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Análise – Zombi (Xbox One/PS4)

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Zombi sem o U
Com 12 horas de tensão, sustos e sobrevivência, ainda que não seja perfeito, Zombi é uma boa adição a biblioteca dos consoles atuais. Não é obrigatório, mas fãs de zumbis e survival horrors vão se divertir.

Seja sincero. Qual foi a última vez que você sentiu medo de verdade ao jogar algum jogo de videogame? Quando foi a última vez que você sentiu receio de abrir a próxima porta ou entrar na próxima sala, sem ir pra cima carregando uma calibre doze com munição praticamente infinita e sem receio do que viesse adiante? Perguntando mais diretamente, qual foi a última vez que você jogou um Survival Horror de verdade?

O gênero Survival Horror apavora muitos jogadores com uma fórmula que une pouca munição contra inimigos asquerosos em situações que favorecem sustos. Jogos como Resident Evil, Alone in the Dark e outros se consagraram através dessa fórmula e Zombi, novo título da Ubisoft para Xbox One e PS4 e originalmente lançado para o Wii U como ZombiU acaba bebendo da mesma fonte pra entregar um FPS de terror bem competente.

Sobrevivência de verdade

A história se passa em Londres, na terra da rainha. Você acorda dentro de uma Safe House durante um apocalipse zumbi, e vai recebendo instruções de um soldado que entra em contato pelo rádio. O enredo não é original, mas a localidade sim. Você vai visitar uma Londres dizimada, passando por lugares famosos como o Palácio de Buckingham, o metro de Londres, etc. A princípio você vai ter missões de sobrevivência como arrumar um gerador, e depois gasolina pra ele, mas algumas missões são mais complexas e pouco a pouco desenvolvem o enredo do jogo, ajudando o médico real a tentar desenvolver uma cura para o vírus zumbi por exemplo.

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O jogo brilha no elemento de sobrevivência. Esqueça o que você aprendeu em Left 4 Dead. Aqui você não é um especialista em armas, mas um sobrevivente qualquer. Sem agilidade, força física ou constituição elevada, você é um humano normal,  que anda lentamente, não aguenta correr muito e não sabe atirar bem, e o jogo faz questão de te lembrar disso cada vez que você arrisca um disparo e erra, mesmo tendo certeza de que você tinha a cabeça daquele zumbi na mira.

Como dito anteriormente, Zombi começa na Safe House e acostume-se com o cenário pois você vai voltar muitas vezes pra ele durante a jornada, afinal esse é o seu local para salvar o jogo. Sim, Zombi vai na contra-mão dos jogos atuais e coloca um elemento que ajuda a desencorajar os jogadores que não tem medo de nada: save points. Ao longo da jornada você descobre novas Safe House, mas sempre vai precisar voltar pra elas pra salvar. Matou todo mundo e tá cheio de itens? Legal, mas volte pra Safe House pra salvar o jogo e cuidado não ser atacado no caminho da volta, morrer e perder tudo.

Bah, perder tudo? Balela. Isso não existe em jogos do gênero! Ou existe? Pois é, Zombi quebra mais um paradigma e utiliza-se do maldito sistema de Dark Souls, que tirou a paz de tantos de jogadores. E o que Zombi tem em comum com o impiedoso título da From Software? O sistema de “morte”.

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É bastante simples: morra uma vez e o seu sobrevivente será infectado, tornando-se um zumbi. Com isso, você acorda na Safe House, no papel de outro sobrevivente, somente com seus itens básicos, sem acesso a qualquer item que você tivesse no antigo personagem. Isso inclui suas armas. Pra ter acesso aos itens anteriores, você vai ter que buscá-los no seu antigo personagem, aquele que morreu e virou zumbi. Basicamente, você vai ter que matar o seu antigo personagem (agora zumbi), pra recuperar os seus itens na mochila dele. O problema é que se você morrer no meio do caminho, até chegar onde ele estava, o seu personagem atual vira zumbi e o antigo deixa de existir, sumindo com tudo o que você tinha, sejam itens simples como munição ou até mesmo itens complexos como armas de fogo. Lembra da doze, sniper e AK47 que já estavam te passando alguma segurança? Morreu duas vezes e elas vão ser só lembrança mesmo. Comece o jogo do zero com a pistola e o taco de cricket. Um mísero zumbi pode acabar com a sua vida e seu equipamento em uma bobeada sua. Esse sistema garante com que você nunca jogue Zombi tranquilo e despreocupado.

E aí, já deu pra ficar com receio? Você ainda não viu nada.

Esqueça o gamepad

O principal elemento de ZombiU e motivo pelo qual o título permaneceu exclusivo do Wii U por tanto tempo, foi a introdução de elementos de gameplay diretamente no gamepad. No título original o gamepad era um menu de inventório pra acessar os seus itens, radar, mapa, arquivos, etc. Todas essas funções no entanto, foram facilmente substituídas por menus na tela principal. O maior problema é que o seu personagem continuará parando pra largar a mochila no chão sempre que você quiser utilizar algum item. Assim como acontecia no título original, o jogo vai continuar rolando, e não haverá pausa em nenhum momento enquanto você estiver acessando seu inventório de itens, ou vendo seus mapas, ou lendo suas anotações. Isso é realmente problemático quando zumbis estão vindo em sua direção e por isso, algumas vezes fugir vai ser a solução para sobreviver, já que você não vai conseguir tempo hábil pra pegar aquela granada na sua mochila. É uma sensação de nunca estar realmente seguro ou ter o controle da situação.

