Análises

Like a Dragon: Infinite Wealth

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ALOHA, MEUS COMPANHEIROS!

Like a Dragon: Infinite Wealth é o melhor jogo já feito pela SEGA, ponto. Uma trama muito bem escrita, personagens memoráveis, gameplay robusto e viciante são apenas alguns dos pontos-chave desse produto desenvolvido com um carinho imenso e que com certeza será um dos melhores jogos desse ano, não importando o quão bom seja 2024.

Durante minhas muitas horas de Like a Dragon: Infinite Wealth, eu me perguntava constantemente em como iria iniciar a eventual análise que você está lendo agora. Até podes se perguntar o que há de tão diferente nesse jogo que destoaria dos demais para que esse questionamento se tornasse pertinente e digo que o que o estúdio Ryu Ga Gotoku fez com esse título é algo especial, muito especial.

Pra quem acompanha o site há um tempo, sabe que eu sou um mega fã da série e quando falo série me refiro também aos projetos “paralelos” como Judgment. O RGG Studio tem criado jogos de uma excelente qualidade, uns melhores que outros, porém sempre mantendo um nível alto e depois do último lançamento, Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name, que é um jogaço por sinal, a expectativa para Infinite Wealth estava altíssima, sendo inclusive apontado como um dos jogos mais aguardados para 2024 no The Game Awards.

Kasuga Ichiban e Kazuma Kiryu tendo uma conversa de homem para homem.

Vale ressaltar que a versão que estou jogando dessa análise é a da PlayStation 5, portanto algumas questões mais técnicas podem diferenciar de uma plataforma para outra. Não menos importante é a informção abaixo, leia com bastante atenção:

A série Yakuza/Like a Dragon foi criada em 2005 e desde então a história de TODOS os jogos está conectada de certa forma. Infinite Wealth é o oitavo jogo da franquia, mas tecnicamente é o décimo se incluirmos Gaiden e o Yakuza: Zero, com isso dá pra ter uma ideia do tamanho da bagagem. Lógico que seria inviável chegar pra vocês e falar pra jogar tudo e só assim ir pra IW, porém para ter um aproveitamento bem bacana desse jogo em específico eu tomo a liberdade de dar uma sugestão.

Tente jogar pelo menos o Yakuza: Like a Dragon(2020), título onde Ichiban estreou e estaria fazendo um desserviço para todos vocês caso dissesse que não tem importância começar direto pelo IW. O jogo por si só é fantástico e vale cada segundo investido. Agora, se você jogou outros jogos da franquia… prepare esse coração! Digo isso, vamos pra análise.

BEM-VINDO À HONOLULU

Algum tempo após os eventos do jogo anterior, Ichiban segue sua vida trabalhando em uma agência de empregos chamada de Hello Work. Após uma série de acontecimentos, reviravoltas, conversas de bar com antigos amigos e tudo que você possa imaginar, nosso herói recebe uma missão que o leva para o estado do Hawaii nos Estados Unidos. Isso mesmo, pela primeira vez na série iremos para fora do Japão e para quem não sabe, o Hawaii é um arquipélago e sua capital se chama Honolulu, local onde grande parte dos eventos desse jogo se passa.

A mudança de ares nesse jogo foi uma escolha muito boa, saca só o visual.

Da mesma forma que nós tivemos quase um tour virtual por diversas cidades japonesas nos títulos anteriores, aqui acontece também. Eu infelizmente nunca tive oportunidade de conhecer o Hawaii, porém deu pra ver nitidamente que os produtores fizeram de tudo para que tanto nós quanto Ichiban pudéssemos mergulhar de uma forma incrível na cultura desse local tão emblemático. A preocupação do time com os detalhes comportamentais das pessoas e cultura, passando do já conhecido “Aloha!” até uma boa noção da culinária local e indo até os lugares mais “inusitados” por assim dizer, eu realmente me senti que estava lá, da mesma forma que Yu Suzuki me transportou pra Yokosuka na obra-prima Shenmue.

