A geração mais nova pode não se recordar muito bem, mas o Homem-Aranha já foi o personagem mais importante da Marvel Comics até o final da década de 90, começo dos anos 2000, muito antes do Homem de Ferro e dos Vingadores despontarem como ícones da empresa nas telas do cinema.
Sendo o personagem principal da editora, o aracnídeo desde sempre estrelou videogames nas mais diversas plataformas. Sua estréia foi em 1982 no game do Atari e a partir dali o Homem-Aranha recebeu inúmeros jogos, alguns muito bons e que se tornaram clássicos como Lethal Foes no Super Famicom, Spider-Man 2: Enter Electro no PS1, Spider-Man 2: The Game na geração PS2, e outros nem tão bons assim e que ficam melhores se esquecidos no passado.
Spider-Man da Insomniac Games e exclusivo do PlayStation 4 entrega o melhor jogo do herói aracnídeo até hoje, resgatando-o das mãos trevosas da Activision que desde Web of Shadows em 2008, não conseguia entregar um game do Aranha de qualidade.
A Insomniac se fez valer de todo seu expertise adquirido em jogos de mundo aberto com produções como a série Ratchet & Clank no PS3 e PS4 e Sunset Overdrive no Xbox One e fez a lição de casa, entregando uma história completamente original e finalmente desvencilhando-se da obrigação de recontar a origem do personagem que todos estão cansados de saber. E o resultado desse empenho você sente desde os primeiros minutos com o novo Spider-Man.
Nada de picada da aranha radioativa
Afinal, isso já aconteceu no passado. Na história, Peter Parker veste o manto do Aranha há 8 anos e é um herói experiente e decidido, longe de ser um amador que ainda está descobrindo seus poderes, como muitos jogos e filmes já mostraram à exaustão. Para os fãs do personagem esse jogo retrata uma das melhores fases dos quadrinhos dos anos 90, justamente quando Peter é um adulto que já viveu o relacionamento com Mary Jane, já trabalhou para o Clarim Diário como repórter freelancer e hoje divide o seu tempo entre o manto do Aranha e correr atrás de trabalhos para ficar em dia com o aluguel atrasado. Não só Peter e o Aranha estão amadurecidos, mas todos os personagens sejam parceiros ou vilões, apresentam uma releitura interessante que podem ser encaradas como versões modernas e atualizadas daquilo que já conhecíamos nos quadrinhos. Esse é o grande barato da abordagem da Insomniac para o universo do jogo. Você se sente lendo uma HQ original do Aranha, com uma história muito bem roteirizada com várias reviravoltas e um grande final. Só para se ter uma ideia, a primeira missão do jogo já envolve derrubar o Rei do Crime e com o trono do submundo de Nova Iorque vago, os diversos vilões iniciam uma disputa pelo poder, criando o caos pela cidade.
O que o Batman e o Aranha tem em comum?
Nada adianta ter uma história legal se a jogabilidade não acompanhar. Felizmente esse não é o caso e onde tantos outros jogos do personagem erraram no passado, Spider-Man traz um gameplay refinado por anos de expertise da Insomniac com jogos de mundo aberto. O objetivo de um jogo de super-herói é fazer com que o jogador realmente sinta-se na pele do personagem, e finalmente temos aqui um jogo do Aranha no mesmo nível dos jogos do Batman da série Arkham da Rocksteady. Assim como a série consagrou-se como referência na definição de um bom jogo do Batman para as gerações futuras, esse Spider-Man É O JOGO do Homem-Aranha para ser tomado como base daqui pra frente. Você vai encarnar o cabeça de teia e entrará dentro de uma HQ, viajando pelos bairros da cidade, impedindo uma venda de drogas distribuindo pancada e teia nos meliantes, ajudando pessoas em tarefas cotidianas, caindo no soco com o Shocker tentando assaltar um banco e em paralelo tocando a vida de Peter Parker.
Toda a parte de exploração da ilha entrega a melhor representação visual do personagem até hoje. Os controles e a movimentação fluída realmente fazem você se sentir o Homem-Aranha viajando nas teias em alta velocidade sobre as ruas de Manhattan. O nível de detalhes é tamanho que até mesmo o barulho dos disparadores de teias, a famosa onomatopéia THWIP, está lá a cada disparo do R2.
Não citei a série Batman Arkham por acaso. O combate do jogo bebe muito da fonte dos jogos da Rocksteady com inimigos te cercando e o sistema permitindo a transição dos seus ataques em diversos oponentes sem grandes dificuldades, tudo isso é claro, com a agilidade proporcional a do Homem-Aranha. Por isso o combate no geral é bem mais solto e permite mais variedade do que nos jogos do Batman. O sentido de aranha, um dos principais poderes do personagem, aqui é extremamente valioso. Cada vez que você for alvo de um oponente ele vai tilintar em branco e se você estiver prestes a receber um ataque eminente ele vai piscar em azul, bastando com que você aperte o botão de esquiva (Círculo) para que o Aranha desvie instintivamente do ataque.