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A jogabilidade ainda ganha em agilidade, pois tanto Xbox One e PS4 tem controles mais confortáveis para FPS do que a telona do Wii U. Você vai utilizar pra escanear objetos na tela mais facilmente ao invés da antiga tablet. As implementações do controle no WiiU eram interessantes e bastante úteis, mas em alguns momentos você sentia falta da habilidade de pegar os itens com apenas um botão ao invés de ficar arrastando-os para a sua mochila. Felizmente, para esses jogadores, Zombi resolve o problema criado com a inovação desnecessária.

Ainda que não tenha músicas notáveis, um dos pontos fortes do jogo é a ambientação sonora, com barulhos estranhos e grunhidos nojentos que vão lhe causar desconforto e receio de virar a próxima esquina. Não sabemos como zumbis soariam na vida real, mas podemos dizer que Zombi chega bem perto de como imaginamos que seria.

Zumbilândia

Como dito anteriormente, os inimigos são bastante aterrorizantes e mesmo um zumbi comum pode acabar com seus planos em um simples descuido. Isso porque você tem uma barra de energia, mas se um inimigo te agarrar, ela é ignorada e você é infectado e morre na hora. E os zumbis tendem a atacar uma vez e tentar agarrar nas próximas investidas. Infelizmente o “modus operandi” da inteligência artificial dos zumbis é bastante similar e dificilmente foge desse padrão. Com isso, 99% das vezes será possível se defender de um zumbi apenas com o bastão de cricket, bastando bater até derrubá-lo para finalizar em seguida, já que os bichos além de burros são lentos e você sempre tem a iniciativa do ataque e consegue bater primeiro. O problema é que se você ganhar muita confiança e errar, corre grande risco de ser agarrado e morrer na hora. Ainda que nunca seja um jogo fácil, essa repetição pode cansar alguns. O mesmo não pode ser dito quando você estiver em situações de mais um zumbi ao mesmo tempo. Aí o jogo mostra a sua natureza de terror e a escassa munição, aliada a sua falta de mira vão causar situações de desespero. Dificilmente passei por situações de mais de um zumbi sem planejar estratégias para tal e algumas vezes a melhor estratégia foi largar tudo e correr. E mesmo assim, por diversas vezes acabei infectado e virando mais um zumbi 🙁

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Um aspecto interessante do jogo, quando jogado online, e que também bebe da fonte de Dark Souls, é que eventualmente você vai encontrar zumbis de mochila com uma pontuação e um nome de jogador em cima deles. São jogadores que morreram e perderam seus personagens ali, e cabe a você acabar com o sofrimento da “vida após a morte”, matando-os e aliviando-os de seus antigos itens. É um bônus no sistema do jogo, que oferece variação, mas também pode trazer problemas, como por exemplo você querer salvar na Safe House, mas ser impedido pois existe um zumbi de algum jogador vagando ali perto e você ter que caçá-lo antes de salvar, correndo o risco de por tudo a perder.

Os gráficos do jogo são competentes e traduzem bem o clima de apocalipse zumbi. Alguns efeitos de luz são muito bons e parecem inéditos em consoles HD, refletindo contra a tela e mostrando uma sujeira que incomoda a visão do seu personagem. Mesmo assim,  a herança da geração passada no hardware do Wii U entrega que esse título poderia ter saído também para Xbox 360 e PS3, ampliando o acesso ao game para jogadores que ainda não migraram para a nova geração. Ao ser comparado com um jogo como Dying Light é que Zombi acaba mostrando seus problemas.

YouTube player

Nada justifica exatamente o hardware do Xbox One e PS4 e os gráficos são inconstantes, com algumas texturas e modelos simplórios demais. O carro da polícia, logo no começo do jogo, é um exemplo de modelagem feita sem nenhum esmero e isso impacta muito na imersão do jogo. Felizmente os modelos dos zumbis tiveram melhor atenção e variação suficiente a ponto de não repetirem tanto a roupagem. Os mapas e cenários são bem desenhados, ainda que o metro, obviamente seja muito parecido. Backtracking é uma constante no jogo e você vai se ver retornando a localidades já visitadas inúmeras vezes. Um sistema de fast travel através dos túneis de esgoto logo aparece no entanto, melhorando um pouco esse aspecto que pode ser negativo pra alguns.

Por fim, Zombi traz de volta um tipo de survival horror mais raro nessa geração e ainda que não seja perfeito, o faz de maneira muito competente. Se você é fã do gênero, a campanha tem uma duração média de 12 horas de tensão, sustos e luta pela sobrevivência. ZombiU era um dos grandes exclusivos do Wii U e Zombi é uma boa adição a biblioteca dos consoles atuais e um motivo a menos pra você adquirir o praticamente finado console da Nintendo. Não é um jogo obrigatório, mas custando apenas R$39 no lançamento, fãs de games de zumbi e survival horror vão se divertir a um preço justo. Recomendamos!

Átila Graef

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