ficando somente estacionados como nas outras versões de Kamurocho. Detalhes e mais detalhes!

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Como em todos os jogos da série também temos animações pré-renderizadas com altíssima qualidade, sendo algumas bem longas passando da marca dos 20 minutos. A interface agora é toda baseada num smartphone que Kiryu carrega. Você aperta Options e acessa as opções através dele, rápido e prático. Fique atento que de tempos em tempos nosso herói receberá diversas SMS sobre eventos que estão ocorrendo e até mensagens de amigos.

É um dos jogos mais bonitos que joguei, sem sombra de dúvidas. Pena que ainda existem alguns problemas decorrentes de otimização da nova engine. O jogo roda na resolução 900p e a 30 quadros por segundo na versão base do PS4. Não chega a ser o fim do mundo, no entanto joguei um pouco de Yakuza Kiwami antes dele e senti uma queda não só na qualidade de imagem, mas principalmente na taxa de quadros que em Kiwami é 60 cravados. Yakuza 6 sofre um pouco com performance, tem problemas graves de serrilhados e muito screen-tearing, que são aqueles momentos onde ocorre diferenças entre a velocidade de exibição da imagem do aparelho em relação ao monitor ou a televisão, causando um “corte” na tela, principalmente quando a câmera se move com mais velocidade.

Como é o primeiro jogo que utiliza essa engine ainda dá pra relevar muita coisa. Recentemente foi lançado o remake do Yakuza 2 no Japão e usaram a Dragon Engine nele e pelo que li já houve uma boa melhora. Vamos torcer para que a equipe consiga sempre extrair o máximo e entregue jogos ainda mais belos que Song of Life!

CANÇÃO DA VIDA

Sendo o primeiro jogo da série principal com um subtítulo e esse subtítulo chamado simplesmente de “The Song of Life” é de se imaginar que a música tenha um impacto grande… ou apenas uma metáfora? Nem um nem outro, a trilha sonora desse grande jogo é realmente grandiosa, sendo tocada só em momentos decisivos como chefes ou cenas não-interativas. Quando andamos pela cidade ficamos apenas com os sons de carros, pedestres, celulares tocando, sirenes e até mesmo músicas nas lojas como a canção feliz da loja Don Quixote que tem em praticamente todos os jogos da série. Cito as lojas e restaurantes com um certo destaque pois eles tiveram todo empenho de fazer o jogador se sentir dentro daqueles ambientes. A rede CLUB SEGA onde tem arcades como mini-games é muito nostálgica para felizardos como eu que puderam viver a época de ouro dos fliperamas. Toda aquela cacofonia da mistura de barulhos de máquinas diferentes num mesmo lugar confinado é demais, só faltou poder sentir o cheiro de cigarro!

As músicas originais que tocam em momentos “pra valer” de Yakuza 6 tem uma pegada bem mais pesada que os outros jogos da série. Aqui prevalece um som agressivo que muito lembra as faixas de Streets of Rage 3. Lógico que existem momentos cômicos como de praxe, as famosas músicas de Karaokê (senti falta de Baka Mitai) e as das side quests dão o ar de sua graça.

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A trilha sonora é bem extensa, mas fica atrás de Yakuza 0 em matéria de variedade. Agora meu amigo, que dublagem é essa? Sem exageros é a melhor que já ouvi em um videogame. Simplesmente TODOS os atores são impecáveis e representam seus papéis com um profissionalismo excepcional. Takeshi Kitano (um famoso ator no Japão) ou como ele mesmo prefere ser chamado, Beat Takeshi faz uma ponta como Toru Hirose, o patriarca de uma das famílias de Yakuza que tem residência em Hiroshima. Ele ao lado de Kazuma e Nagumo (outro Yakuza pertencente à mesma família) são os melhores do elenco.

Mesmo sem entender uma palavrinha do que é dito, dá gosto de ver (ou melhor, ouvir) o nível de exigência que os videogames chegaram em matéria de dublagem. É quase surreal pensar que quando começou a ter vozes em videogame parecia sempre que era um qualquer lendo um texto de forma robótica (lembrei dos jogos de SEGA CD agora) e em 2018 ouvir algo do nível de um filme, é gente… foi uma longa caminhada até aqui.

