Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars
Acredito não ter outra maneira de começar essa análise além de contar um pouco da minha história com essa franquia. Em meados de 1999 eu estava em busca de um novo RPG e me deparei com esse “tal” de Suikoden 2 na minha lojinha favorita e baseado apenas na capa eu resolvi comprar. Apesar de na época já ser um assíduo leitor de notícias de jogos, através da mídia impressa obviamente, eu não sabia ao certo do que se tratava esse título da Konami, inclusive até achei que fosse um SRPG nos moldes de outro jogo da empresa, o Vandal Hearts.
Para a minha surpresa o jogo era um RPG tradicional, com batalhas em turnos e logo nos primeiros segundos já me fisgou com a belíssima abertura ao som de uma música épica e emocionante. Por alguma razão do qual não compreendo, Suikoden II foi o primeiro e talvez único jogo que eu tenha dado meu próprio nome para o protagonista, algo que era bem comum na época poder nomear a personagem principal vide que ainda não era tão normal os heróis possuírem uma personalidade forte, a maioria ainda eram mais “avatares” vide Crono, Link e muitos outros.
Conforme fui jogando, eu sentia que estava me aventurando em algo muito especial. Aquele universo me conquistou de uma forma que jamais imaginaria, parecia que eu estava literalmente dentro daqueles ambientes. Lembro até de um dia chuvoso e melancólico onde estava explorando um local chamado White Deer Inn, ao oeste de Toto e simplesmente me deu vontade de parar para “sentir” a música(ela se chama “Amid the Silence” para quem tiver interesse em procurar) e o cenário em si, imagem abaixo:
Coloquei uma foto do jogo original para que a lembrança possa ser “transportada” de forma mais autêntica, enfim, no final das contas estou sendo nostálgico. Para não me alongar demais, digo que me tornei um dos maiores fãs de Suikoden, joguei todos os jogos lançados, inclusive os 2 volumes de Genso Suikogaiden(visual novel, em japonês somente) que servem para cobrir alguns buracos do enredo e também para fazer uma ponte com Suikoden III. Contando com esse remaster, eu acredito que tenha finalizado Suikoden II aproximadamente 14 vezes e o Suikoden original umas 5. Estar escrevendo essa análise é quase como se fosse um sonho, quem diria que 26 anos depois de ter conhecido essa franquia eu teria a oportunidade de estar falando sobre ela através de um NOVO produto… Deu pra perceber que essa análise será bem emocionada, né? Mas como sempre, eu prometo ser imparcial, farei o possível!
SUIKODEN
Acabei falando um pouco mais do segundo jogo, porém tudo começou aqui. Suikoden foi lançado em 1995 originalmente para o PlayStation e foi um dos poucos RPGs de peso antes da chegada do colossal Final Fantasy VII. Havia na época um certo incentivo para as produtoras mergulharem com tudo na terceira dimensão, porém a Konami resolveu trazer um visual 2D em pixel art para seu RPG e sem sombra de dúvidas foi um acerto gigante. Com a tecnologia dos 32 bits da época, eles conseguiram fazer animações bem bonitas para os sprites em 2D, trazendo bastante emoção para as cenas, mesmo que aparentemente sendo algo simples. Nos combates é onde há uma transição pro 3D nos cenários, mais com a intenção de poder trabalhar melhor a perspectiva das magias, algo que se manteve na sequência.
Mesmo que graficamente não seja nada muito além do que um Super Nintendo poderia fazer, o destaque fica para a trilha sonora e a diferença que o CD trazia. As músicas de Suikoden são absurdamente lindas, lotadas de inspirações em diversas culturas ao redor do mundo e com uma qualidade excepcional, não há uma faixa sequer que eu diria ser descartável e ainda deixaram a melhor de todas pro final onde toca “Avertuneiro Antes Lance Mao” que tecnicamente é cantada em Português, mas até hoje ninguém conseguiu entender direito e olha que até eu tentei. Tanto Suikoden quanto Suikoden II são jogos sem dublagem, algo que só foi aparecer na série em Suikoden IV, já na época imaginava que seria difícil devido a quantidade de personagens, afinal são mais de 108 em todos os jogos!
Como falei no início, Suikoden foi lançado em 1995 e muita gente que vai jogar esse HD Remaster nem era nascido, então é necessário entender algumas particularidades da época. O jogo possui uma história muito rica, porém os diálogos em si são bem direto ao ponto e de certa forma meio pobres, ainda mais se comparado ao que temos hoje em dia. Para você ter uma ideia, quando iniciamos o jogo você tem automaticamente controle do personagem, Tir McDohl, o protagonista dessa aventura. Sim, não tem uma cutscene super elaborada com um monte de exposição, o jogo LITERALMENTE começa com você controlando, eu honestamente acho que nunca vi isso em RPG algum. Vai ter horas que você vai ficar parado achando que era pra acontecer algo e não, tu terás que de fato interagir com algo, por essas e outras que vai rolar uma estranheza.
Para a alegria de todos, essas questões acabam ficando de lado quando você percebe que Suikoden é um jogo extremamente divertido e intrigante. A simplicidade dele brilha e te transporta pra uma época mais simples onde nem todo jogo precisava de um milhão de ícones na tela com pontos de interesse, você irá controlar Tir em busca das 108 Stars of Destiny e não irá parar até que chegue até o final. Não é um jogo longo e isso acaba sendo um ponto positivo porque é bem provável que você não consiga todas as estrelas em uma primeira jogada sem guia, então uma segunda jogada será necessária… a não ser que use um guia e aqui fica uma recomendação, use um guia sem spoilers, pelo menos para recrutamento ou lhe asseguro que vais perder uma ou outra personagem e não conseguirás o final verdadeiro. Essa dica vale pro segundo jogo também, que por sinal é ainda mais difícil nesse quesito.