IW é um jogo grandioso demais, sua trama principal amarradinha, seus personagens(sejam os antigos ou os novos) são extremamente carismáticos e tudo que acontece faz nos sentirmos em uma obra de proporções épicas. No final das contas dá pra dizer que é uma história de “passar a tocha”, onde Kiryu cede seu lugar para Ichiban como novo protagonista oficial de Like a Dragon, inclusive esse nome acaba fazendo todo sentido. Kiryu teve vários “apelidos” e um deles foi o de Dragão de Dojima, Ichiban faz uma alusão ao antigo herói e acaba sendo “como um dragão”, porém não necessariamente um… genial, né? Enfim, claro que resumir tudo que acontece nesse jogo dessa forma seria a maneira mais ridícula possível, mas confie em mim, você vai se surpreender.

Chitose, Ichiban, Tomizawa e Kiryu prontos para ação!

Gostaria de terminar essa parte da análise com um toque um pouco pessoal que pode de certa forma servir para alguns de vocês. Conforme o tempo passa, nós envelhecemos e aos poucos vai ficando mais e mais distante a conexão que temos com os personagens de jogos, onde em sua maioria são bem jovens. Ichiban já tem seus 40 e poucos anos e eu farei 40 em 2024, isso criou dentro de mim um laço bem profundo com esse personagem por esse motivo, algo que me deixou bem feliz por ter de certa forma alguma representação. Pode parecer besteira isso tudo, porém eu jamais esquecerei desse vínculo, uma pena que Ichi é apenas um personagem e eu não posso ir para o Revolver Bar beber umas com ele, faz parte.

O MAIOR DE DOIS MUNDOS

Se você achava que haviam jogos da série com bastante conteúdo, se prepare. Infinite Wealth é sem sombra de dúvidas o maior da franquia nesse quesito e ouso dizer que é um dos maiores RPGs de todos os tempos. Primeiro vou falar sobre o mais básico que é o sistema de batalhas. Desde Yakuza: Like a Dragon, a série adotou um sistema de combate por turnos, diferenciando do “brawler” ou “briga de rua” + RPG dos demais e aqui ele volta com força total. A maior diferença fica por conta da movimentação quase livre dos personagens(quase porque você tem uma área pré-estabelecida a cada turno, podendo ser melhorada conforme ganha níveis) que permite situações mais estratégicas como mover-se deliberadamente em direção a uma bicicleta pra usar como arma contra o adversário, poder se posicionar de forma com que o inimigo seja derrubado em cima de outro e por aí vai, isso adiciona uma camada bem interessante de complexidade, sendo que em algumas lutas mais difíceis ela se torna essencial.

Observe que ao se aproximar de Kiryu, Ichiban consegue iniciar um ataque combinado.

O sistema de jobs continua bem parecido com o anterior, com diversas opções bem divertidas de customização e o mais interessante é que muitos dos jobs acabam tendo relação com a localidade presente, como por exemplo Aquanaut e Geodancer que não fariam sentido algum no Japão. Além disso tudo o sistema de crafting de armas voltou e logicamente expandido, há muito o que explorar.

Falando em explorar, uma das partes mais divertidas de IW é justamente andar pela cidade coletando itens. O jogo vai gerando aleatoriamente itens conforme você vai andando pela cidade, sendo bem frequentes e espalhados por todos os lugares, fazendo com que sempre fique interessante sair peranbulando por aí pois você irá encontrar coisinhas preciosas. Devo ter ficado horas só correndo pra lá e pra cá catando itens, isso por si só já deixa a experiência muito mais dinâmica e menos massante. Honolulu é a maior cidade da franquia, ainda maior do que Yokohama(a antiga recordista e que por sinal está presente aqui), portanto há muito o que ver e se tiver preguiça sempre dá pra pegar um taxi que funciona como um fast travel.

Não importa a hora do dia, explorar essa cidade é sempre bacana.