COMO UM DRAGÃO

A fórmula de sucesso da série continua intacta e Yakuza 6 é um RPG de ação com um mundo aberto e muitos mini-games. Só que resumir o jogo simplesmente dessa forma não é nada justo. Existem mudanças grandes que a nova engine permitiu e elas impactaram não somente os gráficos, mas o jogo como um todo.

Falando um pouco dos combates, ainda continua aquele esquema de andar pela cidade e encontrar meliantes querendo dar uns sopapos em Kiryu, mas agora a transição para os combates é quase instantânea e podemos levar a luta para qualquer lugar, inclusive dentro de estabelecimentos! Lembra quando falei que agora era possível entrar nos lugares sem telas de carregamento? Isso permite situações como essa. É muito legal levar a briga para dentro de um mercadinho e ver todos os produtos voando para tudo quanto é lado. Evidentemente que depois da confusão os funcionários não vão nem querer mais olhar para sua cara.

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A física também foi bem trabalhada deixando os combates com aspecto realista, parecendo que realmente estamos lutando contra uma pessoa e não um amontoado de caixas. Os inimigos interagem realisticamente com as áreas e isso aumenta muito a diversão de forma que só vendo pra entender.

Podemos melhorar nosso personagem da mesma forma que nos jogos anteriores, existem vários tipos de atributos e golpes para evoluir com pontos que obtemos de várias maneiras. Praticamente todas as atividades dão pontos, não precisando necessariamente lutar para conseguir dar um gás em Kiryu.

As melhorias são bem importantes para conseguir se dar bem nas lutas contra os chefes do jogo. Eles normalmente vêm acompanhados de capangas e podem te derrotar facilmente se bobear. Essas lutas contra os chefes são demais, todas tem vários momentos únicos com golpes coreografados e situações inusitadas e em alguns momentos parece que você está jogando um filme do Jackie Chan! Logo no primeiro chefe já somos acompanhados de Akiyama e os dois aplicam golpes insanos no chinês mafioso. Essas coisas são a cereja do bolo e olha que mais pro final fica ainda mais animal.

Mas nem tudo é violência em Yakuza. Temos mini-games, muitos mini-games! Passando pelos arcades famosos da SEGA como Out-Run, Hang-On, Space Harrier e até a versão arcade completa de Virtua Fighter 5: Final Showdown; até outros mais loucos como o Cabaret onde podemos conversar com diversas meninas com intuito de conquistar seus corações, uma academia com direito até a instrutor fitness que te incentiva e seguir uma dieta, um café de gatos que tem só um gato e precisamos ajudar na empreitada, dentre muitos outros, mas coloca muitos nisso.

O menu de Yakuza 6 é acessado pelo botão Options e é essencialmente um smartphone contendo todo tipo de informação, desde configurações até a parte de evolução do Kiryu. Um bem interessante é o aplicativo Troublr onde podemos ajudar pessoas com problemas aleatórios a conseguir se safar. Essas missões expiram muito rápido portanto se quiser focar nelas é necessário atenção total.

São horas e mais horas de diversão. Esse universo foi tão bem produzido que só de ficar andando pela cidade vai proporcionar momentos únicos. Deu aquela vontade de soltar a voz, vá ao Karaoke! Bateu a necessidade de matar saudade dos Arcades? Club SEGA! Não aguenta mais ficar sem saber o que vai acontecer na trama? Corra para o pontinho brilhante. Eu estou simplesmente louco para ligar meu PlayStation 4 e ver Kiryu realizando suas peripécias.

ATÉ BREVE, KAZUMA

Yakuza 6 é divertido, intrigante e vale cada centavo. Não consigo acreditar que a SEGA fez um jogo ainda melhor que Yakuza Zero, mas cá está a obra-prima da empresa. Um fã da série com certeza vai comprar, não tenho dúvidas e se você que está lendo essa análise ainda não conhecer Kamurocho, eis a hora de embarcar nessa aventura pelo distrito da luz vermelha de Tokyo. Não se preocupe se não jogou os anteriores, vais conseguir se divertir de qualquer forma e isso eu garanto!

Pontos Positivos

  • Dragon Engine
  • Fórmula Yakuza na sua melhor forma
  • História maravilhosa

Pontos Negativos

  • Um certo mini-game envolvendo Haruto
  • O último jogo de Kazuma
David Signorelli
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