SUIKODEN II
Só de saber que mais pessoas irão conhecer esse jogo, já me deixa imensamente feliz, ainda mais do que eu mesmo retornar a esse mundo que tanto amo. Foram mais de 26 anos falando para Deus e o mundo que Suikoden II é um jogo obrigatório pra qualquer pessoa que goste de um RPG. A Konami fez com esse jogo algo que eu honestamente acho que nunca mais será feito, um RPG de tamanho excelente(40 horinhas no máximo), com uma história adulta e memorável, gameplay viciante, um rol de personagens dos melhores que a indústria já viu, jogo 2D em pixel art de extremo bom gosto, trilha sonora impecável e eu poderia continuar até o fim dos tempos elogiando essa obra-prima.
Suikoden II é uma sequência direta dos eventos de Suikoden, se passando alguns anós após o término da Gate Rune War. Nesse jogo controlamos Riou que terá um infelizmente encontro com o destino e se tornando líder de um grupo de pessoas que lutarão na guerra de unificação de Dunan, nome inclusive desse remaster. Eu me recuso a escrever qualquer coisa sobre a história desse jogo, você precisa ver com os próprios olhos para entender porque Suikoden II é tão amado. Porém como quase nenhum RPG se sustenta apenas com a história, jogar essa belezinha também vale cada segundo do seu tempo investido.
A busca pelas 108 estrelas do destino é ainda mais divertida pois cada um deles possui sua própria história e motivação pra fazer parte dessa guerra e o mais legal é que nem todos são lutadores. Mais pra frente na jornada você conseguirá seu próprio castelo(to com a música na cabeça… aiai) e como nação alguma funciona só com soldados, você precisará de pessoas com os mais variados talentos para poder deixar tudo funcionando. Profissões como ferreiros, cozinheiros(melhor mini-game da história? Sim!), artistas, estrategistas e muito mais transformarão seu singelo castelo em uma verdadeira cidade e todos estarão à sua disposição para o que der e vier.
A palavra guerra é algo que está até no título do jogo então fique sabendo que Suikoden II possui batalhas campais no maior estilo SRPG. O Suikoden também possuia, mas era algo bem simples tipo “pedra, papel e tesoura”, enquanto aqui as coisas são bem mais complexas. As lutas são travadas em “grids” e dependendo da unidade, você poderá realizar diversas ações como atacar flechas, usar lanças de fogo, magias ou simplesmente se movimentar e atacar. A palavra-chave aqui é variedade, Suikoden II é um dos RPGs menos repetitivos de todos os tempos porque não há necessidade alguma de grindar e você sempre estará fazendo algo diferente, seja enfrenando inimigos ou até mesmo participando de diversos mini-games disponíveis ao longo da aventura. Suikoden II respeita seu tempo e isso é um dos fatores que mais evidencio quando falo dele, não existe absolutamente nada filler no jogo, tudo tem um propósito e no final dessa jornada vais parar e agradecer a você mesmo por ter guardado algumas horinhas para mergulhar num dos maiores RPGs de todosos tempos.
E O REMASTER?
Após falar um pouco de cada um dos jogos, chegou a hora de falar do remaster em si e isso tudo se aplica a ambos os jogos. A mudança mais drástica está no gráfico do jogo, os cenários foram totalmente redesenhados e ficaram excelentes. Apesar de eu ter uma nostalgia imensa dos originais, não seria sentido algum se eles mantivessem os gráficos antigos, só os sprites mesmo que receberam uma retocada, entretanto ainda são essencialmente a mesma coisa. Os novos cenários são cheios de detalhes inéditos, com um aspecto menos “RPG Maker” que os jogos originais possuiam, fora algumas animações como a água do lago Toran se “mexendo”, tudo com muito capricho.
Outro aspecto que merece destaque são as artes das personagens que foram totalmente redesenhadas e ficaram muito melhores, especialmente a do Suikoden que eram meio “rústicas” assim por dizer. Quando me refiro a arte, eu quero dizer aqueles quadradinhos com a face deles quando estão falando ou nos menus, infelizmente não temos acesso a artworks inviduais, nem no novo modo galeria. Esse modo só tem serventia quando terminamos os jogos pois quase tudo está trancado, apenas a galeria de música já conta com todas as faixas desbloqueadas e elas receberam os nomes dados pela trilha sonora original(OST), detalhe que achei bem bacana.
Os fãs de Suikoden são bem familiarizado com os clássicos bugs/glitches que permeavam os originais e que agora foram corrigidos. Chega ouvir a Anallee no mudo, chega de empurrar portões gigantes para chegar em locais impossíveis de visitar em determinado ponto, chega de usar bug de suborno e muito mais. Muita gente pode falar que alguns dos tais bugs eram até úteis, mas não adianta chorar que tudo foi resolvido e honestamente prefiro assim.
VEREDITO
A Konami fez um trabalho impecável com este remaster, e, sem dúvida, sua maior conquista foi tornar esses clássicos RPGs de outrora facilmente acessíveis em todas as plataformas atuais. Décadas se passaram desde o lançamento original, e uma nova geração de jogadores surgiu sem a chance de vivenciar essas histórias inesquecíveis. Agora, chegou o momento de Suikoden brilhar novamente. Espero que a franquia retorne com força total e honre o legado de seu criador, Yoshitaka Murayama, que, infelizmente, nos deixou em 2024. Que, de onde quer que esteja, ele possa testemunhar o merecido reconhecimento de sua obra.
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