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Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City – A tal da “fidelidade” aos games

No ano de 2002 recebíamos a primeira adaptação da querídissima franquia da Capcom, Resident Evil, para os cinemas. Com produção da Screen Gems e direção de Paul W. S. Anderson, o filme conseguiu ser um sucesso de bilheteria, arrecadando quase 103 milhões de dólares ao redor do mundo a partir de um orçamento de 33 milhões, e é claro que todo esse sucesso não passaria em branco. Nos anos seguintes recebemos mais cinco sequências, gerando mais de 1 bilhão de dólares em bilheteria no total.

Mas é claro que toda essa franquia sempre foi muito divisiva, com certas pessoas adorando e outras… nem tanto (como esse que vos fala). Vou ser bem sincero aqui, nunca consegui enxergar a essência de Resident Evil nesses filmes, eu entendo que adaptações sempre trazem diferenças do produto original, mas as alterações aqui sempre me incomodaram e nunca consegui apreciar. Para se ter uma ideia, até tentei assistir Resident Evil: O Capítulo Final, mas com apenas cinco minutos de filme eu desisti e fui fazer outra coisa.

E após esse tal “capítulo final”, o que poderia vir? O de sempre, um reboot. Novamente com produção da Screen Gems e distrubuição da Sony Pictures, estamos recendo agora Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City, em uma tentativa de realizar um filme mais fiel aos jogos, e eu não estou tirando isso da minha cabeça, já que isso foi dito pelo próprio diretor, Johannes Roberts. Mas será que isso realmente aconteceu, ou foi apenas conversa para boi dormir? Vamos descobrir!

Fiel aos jogos? Pois então…

Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City adapta os acontecimentos dos dois primeiros games, porém já temos um enorme problema aí, as diferenças na cronologia. Para quem não sabe, Resident Evil 2 se passa dois meses após o primeiro game, porém no filme ambos se passam ao mesmo tempo, na mesma madrugada. Isso cria diversos problemas tanto para o filme, quanto para o “futuro” desse universo. Novamente, eu entendo que essas alterações acontecem nas adaptações, mas quando as mesmas são muito bruscas que nem essa, aí sim eu fico incomodado.

Fazer os eventos dos dois primeiros games se passarem simultamente foi uma péssima ideia…

Sinto que fazer espécies de “flashbacks” dos acontecimentos na Mansão Spencer enquanto o foco principal fica em Leon e Claire talvez fosse mais interessante, já que acompanhar ambos os acontecimentos simultaneamente faz com que muitos detalhes das tramas dos dois jogos simplesmente se percam ali no meio, inclusive detalhes importantes. Muitos pontos marcantes que fariam toda a diferença não estão aqui, mas não irei entrar em detalhes sobres os mesmos já que essa é uma análise spoiler-free.

E se não bastasse isso, podemos chegar a conclusão de que todos os acontecimentos de Resident Evil 3, incluindo a existência do nosso querido Nemesis, simplesmente nunca ocorreriam no universo desse filme, o que é uma pena e torna a afirmação de “fidelidade” ainda mais questionável. Alguns acontecimentos do filme fazem com que a trama de outro game também se tornasse impossível de existir em um futuro próximo, ou se existisse seria totalmente alterada do material original.

Certo, mas e sobre a trama do filme? Sinto em dizer que a mesma é completamente corrida, já que o mesmo possui a duração de 107 minutos, e cá entre nós, adaptar os acontecimentos dos dois primeiros games em menos de duas horas é algo basicamente impossível. Tudo acontece muito rápido e ambas as histórias são resumidas, mas de uma forma que não consegue ser totalmente coerente. Para falar a verdade, o primeiro ato até que segue de forma lenta, tentando (só tentando mesmo) apresentar os personagens e a cidade de Raccoon City, porém quando o segundo ato chega, parece que o filme percebe que ainda há diversas coisas para serem mostradas e que seguindo nesse ritmo seria impossível, e é aí que tudo vai acontecendo na velocidade da luz.

A reação de quem acabou de perceber como o filme é corrido.