A progressão do jogo se dá através de um sistema de níveis. O Aranha vai fazendo as missões primárias e ganhando experiência que permite comprar habilidades e destrava o acesso para novos trajes e gadgets. Esses são adquiridos através de pontos de missões secundárias, como impedir um assalto a uma loja derrotando os bandidos. O fan service para os trajes e gadgets é forte e vai empolgar os fãs do personagem, com inúmeros trajes especiais que apareceram nas HQs. A minha roupa favorita é sem dúvidas a do Aranha Escarlate, e fiquei muito feliz de ver que a Insomniac não colocou somente os trajes, mas também adicionou os gadgets criados para cada roupa, como as teias de impacto do próprio Aranha Escarlate ou os drones da roupa do traje criado pelo Homem de Ferro nos filmes da Marvel, a roupa emborrachada que Peter usou contra o Electro, entre tantas outras. E todas estão lá para você destravar.
Essas recompensas são o grande barato do jogo e te motivam a querer abrir todo o mapa e completar as missões para liberar o maior número de gadgets e roupas possíveis e deixar o seu Aranha mais forte. A Insomniac caprichou em algumas missões secundárias oferecendo variedade no gameplay que vai da pancadaria, passando pela investigação, time attack e stealth, mas como todo jogo de mundo aberto linear, Spider-Man acaba caindo na mesmice em alguns momentos e a repetição de inimigos e situações as vezes quebra um pouco o ritmo e a imersão do jogo.
LÁ VAI TEIA
Graficamente esse não só é um o jogo mais bonito do Homem-Aranha, como um dos jogos mais bonitos da geração. A cidade é extremamente detalhada, as ruas são movimentadas e cheias de carros e pedestres e praticamente todos os prédios mostram conteúdo em seu interior pelas janelas. A reconstrução da ilha de Manhattan é uma das melhores já feitas nos videogames até hoje. Os modelos dividem-se entre o realismo e um ar cartunesco, e o design dos trajes do Aranha e seus inimigos trazem algumas das melhores releituras já vistas para o universo do personagem. O modo foto desse jogo é um dos melhores já vistos e espere perder muito tempo fotografando as inúmeras poses das animações espetaculares do Aranha.
A desenvolvedora optou por não utilizar uma transição de tempo dinâmica o que rendeu algumas críticas durante o desenvolvimento. O game conta com uma transição de tempo conforme você avança na história, carregando a versão noturna da cidade, por exemplo, depois que você cumpre uma missão específica. Isso permitiu a Insomniac trabalhar a iluminação de maneira separada para cada hora do dia retratada no jogo. O resultado é uma iluminação geral da cidade muito impressionante e bem detalhada, acima da maioria dos jogos de mundo aberto. Há algumas inconsistências gráficas em alguns momentos (algumas meio bizarras como as pessoas nos barcos), mas no geral são detalhes que não subtraem da beleza do jogo. Em performance o game roda com resolução dinâmica e na maior parte do tempo ela se mantém em 1080p a 30 quadros por segundo no PS4 Vanilla.
No Brasil é HOMEM-ARANHA!
A trilha sonora segue a linha dos filmes do personagem, com o tema tocando sempre que o Aranha sai no role pela cidade, dando aquela empolgada em bancar o herói por Nova Iorque. O jogo está inteiro dublado em português e a dublagem é competente, mas sabe-se lá por qual motivo decidiram não traduzir Spider-Man para Homem-Aranha, algo que já está enraizado desde 1969 quando a primeira HQ do personagem (O Homem-Aranha) foi lançada no Brasil pela EBAL (Editora Brasil América). O resultado fica forçado e até meio bizarro quando você escuta uma frase do tipo “Obrigado por salvar minha vida Spider-Man”. Não combina e foi um grande vacilo não terem usado a localização do nome do personagem na dublagem, mesmo que o nome do jogo não pudesse ser localizado.
Spider-Man no PS4 oferece a melhor aventura do Aranha nos videogames e possivelmente o melhor jogo da Insomniac até hoje. A campanha tem 20 horas de duração e aproximadamente 30 horas para completar tudo e apresenta uma grande homenagem ao personagem, em forma de uma história original superior aos filmes, cheia de ação e que em diversos momentos remete a uma HQ interativa. Sou fã do herói desde a infância e fico feliz em ver o cabeça de teia tão bem representado nos videogames e espero que os futuros jogos da Marvel sigam na mão de estúdios competentes como a Insomniac.
Pontos Positivos
- O melhor jogo do Homem-Aranha
- Viajar nas teias pela cidade vai fazer você se sentir o Aranha
- História original de 20 horas, quase uma HQ Interativa
- Releitura completa do universo do personagem, respeitando o material fonte
Pontos Negativos
- Alguns bugs e glitches
- Repetição de inimigos e situações
- Mané Spider-Man, no Brasil é HOMEM-ARANHA
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