Honolulu só não é grande por ser grande, ela também conta com a maior quantidade de lojas e atividades que a série já viu, é ver para crer. Vou listar alguma das coisas mais interessantes pra você ter uma ideia:

  • Sujimons(também conhecido como “bestiário”) estão de volta e agora existe todo um universo em volta disso, podendo capturar os Sujimons e enfrentar batalhas com eles, não sei se isso te lembra alguma coisa…
  • Existe também a Dondoko Island. Neste modo, os jogadores podem reciclar, reformar e transformar uma ilha degradada num resort de luxo. Dondoko Island é uma evolução do gameplay de gestão de negócios estabelecido por Ichiban Confections em Yakuza. Praticamente uma paródia de Animal Crossing da Nintendo.
  • Que tal jogar alguns Arcades clássicos da SEGA? Virtua Fighter 3 TB, Spikeout e SEGA Bass Fishing são as novidades e rodam lindamente! Inclusive essa é a primeira vez que podemos jogar uma versão realmente fiel do VF3TB, a conversão de Dreamcast que foi desenvolvida pela Genki foi bem criticada na época.
  • Mini-Games existem aos montes, de um clone de Crazy Taxi(forcei) até uma espécie de Tinder(forcei ainda mais), chega a ser absurdo a quantdade e todos eles são muito divertidos… pena que nunca vou aprender a jogar aqueles jogos estilo Mahjong.

Enfim amigos, é coisa demais e isso que eu nem citei os famigerados substories que possuem histórias próprias, normalmente indo pro lado mais cômico, o que alivia um pouco a seriedade da trama principal, equilíbrio é tudo. IW é um dos jogos mais divertidos e viciantes que já joguei nessa longa estrada da vida e seu gameplay é um dos maiores responsáveis por isso.

O MUNDO SEM FIM

IW roda na já antiguinha Dragon Engine, mas aparentemente uma versão mais robusta dela. Os gráficos são incríveis, a cidade possui detalhes que saltam os olhos, cada ambiente foi meticulosamente construído para dar vida ao local e tudo isso rodando a 60 FPS com HDR. Perdi as contas de quantas vezes fiquei batendo fotos ao longo da minha jornada, queria de todas as maneiras registrar cada detalhezinho daquele mundo e tá tudo lá salvo no meu console para que eu possa re-visitar quando quiser. Não somente a cidade é super detalhada, mas os personagens continuam lindos, mantendo o nível da série. A texturização das roupas é algo que me deixou bem impressionado, teve momentos que até dava pra “sentir” um pouco da sujeira que pairava sob elas, tais como manchas e outros detalhes.

Lindo demais, não?

Algo bem legal também e de certa forma inédito na série é a mudança repentina de clima, do nada pode começar a chover e muda todo o tom da cidade, dando um aspecto bem realista. A trilha sonora é outro primor, faixas emocionantes(apesar de algumas recicladas), as já tradicionais músicas de Karaôke e até musicas que podemos ouvir em nosso celular enquanto andamos pela cidade, recomendo fortemente ouvir episódios de um podcast que libera conforme vamos avançando na história, só que vai exigir entendimento de inglês auditivo pois não há legendas.

Falando em legendas, o jogo conta com pt-BR e ficou muito boa, parabéns para a equipe de localização. A dublagem eu joguei em japonês e não tem muito o que falar, ela é perfeita, a melhor que já vi nos videogames… já não posso dizer a mesma coisa da dublagem em inglês que honestamente não tive nem vontade de experimentar.

RIQUEZA INFINITA

Like a Dragon: Infinite Wealth é o melhor jogo já feito pela SEGA, ponto. Uma trama muito bem escrita, personagens memoráveis, gameplay robusto e viciante são apenas alguns dos pontos-chave desse produto desenvolvido com um carinho imenso e que com certeza será um dos melhores jogos desse ano, não importando o quão bom seja 2024.

Você precisa jogar esse jogo. Daria nota 11 se pudesse!

David Signorelli