O filme até consegue adaptar alguns momentos dos games, e esses acabam sendo muito bacanas. A sensação de nostalgia até conseguiu me alcançar quando vi essas cenas, mas logo acontecia algo que me desconectava ou então mais uma alteração do material original. Agora se tratando dos dois lados da história, acompanhar Leon e Claire em muitas das vezes era mais interessante que seguir a história da equipe Alpha, e quase sempre que o filme se dirigia para a Mansão Spencer, eu torcia para que o mesmo voltasse para a cidade de Raccoon City o mais rápido possível.

Nem os personagens conseguiram escapar dos problemas de Bem-Vindo a Raccoon City. Quando os atores foram escalados, muitas pessoas reclamaram sobre as suas aparências, falando que eram totalmente diferentes dos seus personagens. Vou ser bem sincero, não acho que isso seja um problema desde que a personalidade dos mesmos seja fiel, mas adivinhe: isso não acontece. A grande maioria dos personagens são totalmente descaracterizados, se diferenciando completamente dos seus equivalentes nos games, e eu sinto que isso é que realmente nos desconecta, e ter alguma compaixão pelos mesmos se torna algo basicamente impossível. Eu simplesmente não consigo enxergar os mesmos personagens dos games aqui nesse filme, não consigo (com exceção de Chris e Claire, que ouso dizer que sejam os mais parecidos).

Se tem algo que incomodou muitas pessoas quando o trailer foi lançado, com certeza foram os efeitos especiais. Eu até tinha esperanças de que com o lançamento do filme o CGI fosse melhorado e melhor acabado, mas novamente, isso não aconteceu. Devo admitir que sou completamente chato nesse quesito, qualquer efeito que seja levemente questionável já me incomoda, mas aqui vamos ao próximo nível e meus amigos, a situação é tosca! Desde alguns inimigos até algumas mortes, temos um CGI que quase nunca convence, e isso é um enorme problema já que estamos falando de detalhes que simplesmente exigem bons efeitos especiais, já que realizar de forma prática seria basicamente impossível na grande maioria dos casos. E de efeitos práticos já não basta os zumbis que aparentam terem sido maquiados por aquela tia aposentada que deve ter recebido um cafézinho como cachê.

Tenho quase certeza de que ele está dizendo: “Eu não pago vocês para fazerem um CGI tosco desse jeito!”

“Ahh, mas as cenas de ação devem ser boas, né?” Errado. São pouquíssimas durante todo o filme, e quando as mesmas acontecem, duram questão de segundos. Em boa parte do tempo presenciamos diversos diálogos, e isso não é necessariamente um problema, mas ficamos esperando boas sequências de ação que quase nunca acontecem, dando aquela sensação de que simplesmente não souberam como criar boas sequências com zumbis.

No quesito ambientação, o filme entrega boas recriações de alguns locais clássicos dos games, como a RPD (delegacia de Raccoon City), o orfanato (que é basicamente fiel ao que vimos no remake do 2), e a Mansão Spencer, mas ainda há um enorme problema nesse meio: todo o restante de Raccoon City. A cidade aparenta ter o tamanho de um bairro, e sabe aquelas cidades cinematográficas que foram muito utilizadas em filmes antigos ou então de baixo orçamento? Pois então, é exatamente a sensação que temos aqui, o que acaba sendo muito triste.

Veredito… se é que precisa de um

Não vou mentir, mesmo com todos esses problemas até que Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City conseguiu me entreter durante toda a sua exibição, mas ao colocar todos os seus prós e contras na balança, é fácil ver como a situação fica complicada. Toda aquela conversa de que o filme seria mais fiel ao game parece ter se perdido em algum lugar, e o que recebemos foi sim um filme bem mais parecido aos games se comparado com os de Paul W. S. Anderson, mas que ainda deixa a desejar em diversos aspectos e altera completamente diversos acontecimentos importantes.

Entendo que o orçamento deve ter sido um enorme empecilho durante o desenvolvimento do filme, já que foi de apenas 25 milhões dólares, um valor que para nós, meros mortais, é mais do que muito possivelmente vamos receber durante toda nossa vida, mas que para uma produção como essa é bem abaixo do esperado, porém temos ainda a impressão de que mesmo com um baixo orçamento, diversos quesitos do filme poderiam ser melhor explorados e realizados. É uma diversão sem compromisso, mas que poderia ser muito melhor.

(E nunca vou perdoar a inexistência do nosso querido Nemesis nesse universo…)

Lucas Nunes
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